Portugal 2040…

O futuro constrói-se sempre no presente, pois é nele que fazemos as nossas escolhas, face às alternativas com que somos confrontados e aos desafios que soubermos aceitar e vencer.

Em 2040, que país será Portugal?

Em 2040, o sistema político português manter-se-á igual ao que existe, hoje? Os atuais partidos continuarão a ocupar, exclusivamente, todo o espaço político? O sistema eleitoral continuará a funcionar em condomínio fechado reservado aos partidos políticos? Os atuais círculos eleitorais continuarão a remeter os territórios do interior a uma representação residual no parlamento? Os eleitores continuarão a não poder votar, de forma personalizada, nos seus representantes na Assembleia da República? Os municípios terão assumido mais responsabilidades nas funções sociais do estado, em particular em áreas vitais como a saúde, educação e a solidariedade social e essa possível realidade terá induzido maior coesão territorial?

Em 2040, que evolução terá ocorrido no Serviço Nacional de Saúde (SNS)? Teremos evoluído para um sistema de saúde exclusivamente constituído por instituições públicas ou o desenvolvimento terá determinado um sistema participado por instituições públicas, privadas e sociais que cooperam, de forma articulada e complementar? Conseguiremos elevar os níveis atuais de qualidade do SNS, através de uma fórmula sustentável do seu financiamento e da melhoria significativa na eficiência da sua gestão ou será confirmada a narrativa da inevitabilidade da degradação do serviço público?

Em 2040, teremos um sistema educativo que comparará com os melhores ou continuaremos a ter, na Educação, um campo de batalha permanente e contaminado pelo universo de preconceitos ideológicos que, nele, se têm confrontado? Teremos sido capazes de renovar a classe docente e de, nela, contar com os melhores e mais qualificados jovens estudantes da atualidade? Teremos erradicado o abandono escolar? Conseguiremos reduzir, a níveis residuais, as taxas de insucesso escolar? As escolas e os centros de formação públicos e as escolas privadas terão conseguido criar uma rede coerente e complementar, em cada território, que disponibilize, a todos os portugueses aí residentes, uma oferta de qualificação que não seja redundante, competitiva e autofágica, como acontece atualmente?

Conseguiremos elevar os níveis atuais de qualidade do SNS, através de uma fórmula sustentável do seu financiamento e da melhoria significativa na eficiência da sua gestão ou será confirmada a narrativa da inevitabilidade da degradação do serviço público?

Em 2040, os sistemas científico e de ensino superior estarão, estrategicamente, no centro de gravidade do desenvolvimento humano, social e económico do país? Teremos sido capazes de criar um ecossistema científico e de formação superior que esteja sintonizado com as necessidades dos portugueses e do país e que contribua para a coesão social e territorial? Seremos líderes da produção do conhecimento em áreas como as energias renováveis, a agricultura, o ambiente, o património, a digitalização, o envelhecimento ativo, o desenvolvimento sustentável e outras, nas quais somos, hoje, confrontados com desafios de grande amplitude e nas quais Portugal possui uma coordenada estratégica e privilegiada?

Em 2040, o sistema de segurança social terá sobrevivido ao envelhecimento e às alterações laborais que estão a ocorrer? A solidariedade social continuará alicerçada num contrato social entre as diferentes gerações ou cada um ficará responsável por si mesmo? As situações de pobreza terão sido erradicadas? Que empregos existirão e que direitos a eles estarão associados? A depressão demográfica terá ditado as suas leis ou teremos sido capazes de criar soluções que a terão mitigado e invertido? Os portugueses terão continuado a sair do seu país ou teremos sido capazes de equilibrar os movimentos migratórios? O interior terá colapsado ou o país terá sido capaz de criar um modelo de desenvolvimento mais coeso e equilibrado?

Em 2040, seremos um país autossuficiente, energeticamente, resultado da nossa capacidade de rentabilizarmos os recursos endógenos, em particular os renováveis? A nossa indústria agroalimentar gerará uma parte maioritária das nossas necessidades, como consequência de acertados investimentos em áreas estratégicas, nas quais o nosso potencial é evidente?

Em 2040, teremos sido capazes de contribuir para a consolidação definitiva de um espaço lusófono alicerçado numa das línguas mais faladas do mundo? Existirá uma efetiva comunidade de países e de povos na qual exista livre circulação de pessoas e onde seja possível a convergência estratégica, nas dimensões cultural, económica e política?

Em 2040, continuaremos fieis aos valores da liberdade, da democracia, da solidariedade e dos direitos humanos ou teremos cedido aos populismos que, hoje, despontam? A Europa continuará a ser uma geografia física e humana de paz e de liberdade ou não terá resistido aos impulsos desviantes que hoje a minam? As migrações terão concorrido para o encontro de pessoas de diferentes origens que conseguem construir destinos comuns ou terão concorrido para o aprofundamento das fraturas humanas e a edificação dos muros políticos?

Em 2040, viveremos no que hoje quisermos ou formos capazes de construir. O futuro constrói-se sempre no presente, pois é nele que fazemos as nossas escolhas, face às alternativas com que somos confrontados e aos desafios que soubermos aceitar e vencer.

2040 será, pois, o resultado do que, hoje, decidirmos!

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.