O Efeito Mozart

Tal como a respiração, a música tem ritmo, tensão e faz-nos sentir em liberdade; esta é a razão pela qual a maioria de nós ama a música, e pela qual a música é tão importante para a alma.

Wolfgang Amadeus Mozart nasceu a 27 de Janeiro de 1756 em Salzburg, faleceu em Viena a 5 de Dezembro de 1791. Batizado na igreja católica com o nome de Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart, foi um menino prodígio que se tornou num dos mais geniais e prolíficos compositores da era clássica. Mozart foi de tal forma genial, que nos seus trinta e cinco anos de vida compôs seiscentas e vinte seis grandes obras.

Nestas últimas décadas, a música tem sido cada vez mais utilizada para fins terapêuticos. Além de poder ser utilizada para efeitos de relaxamento, os especialistas acreditam na capacidade da música para ajudar as pessoas a superar alguns males do foro psíquico. Na minha opinião, a música poderá exercer influência benéfica a nível espiritual, no sentido do alívio de algumas enfermidades, e assim proporcionar uma melhor qualidade de vida. No que respeita a Mozart, especula-se que ouvir a sua música torna as pessoas mais inteligentes.

O conceito do “efeito Mozart” foi introduzido em 1991 pelo investigador Francês Alfred A. Tomatis. Segundo este autor, a audição e exposição às frequências da música de Mozart pode promover um melhor desenvolvimento do cérebro.

Em 1993, através de um teste QI de Stanford-Binet, os investigadores Rauscher, Shaw e Ky, observaram uma melhoria temporária do raciocínio de um grupo de alunos que tinha escutado música do referido compositor. Realçaram, no entanto, que esse efeito benéfico da música foi apenas temporário e que em nenhum dos alunos testados esse efeito foi superior a 15 minutos.

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Retrato da família Mozart, cerca de 1780-81: Mozart ao centro, a irmã Nannerl, e o pai Leopold.

Em 1997 é editado o livro de Don Campbell intitulado de “O efeito Mozart: aproveitar o poder da música para curar o corpo, fortalecer a mente e desbloquear o espírito criativo”. O autor sugere que ouvir Mozart, em especial os concertos para piano, pode aumentar temporariamente o QI e produzir muitos outros efeitos benéficos sobre a função mental. Campbell menciona que se as crianças tocarem música clássica, podem ter um desenvolvimento cognitivo melhorado. Segundo Campbell, a música pode ser útil para reduzir o stress, a ansiedade, induzir o relaxamento, melhorar a memória e a consciência.

Os psicólogos da Universidade de Viena, Jakob Pietschnig, Martin Voracek e Anton K. Formann, revelaram, em 2010, os resultados de sua meta-análise do “efeito Mozart” no jornal Intelligence (EUA). O estudo sintetiza a totalidade dos registos científicos sobre o tema. Foram utilizados nesta investigação os dados de 40 estudos publicados sobre o “efeito Mozart”, e  uma série de teses académicas inéditas. Todos estes trabalhos analisaram cerca de 3000 indivíduos.

A descoberta chave dos pesquisadores da Universidade de Viena é clara: com base na evidência acumulada, não há evidente suporte para ganhos de capacidade  cognitiva, devido à audição de música de Mozart. Um “efeito Mozart” específico, como sugerido pela publicação de Rauscher, Shaw e Ky (1993) editado na revista Nature, não pôde ser confirmado.

Na realidade, a maior parte dos estudos realizados até hoje sobre o tema produção musical e inteligência, deixam muito a desejar em termos metodológicos.

Glenn Schellenberg cientista da Universidade de Toronto observou, num estudo recente, que uma vantagem intelectual bastante ténue adquirida pelos alunos de música na infância pode possivelmente manter-se até a idade adulta. Mas face ao esforço necessário para obter esse resultado, ser aluno de música pode não ser o caminho mais rápido e fácil para aumentar a capacidade intelectual. Segundo Schellenberg não apenas aulas de música, mas quaisquer aulas extra podem, provavelmente, ter um efeito positivo sobre o desenvolvimento cognitivo.

Existe claramente uma controvérsia em torno do “efeito Mozart”. Contudo, na minha opinião, os estudos realizados são inconsistentes e por vezes contraditórios. Concluindo, o estímulo musical é excelente, apesar de não ser possível afirmar que melhore as capacidades cognitivas. O desenvolvimento dos indivíduos pode ser também incentivado, por exemplo através de estudos de física, de literatura ou de uma língua estrangeira. Está no entanto comprovado o efeito da música, como excelente terapia de relaxamento e uma fonte de puro prazer espiritual.

A beleza e a doçura da música sempre mereceu a atenção dos teólogos cristãos, e foi muitas vezes vista como um dom supremo de Deus. Tal como a respiração, a música tem ritmo, tensão e faz-nos sentir em liberdade; esta é a razão pela qual a maioria de nós ama a música, e pela qual a música é tão importante para a alma. O ritmo, a tensão e a liberdade são as expressões musicais da vida. O compositor Ludwig van Beethoven referiu que “A música é o mediador entre a vida espiritual e a vida sensual.”

 

Link’s para audição. Os concertos para piano de W. A. Mozart e o “Efeito Mozart”:

 

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.