A natureza como caminho

Um projeto que procura, através da conexão com a Natureza, a integração sensorial adaptada a contextos reais.

A Pedagogia Inaciana e uma tradição educativa

Fruto de 400 anos de experiência e reflexão contínua, a Pedagogia Inaciana tem uma visão e intencionalidade pedagógica com muito a aportar ao mundo da educação dos dias de hoje.

Na base desta orientação pedagógica encontramos dois documentos: “Características da Educação da Companhia de Jesus” e a “Pedagogia Inaciana. Uma proposta prática.”, promulgados pelo Superior Geral dos Jesuítas em 1986 e 1993, respectivamente. A partir deles, retiramos as grandes metas da Pedagogia Inaciana que se traduzem em duas expressões consagradas: “Formar homens e mulheres para os outros”, da autoria do P. Pedro Arrupe e “Formar pessoas conscientes, competentes, compassivas e comprometidas” da autoria do P. Peter-Hans Kolvenbach.

A partir daqui podemos já intuir que a finalidade desta Pedagogia é ser bem mais do que um conjunto de métodos, é ser uma lente pedagógica sobre a qual vemos todo o processo educativo, é a bússola no caminho de “ajudar a formar o ser humano, através do processo educativo e reconhecimento da sua dignidade, da sua filiação divina e da sua vocação a ser.”

Nas Notas Introdutórias do PPI são apresentadas algumas pistas que nos indicam que estamos perante uma lente que acompanha a realidade em contínua transformação e adaptação:

  • Uma Pedagogia Humana e Universal inspirada pela fé que sendo profundamente humana e universal chega a todos, todos, todos;
  • Um método eclético, enriquecido pela experiência de uma pedagogia que tem inscrita na sua origem a busca e análise dos melhores métodos de ensino-aprendizagem atualizados a cada momento de acordo com a investigação e evolução científica;
  • Atenção individualizada a cada aluno e sensibilidade afinada a tudo o que está implicado no processo de ensino-aprendizagem e no amadurecimento de cada pessoa;
  • Uma pedagogia aberta, aberta aos tempos, aberta a novos métodos, nomeadamente psicopedagógicos e educacionais, que melhor concorram, a cada momento, para o cumprimento da melhor formação integral, intelectual, social, moral e religiosa;

Ainda nas Notas mas já com um tão grande desafio em mãos o objetivo é claro, a lente é límpida, mas quais serão os melhores meios?

A natureza como caminho

Na educação pré-escolar encontramos um contexto incrivelmente favorável para a aplicação destes princípios, não só pela flexibilidade e abertura que as orientações curriculares nos oferecem mas também pela facilidade de experimentação de novos métodos. Na APINA – Associação Pró-Infância Nuno Álvares, parte integrante do Complexo Educativo do Colégio das Caldinhas, fundada em 1978, procura-se cada vez mais a integração de metodologias validadas que favoreçam, desde o berço, o conhecimento e exploração de si mesmo, do outro e do mundo, ao seu ritmo, respeitando e potenciando a identidade de cada um como um ser amorosamente criado por Deus.

Na APINA – Associação Pró-Infância Nuno Álvares, parte integrante do Complexo Educativo do Colégio das Caldinhas, fundada em 1978, procura-se cada vez mais a integração de metodologias validadas que favoreçam, desde o berço, o conhecimento e exploração de si mesmo, do outro e do mundo, ao seu ritmo, respeitando e potenciando a identidade de cada um como um ser amorosamente criado por Deus.

Neste sentido, no último ano tem-se desenvolvido uma ligação próxima com o Aprende na Floresta, um projeto educativo que reúne um conjunto de programas e atividades de aprendizagem na natureza. Fundadas na metodologia Forest School, com o objetivo de “reforçar a ligação das crianças e/ou adultos à natureza, às suas emoções, atitudes e crenças, tornando-as mais conscientes, resilientes, confiantes, independentes e criativos”. Um projeto que procura, através da conexão com a natureza, a integração sensorial adaptada a contextos reais. Esta conexão é feita a partir do conhecimento do mundo físico e natural através do contacto com seres vivos e outros elementos naturais, da sua observação e contemplação, da reflexão e análise da sua transformação.

Todos estes elementos são fundamentais no processo de aprendizagem com sentido. No fundo, trazer a natureza para a escola e, recentemente, fazer da imersão na natureza a própria escola. Com recurso a ferramentas de trabalho que exigem correr riscos calculados, dando tempo e espaço ao desenvolvimento da autonomia, sustentada na experiência e no exercício da própria confiança, auto-estima, cooperação, flexibilidade, aceitação, tudo o que a natureza nos pede. Uma aprendizagem a partir da vida e para a vida. Num crescente envolvimento cognitivo, experiencial e afetivo, cultivando um sentido de pertença para com o lugar, e a partir daí com o próprio, com os outros e o com mundo. Um sentido de pertença promotor daquilo que é a responsabilidade pessoal no todo social, aumentando a “consciencialização para a importância do papel de cada um na preservação do ambiente e dos recursos naturais.”

Num momento da história da humanidade em que somos cada vez mais chamados a um olhar amoroso sobre o espaço que nos rodeia, a educação para a responsabilidade e “manifestação de comportamentos de preocupação com a conservação da natureza e respeito pelo ambiente”, passa antes de mais pelo contacto próximo, pela experiência pessoal que leva ao estabelecimento de uma relação afetiva com o mundo que nos rodeia – “Nós mesmos somos terra (cf.Gn 2,7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta: o seu ar permite-nos respirar e a sua água vivifica-nos e restaura-nos.”.

 

Referências bibliográficas:

Carta do Padre-Geral a todos os Superiores Maiores da Companhia de Jesus

A Pedagogia Inaciana e a sua força impulsionadora: os Exercícios Espirituais 1 P. Luiz Fernando Klein, S.J.

“Características da Educação da Companhia de Jesus” e a “Pedagogia Inaciana. Uma proposta prática.”, promulgados pelo Superior Geral dos Jesuítas em 1986 e 1993

Carta Encíclica Laudato Si

Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.