De que tipo de liderança precisamos agora?

A Liderança Colaborativa de que precisamos é inclusiva em todas as suas formas, imaginando um futuro com mais oportunidades. Começa com líderes na escola, na figura do professor, do aluno, funcionário, encarregado de educação ou mentor TFP.

Como criar um mundo mais equitativo para responder aos desafios desta geração de crianças e jovens que enfrentou uma pandemia que agravou as desigualdades já existentes? Este foi o tema da última Conferência Global da rede internacional Teach For All, da qual a Teach For Portugal (TFP) faz parte. Entre várias reflexões, destacamos o perfil do “Professor Líder”, focado na relação com os alunos, inspirando-os a encontrarem a sua motivação interna para aprender, a descobrirem o que mais gostam e o significado que cada um precisa.

Nas palavras do Ministro da Educação da Indonésia, Nadiem Makarim, o Professor Líder “desenvolve a coragem, a integridade e a mentalidade de crescimento necessária ao pensamento crítico, colaboração e a própria espiritualidade reflexiva. Dá voz aos alunos, permite a autonomia de cada um, e procura ativamente as suas opiniões através de espaços de reflexão.”

Depois destes dias a aprofundar a liderança que queremos para este novo período, continua a preocupação com os alunos que mais sofreram com o fecho das escolas: os que não tinham capital cultural em casa para os acompanhar durante o confinamento e os que perderam a vontade de regressar à escola. Para que esses alunos possam ter um caminho de escolha, viajamos até ao futuro: “de que precisa um jovem adulto de 25 anos para ter um caminho de oportunidade e autodeterminação pela frente?”. Auscultando a comunidade e percebendo os pontos de vista de quem experienciou a desigualdade no seu percurso escolar, a TFP definiu 4 competências transversais a desenvolver nos alunos, alinhadas com o ‘Perfil do Aluno’ à saída da escolaridade obrigatória:

Liderança – capacidade de estimular o início e a condução de movimentos de transformação pessoais e coletivos;
Metacognição – habilidade de refletir sobre as suas próprias ações, pensamentos e processos de aprendizagem;
Gestão de Emoções – capacidade de reconhecer e gerir as suas emoções e as dos outros;
Consciência do Eu – conhecimento da sua identidade pessoal e coletiva, inserida no seu contexto (político, social, cultural, familiar, comunitário).

O que queremos promover nos alunos é o que acreditamos que faz sentido para cada um de nós, enquanto agentes de mudança. Para promovermos as competências nas crianças e jovens, temos de olhar para dentro e começar por nós.

O que queremos promover nos alunos é o que acreditamos que faz sentido para cada um de nós, enquanto agentes de mudança. Para promovermos as competências nas crianças e jovens, temos de olhar para dentro e começar por nós. Temos de desconstruir o que aprendemos, percebendo de onde vêm certas crenças e formas de pensar. Temos de ter humildade, consciência e compromisso de uma aprendizagem contínua. Por esse motivo, o Programa Teach For Portugal oferece uma formação centrada no desenvolvimento pessoal de cada mentor que trabalha numa escola. Este Desenvolvimento de Liderança centra-se em 3 eixos:

Lidera-te: autoconhecimento e descoberta pessoal, através da reflexão contínua, identificação dos talentos e áreas de melhoria, criando oportunidades de aprendizagem e gerindo a sua energia.

Lidera com os outros: construção de relações potenciadoras, criação de espaços de comunicação e partilha, criação de uma visão coletiva, promoção de liderança nos outros e cocriação de soluções. Escuta ativa com empatia, paciência, respeito e sem julgamento, promovendo a autonomia e a iniciativa dos diferentes agentes.

Lidera a Mudança: trabalhar para que todas as crianças tenham acesso a uma educação que lhes permita atingir o seu máximo potencial de desenvolvimento, independentemente da sua origem. Fomentar o conhecimento profundo da complexidade da desigualdade de oportunidades e dos múltiplos fatores que hoje deixam tantas crianças para trás. Para tal, os mentores TFP são desafiados a criar um projeto de intervenção comunitária, onde os alunos são os protagonistas e toda a comunidade educativa é envolvida, valorizando a sabedoria coletiva, com o objetivo de potenciar a transformação social.

Para a aplicação destes 3 princípios ao longo do programa, é necessária uma rede de suporte forte entre todos na organização. Uma das ferramentas que usamos para manter esta ligação são os Círculos de Partilha entre mentores. São conversas em grupos pequenos, construtivas e de autorreflexão, acerca do processo de crescimento enquanto líderes. São espaços seguros onde se aprofundam os maiores desafios encontrados no terreno, onde se reflete sobre as crenças e atitudes que queremos desconstruir e se criam oportunidades para mostrar vulnerabilidade e pedir ajuda.

Com estas motivações, a TFP dá ênfase à relação, ao objetivo “100%” (todos os alunos são capazes), ao estabelecer expectativas elevadas assentes numa cultura de crítica construtiva, reflexão constante e uma visão clara para os alunos que pisam as salas de aula todos os dias.

Com estas motivações, a TFP dá ênfase à relação, ao objetivo “100%” (todos os alunos são capazes), ao estabelecer expectativas elevadas assentes numa cultura de crítica construtiva, reflexão constante e uma visão clara para os alunos que pisam as salas de aula todos os dias.

O objetivo é o de garantir que estes mentores servirão as escolas portuguesas com a mentalidade certa para lá vermos exemplos verdadeiramente transformadores. E já estão a acontecer. Desde aulas de inglês com alunos a cantar e a dançar, até exercícios de respiração em aulas de matemática ao som de música clássica. Já vemos turmas que não usam manuais, escolas sem toques, e os alunos responsáveis por controlar o seu próprio horário. A avaliação não se centra em testes e avalia o aluno com um todo, em todas as suas vertentes de crescimento.

A Liderança Colaborativa de que precisamos é inclusiva em todas as suas formas, imaginando um futuro com mais oportunidades para as gerações do nosso país. E começa por ter líderes na escola, na figura do professor, do aluno, do funcionário, do encarregado de educação e do mentor TFP.

 

Foto de Max Fischer – Pexels

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.