Uma caminhada com duas presenças

Ao longo do nosso caminho são vários os momentos, as pessoas, as experiências, que nos permitem olhar e ver Deus, e que importante é sabermos cultivá-las para vivermos focados no essencial, a alegria do encontro com Jesus.

O evangelho de hoje, no encontro na estrada para Emaúz, é talvez a representação perfeita das diferentes fases do percurso de fé, em que se pode encontrar um caminho com duas presenças distintas de Jesus.

O evangelho começa com a caminhada de dois discípulos que perante o acontecimento da morte de Jesus, partem tristes até Emaús, enquanto discutem entre si o que viveram. Apesar de desanimados, este é um caminho que fazem juntos – o que pode ser uma referência à fé vivida em comunidade e ao importante que é sabermo-nos acompanhar uns aos outros. Mais ainda, estão acompanhados por Jesus, que se faz presente, perante o desalento dos discípulos. Contudo, estando tão envolvidos no que tinham acabado de viver, não são capazes de reconhecer a Sua presença. Também nós, não raras vezes, temos as lentes do nosso olhar desajustadas aos critérios de Jesus e é-nos difícil reconhecer a Sua presença no nosso quotidiano – ‘Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem’. Perante isto, Jesus desafia-nos e questiona-nos – ‘Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?’.

Também nós, não raras vezes, temos as lentes do nosso olhar desajustadas aos critérios de Jesus e é-nos difícil reconhecer a Sua presença no nosso quotidiano – ‘Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem’.

Jesus recorda-nos a nossa condição limitada – ‘Homens sem inteligência e lentos de espírito’ –, e por nossa necessidade faz-se mais próximo, e recorda aos discípulos a Sua mensagem de Amor partilhada já há vários séculos explicando-lhes as escrituras.

Permanece com eles até que lhes seja evidente a Sua identidade, com o partir do pão. Ao repetir este gesto simbólico de se dar aos outros, Jesus abre-lhes a vista e o coração para a eternidade. Este momento é a fonte de entendimento, é a fonte da verdadeira alegria, o reconhecimento de um Deus vivo que vence a Morte, e que lhes confirma o que as mulheres já lhes tinham dito.

Ao longo do nosso caminho são vários os momentos, as pessoas, as experiências, que nos permitem olhar e ver Deus, e que importante é sabermos cultivá-las para vivermos focados no essencial, a alegria do encontro com Jesus. Este é o horizonte da nossa vida: estar hoje, já, agora com Jesus, no tempo presente, que como o próprio indica nos é dado em cada amanhecer.

Este é o horizonte da nossa vida: estar hoje, já, agora com Jesus, no tempo presente, que como o próprio indica nos é dado em cada amanhecer.

Não estando Jesus já entre eles, a Sua presença permanece, é um encontro de tal modo marcante que, leva-os a anunciar a Sua vida, coloca-os desde logo em movimento. Os dois discípulos voltam a caminhar – ‘partiram imediatamente de regresso a Jerusalém’.

Que neste tempo Pascal o nosso olhar esteja atento a este Deus que se revela onde menos esperamos, o que permite que vivamos a alegria do Seu encontro e que saibamos ser mensageiros deste encontro que preenche, que dá vida.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.