A Super terça-feira e uma super segunda-feira na politica americana

Olhando para as restantes primárias que se hão de realizar, há três resultados prováveis, mas é inteiramente possível que nem Biden nem Sanders ganhem os 1.991 delegados necessários.

Durante cada eleição presidencial, a Super Tuesday (Super terça-feira) é um momento de alto risco para os candidatos que concorrem ao mais alto cargo político dos Estados Unidos. Catorze estados, mais a Samoa Americana, realizam as suas primárias na Super terça-feira. Os delegados eleitos nesse dia representam cerca de um terço do número total de delegados a ser escolhidos em todas as primárias. Como os candidatos procuram recolher delegados suficientes para ganhar a nomeação do seu partido, a Super terça-feira representa uma oportunidade privilegiada. Os candidatos que se saírem bem nesta ocasião podem manter a esperança e esforçar-se por reunir delegados suficientes para se tornarem os nomeados do seu partido para as Presidenciais de novembro.

Nas eleições primárias americanas, os votos que os candidatos recebem em cada estado são traduzidos em delegados na convenção nacional do seu partido. Os delegados que cada candidato conquista nas eleições primárias de cada estado são obrigados a votar nele, na primeira votação durante a convenção. Normalmente, há sempre um candidato que adquire delegados suficientes para ganhar a nomeação na primeira votação da convenção.

Este ano, os resultados da Super terça-feira foram, em grande parte, determinados na véspera. Na segunda-feira, 2 de março, o Presidente de Câmara Pete Buttigieg, a Senadora Amy Klobuchar e o Congressista Beto O’Rourke apoiaram o ex-Vice-Presidente Joe Biden. Klobuchar tinha acabado de suspender sua campanha naquele mesmo dia, e Buttigieg tinha feito o mesmo no domingo anterior. O’Rourke desistira da corrida em novembro. O apoio recebido desses três ex-rivais na véspera do maior dia das primárias deu um renovado impulso à campanha de Biden.

Os candidatos que se saírem bem nesta ocasião podem manter a esperança e esforçar-se por reunir delegados suficientes para se tornarem os nomeados do seu partido para as Presidenciais de novembro.

Após resultados dececionantes nas primárias de Iowa e New Hampshire, as duas primeiras do ano, a campanha de Biden parecia estar a afundar-se. No entanto, uma vitória decisiva nas eleições primárias da Carolina do Sul, no sábado anterior à super terça-feira, trouxe à candidatura de Biden um ânimo renovado, resgatando-a daquilo que parecia ser a sua inevitável extinção. Com o apoio de três dos seus antigos rivais, a campanha de Biden entrou na Super terça-feira com grande energia, apoio da imprensa e otimismo.

O senador Bernie Sanders, o outro candidato principal nas primárias democratas, já tinha obtido grandes resultados nas primárias de Iowa e New Hampshire. Embora tenha ficado bem atrás de Biden nas primárias da Carolina do Sul, Sanders entrou para a Super terça-feira como o primeiro colocado entre os candidatos democratas.

Na dia 3 de março Biden venceu as primárias no Alabama, Arkansas, Massachusetts, Maine, Minnesota, Carolina do Norte, Oklahoma, Tennessee, Texas e Virgínia. Sanders venceu na Califórnia, Colorado, Utah, e Vermont. Mike Bloomberg, o ex-presidente da câmara de Nova Iorque, ganhou na Samoa Americana. A senadora Elizabeth Warren, outra candidata democrata, não venceu nenhuma das primárias. Após a Super terça-feira, Bloomberg e Warren suspenderam as suas campanhas. Bloomberg endossou Biden, enquanto Warren não endossou nem Biden nem Sanders.

Com estes resultados, Biden é agora o favorito  das primárias democratas. Dos 1.991 delegados necessários para garantir a nomeação, Biden elegeu 667. Sanders tem 573. A congressista Tulsi Gabbard, do Havai, também mantém a sua candidatura. No entanto, tem apenas dois delegados e é muito improvável que ganhe algum impulso nas próximas primárias.

Olhando para as restantes primárias que se hão-de realizar, há três resultados prováveis. Biden poderá continuar a ganhar impulso e ganhar delegados suficientes para se tornar o nomeado dos Democratas. Sanders também poderia ganhar delegados suficientes para garantir a nomeação. A terceira possibilidade, porém, é a mais dramática. É inteiramente possível que nem Biden nem Sanders ganhem 1.991 delegados. Neste caso, caberia aos delegados na Convenção Nacional Democrática decidir o nomeado durante a convenção. Como já disse, cada delegado é obrigado a votar no seu candidato designado somente na primeira votação. Se nenhum candidato receber a maioria dos votos nesse primeiro escrutínio, os delegados são livres para votar em quem quiserem nas votações seguintes. Desde 1952 que isso não acontece em nenhum dos partidos políticos americanos.

Caso isso acontecesse, os antigos candidatos, como Warren, Buttigieg e Klobuchar, poderiam vir a tornar-se muito influentes para ajudar um candidato a recolher delegados suficientes para ganhar a nomeação. É ainda digno de nota o facto de o presidente Barack Obama ter permanecido muito discreto durante as campanhas para as primárias deste ano. Embora não tenha apoiado nenhum dos candidatos, Obama poderá vir a desempenhar um papel fundamental se a convenção se vier a tornar num debate sobre quem deverá ser nomeado.

O Presidente Trump não tem nenhum sério adversário nas primárias, e, portanto, será certamente o candidato nomeado pelo Partido Republicano.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.