Parar para avançar!

O fim do ano letivo é tempo de balanço e de paragem. Que bom seria se todas as crianças e todos os educadores tivessem a oportunidade de parar, questionar-se, tomar consciência dos erros, fazer escolhas e tomar decisões para depois avançar.

Por estes dias acaba o ano letivo e, por isso, pelo menos para quem tem crianças em casa, estas semanas que se seguem são um tempo de balanço e de paragem. E como é bom e importante parar para avançar!

O objetivo de parar deve ser esse mesmo, avançar, prosseguir, progredir. Temos de ter tempo para parar. Parar deve ser uma prioridade neste mundo que não dorme. Isto parece uma banalidade, mas não é. Há muitas pessoas que não param, nem querem parar, porque a paragem implica necessariamente um balanço e isso, às vezes, é doloroso.

Em qualquer paragem ou tempo de balanço progredimos através da qualidade das perguntas que nos fazemos e da honestidade das respostas que damos. Se não nos questionarmos, não nos corrigimos, não nos ajustamos e, seguramente, não avançamos.

Estão a chegar as notas e as reuniões de fim de ano entre pais e professores. É um momento de paragem e reflexão importante para todos. Era bom que todas as crianças e todos os educadores tivessem a oportunidade de fazer bem este processo: parar, questionar-se, tomar consciência dos erros, fazer escolhas/tomar decisões e avançar.

Neste fim de ano letivo, proponho-me a mim, aos meus filhos e às pessoas que me procuram enquanto assistente social, que dediquemos um tempo para parar e fazer perguntas sobre tudo o que passou, e assim, tentar perceber o que correu bem, o que não foi tão bom, o que correu mal, onde acertámos, onde errámos e onde não fizemos o suficiente para que os resultados pudessem ter sido melhores.

É bom todos percebermos que errámos ou que às vezes ficámos aquém do que queríamos ou podíamos. Hoje em dia, não se aceita o erro e o insucesso. Mas como podemos progredir sem errar? O que é que o insucesso nos ensina? Diz Tolentino Mendonça que precisamos de errar para errar melhor. Quer isto dizer que, aceitando que vamos sempre errar, podemos aprender com os erros e da próxima vez errar melhor, ou pelo menos, de forma diferente. As teorias do comportamento humano explicam isto mesmo, ou seja, no processo de mudança, o Homem muda mas (re)cai, só que, quando recai/torna a errar, nunca volta ao mesmo ponto.

É bom todos percebermos que errámos ou que às vezes ficámos aquém do que queríamos ou podíamos. Hoje em dia, não se aceita o erro e o insucesso. Mas como podemos progredir sem errar? O que é que o insucesso nos ensina.

Não há que ter medo de errar, o erro é parte integrante da mudança e é muito importante para nos conhecermos porque nós também nos definimos, como pessoas, quando erramos e na forma como lidamos com esse erro. Por isso, neste fim de ano letivo, vamos tentar reconhecer e lidar com o erro, com a adversidade, a frustração e assim teremos a capacidade de, daqui para a frente, fazer escolhas mais conscientes e avançar de forma diferente.

Se ajudarmos os alunos nesta capacidade de se questionarem face à realidade que viveram, aos resultados que alcançaram e aos objetivos a que se propuseram, eles vão olhar para as notas, não apenas como o retorno numérico do investimento feito numa determinada disciplina, mas como um indicador da forma como se entregaram e do esforço que puseram no processo de aprendizagem. Como mãe, e mesmo defendendo e percebendo a importância das notas quantitativas, mais do que a média alcançada, interessa-me sobretudo que os meus filhos reflitam e se questionem sobre as suas capacidades e sobre o esforço que fizeram durante o ano para pôr a render os dons que têm.

É por isto, e porque os meus filhos são realmente muito diferentes entre eles, que lá em casa decidimos não premiar, nem castigar, em função das notas. Por trás da simplicidade de um número numa pauta há “um mundo” de diferentes circunstâncias para cada aluno. A nota dada pelo professor não esgota a avaliação que nós pais fazemos mas é um dos elementos dessa avaliação. Por isso, às vezes, quando reagimos de forma diferente a duas notas iguais de dois filhos, ouvimos a tão célebre expressão mas isso não é justo! E temos de começar toda uma reflexão sobre o que é a justiça na educação de pessoas com características e capacidades diferentes. Acabando por concluir que, nesta matéria das notas, o importante é mesmo refletir na quantidade e, principalmente, na qualidade do esforço que cada um fez, tendo em conta as capacidades que tem.

Por outro lado, como o ano letivo não se resume ”só” ao percurso escolar e às notas na pauta, devem os pais, também, verificar se os filhos cresceram em muitos outros aspetos além do académico, se aprenderam outras tantas “matérias” que não apenas as que estão nos livros.

A nota dada pelo professor não esgota a avaliação que nós pais fazemos mas é um dos elementos dessa avaliação. Por isso, às vezes, quando reagimos de forma diferente a duas notas iguais de dois filhos, ouvimos a tão célebre expressão mas isso não é justo!

Tenho a sorte de ter os meus filhos numa escola que se preocupa com isso, onde as matérias de português e matemática são tão importantes quanto o desenvolvimento da capacidade de questionar, refletir ou de argumentar, de trabalhar em equipa ou de expor com imaginação. Mas sei que não é assim em todo o lado.

Este balanço “escolar” que fazemos ao ano letivo dos nossos filhos põe em jogo também a nossa “prestação” de pais/educadores. É, principalmente, função das famílias perceber os talentos de cada um e pô-los a render, seja na escola, no desporto, nas artes, ou numa outra área qualquer. O balanço do fim do ano escolar abre, necessariamente, também um balanço “parental” sobre a forma como os pais se colocam perante o percurso de cada um dos seus filhos. Estão em jogo, normalmente, um conjunto grande de exigências e parâmetros a verificar, com a dificuldade de não haver uma pauta com notas para nos guiar.

Nesta paragem que os pais devem fazer para eles próprios avançarem, está em causa, essencialmente, a qualidade e quantidade de tempo investido no acompanhamento de cada um dos filhos, a análise das decisões que foram tomando, como ajudaram as fragilidades e pontos fortes de cada um, a habilidade (e a paciência!) para explicar os “sins” e “nãos” de todo este período, a capacidade de motivar e aceitar os contratempos e frustrações, o respeito pela diferença e individualidade, a autonomia e a liberdade e ainda a exigência de anteciparem situações, problemas e soluções, ou seja, ver mais além e tomar medidas estruturantes.

Neste fim do ano letivo façamos, pois, todos, um esforço por parar e, depois disso, venham de lá as férias!

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.