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A combinação do que é único e bom com as perspetivas para o futuro do país deixa muitos de nós paralisados. Onde é que os nossos filhos ficam melhor, cá ou lá?

Daqui a um mês entro a sério nos 40. Faço 41 anos. 40 ainda tem graça, é um número redondo, tem alguma novidade. 41 já não tem muita graça e já não dá para se dizer que se é jovem.

E esta é uma data importante porque me preparo (e nos preparamos, como família) para reafirmar uma dimensão que me (nos) define. Sou pai, sou filho, sou português, sou professor e sou emigrante. Depois de dois anos de volta a casa, em modo de semi-confinamento, voltamos este verão para o país que nos recebeu, em que trabalhamos e estudamos.

É estranha a condição de emigrante. Estamos gratos ao país que nos acolhe, no nosso caso os Estados Unidos, temos lá a nossa casa, amigos e muita da nossa vida, mas o nosso país continua a ser Portugal.

É estranha a condição de emigrante. Estamos gratos ao país que nos acolhe, no nosso caso os Estados Unidos, temos lá a nossa casa, amigos e muita da nossa vida, mas o nosso país continua a ser Portugal. Quando falamos de cá vir dizemos, invariavelmente, que vimos a casa. Eu gosto de ver desportos americanos, mas dou por mim a gritar com os penáltis do Ronaldo e as defesas do Rui Patrício como não grito com nenhum touchdown.

As comunidades de emigrantes portugueses têm uma boa imagem nos países de acolhimento: somos gente trabalhadora, honesta e competente. Essa comunidade hoje é uma comunidade diversa, em que se incluem trabalhadores, empresários, artistas, investigadores e, também, muitos académicos como eu. Muita desta emigração recente pergunta-se, talvez semanalmente, se podia ou devia regressar a Portugal definitivamente. E nesta dúvida permanente a visão de um emigrante é talvez mais extrema (mais clara?) do que a que eu vejo exprimida localmente.

Por um lado, um emigrante aprecia o que Portugal tem de bom, mesmo quando quem cá vive se esquece. Saímos do aeroporto, no nosso caso o de Lisboa, e ficamos fascinados com a luz, a calçada, o rio e o mar na marginal. Vimos com saudades de tudo, certamente da família e da comida, mas também dos maneirismos nas lojas, de alguma loucura no trânsito e dos nossos telejornais. Alguma música nacional é muito boa, temos artistas extraordinários e empresas que impressionam pela positiva.

Mas é inevitável ver também os problemas e a forma como eles se perpetuam. Já passaram mais de quinze anos desde que eu saí de Portugal e, à exceção de um enorme aumento do turismo e de uma melhoria clara das zonas antigas das cidades, não é fácil encontrar grandes diferenças no dia-a-dia e na qualidade de vida dos portugueses.

Mas é inevitável ver também os problemas e a forma como eles se perpetuam. Já passaram mais de quinze anos desde que eu saí de Portugal e, à exceção de um enorme aumento do turismo e de uma melhoria clara das zonas antigas das cidades, não é fácil encontrar grandes diferenças no dia-a-dia e na qualidade de vida dos portugueses. Há alguns projetos notáveis, como por exemplo o da Nova SBE em Carcavelos, que tem a ambição certa e condições para funcionar bem. Mas, ainda assim, fica-se com a sensação de oportunidades perdidas; parece que, nas últimas décadas, o país não se aproximou dos outros países europeus depois de ter estado na trajetória certa. Os números mostram isso, em particular no que diz respeito à produtividade e aos rendimentos dos portugueses, mas não encontro no discurso político a preocupação que os dados deviam suscitar.

É possível ser otimista e acreditar em Portugal? O que será a vida de um jovem adulto que queira construir uma carreira de sucesso em Portugal no ano 2040, em que a proporção de idosos assume uma dimensão assustadora?

A combinação do que é único e bom com as perspetivas para o futuro do país deixa muitos de nós paralisados. Onde é que os nossos filhos ficam melhor, cá ou lá? É possível ser otimista e acreditar em Portugal? O que será a vida de um jovem adulto que queira construir uma carreira de sucesso em Portugal no ano 2040, em que a proporção de idosos assume uma dimensão assustadora? Será que com a ajuda da Europa conseguimos inverter o que foram os últimos 20 anos de relativa estagnação? É que, se eu pudesse escolher, preferia que os meus filhos também gritassem por Portugal como eu grito, e se sentissem tão portugueses como eu.

Para o ano faço 42. De acordo com Douglas Adams no “The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy”,  42 é a resposta para a “o significado da vida, do universo, e de tudo”. Logo veremos se quando lá chegar fico mais esclarecido.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.