Aventuras de El Cid Campeador contadas pelo jovem Antara

Faz, com grande rigor, uma ponte temporal, entre passado e presente, entre espaços próximos e distantes, detém-se em caminhos, lendas, cultura, costumes, arquitectura, arte, política, estratégia militar...

Quando estive em Burgos, ainda há pouco tempo, fiz questão de visitar a estátua de El Cid Campeador, herói que conhecia de uma antiga banda desenhada. A estátua é, de todos os pontos que se observe, imponente, dinâmica, magnífica. O bronze em que foi feita carrega-lhe a sobriedade. Cavalo em pose de corrida, cavaleiro de capa ao vento e espada em punho enfrentam, com determinação e valentia, o que quer que aconteça. Inaugurada em 1955, depura o mito de Rodrigo Díaz de Vivar e engrandece-o, fixa uma ideia que, ao tempo, se quis guardar para a eternidade deste cavaleiro castelhano do século XI.

Pela mesma altura, recebi da parte de colegas do “Grupo de Investigación Educación, Cultura y Territorio” da Universidade da Extremadura, o segundo volume de uma trilogia que têm em mãos sobre este herói. Sendo destinada a crianças e jovens, os adultos também aprendem com ela. Foi o meu caso: a ideia que tinha de El Cid era, reconheço, bastante vaga.

Antes de mais, apresento a equipa envolvida no trabalho: os autores dos textos são Ramón Tena Fernández, David Porrinas González, José Soto Vázquez, Ramón Pérez Parejo, Francisco J. Jaraíz Pilar Cantillo (da Universidade ds Zaragoza) e Alberto Montaner Frutos (da Universidade ds Zaragoza); a ilustradora é Celia Conejero Jarque. Colaboraram especialistas de história, sociologia, património, psicologia. Estão também envolvidas entidades financiadoras – duas fundações e o Consórcio Camino del Cid. A publicação é do Instituto de Estudos Turolenses em colaboração com a Imprensa da Universidade de Zaragoza e a editora Dykinson.

São necessárias tantas pessoas e entidades quando, passados dez longos séculos, se assume a responsabilidade de dar a conhecer, a um público infanto-juvenil, as pegadas de Rodrigo Díaz de Vivar, até porque elas nada têm de linear: o conquistador destemido que nunca cede, mesmo face a adversidades inultrapassáveis, as vitórias atrás de vitórias são, de facto, ingredientes dos mitos medievais, mas bem sabemos como estão afastadas de qualquer realidade.

Na realidade que foi a sua, Rodrigo Díaz de Vivar ter-se-á movimentado entre cristãos e mouros, com glórias e derrotas, discórdias e alianças, liberdade e prisão; parece certo que conheceu o domínio e o desterro, o descanso e o perigo, a traição e a lealdade, o medo e a coragem. É o que consta no “El Cantar de Mío Cid”, tido como o mais antigo poema épico espanhol, que lhe é muito posterior. Por isso, disse um dos autores da trilogia: El Cid, “é possivelmente a personagem histórica espanhola mais conhecida dentro e fora das nossas fronteiras. Isto obedece a uma complexa e contínua conversão da pessoa em lenda e mito.”

Na realidade que foi a sua, Rodrigo Díaz de Vivar ter-se-á movimentado entre cristãos e mouros, com glórias e derrotas, discórdias e alianças, liberdade e prisão; parece certo que conheceu o domínio e o desterro, o descanso e o perigo, a traição e a lealdade, o medo e a coragem.

É em torno dessa conversão que surgem os três volumes a que me refiro: o primeiro saiu em 2023 com o título El Cid Campeador, aventuras por tierras de Teruel; o segundo saiu em 2024 com o título Albarracín, la encrucijada del Cid; o terceiro sairá a meio ano que corre.

O leitor vai-se aproximado da personalidade, façanhas e circunstâncias do herói, através do olhar estrangeiro de Antara, um rapaz sírio de dez anos, refugiado na província de Teruel, por onde El Cid passou com o seu exército em direção a Valência, cidade que conquistou, da qual se tornou governador e onde veio a falecer.

Em cada livro, Antara conta no seu diário a aventura em que se envolve num determinado lugar – até agora, Teruel e Albarracín –, a qual está ligada à aventura em que El Cid se envolveu em cada um desses lugares. Faz, com grande rigor, uma ponte temporal, entre passado e presente, entre espaços próximos e distantes, detém-se em caminhos, lendas, cultura, costumes, arquitectura, arte, política, estratégia militar… Mais não conto para não estragar a surpresa do leitor.

Em suma, através de palavras e de ilustrações cuidadas – o produto final é excelente! –, a trilogia revisita a condição humana e as suas muito universais virtudes e fraquezas. Espera-se que chegue às escolas e seja dada a ler e a explorar aos alunos de Espanha, de Portugal ou de outro país, pois os heróis, nossos e/ou alheios, servem precisamente para o que acabo de dizer, na esperança de que isso constitua uma valia para a sua formação.

 

 

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.