O testemunho de Miriam, vítima de abuso sexual

Neste Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração Sexual e os Abusos Sexuais, o Ponto SJ publica o testemunho de Miriam, que pretende ser uma ajuda para compreender melhor o que sente quem passa por esta experiência traumática.

Neste Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração Sexual e os Abusos Sexuais, o Ponto SJ publica o testemunho de Miriam, que pretende ser uma ajuda para compreender melhor o que sente quem passa por esta experiência traumática.

Assinala-se hoje o Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração Sexual e os Abusos Sexuais. Uma data que pretende sensibilizar a sociedade para a relevância e prevalência destes crimes que acontecem em todos os contextos, em especial no círculo intra-familiar. Numa altura em que Portugal atravessa um período de melhor conhecimento desta problemática, através da revelação de vários casos concretos que ocorreram no seio da Igreja Católica ao longo das últimas décadas, o Ponto SJ divulga o testemunho de uma vítima de abuso sexual.

Miriam, nome fictício, relata ter sido abusada sexualmente quando tinha 17 anos, por um sacerdote diocesano e em contexto de confissão. Numa conversa conduzida por Sofia Marques, coordenadora provincial do Serviço de Proteção e Cuidado da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, relata o impacto que o abuso teve na sua vida. Miriam pediu ajuda, deu o seu testemunho e denunciou o abuso sofrido há mais de 20 anos, encontrando-se em caminho de reparação e reconciliação.

“A experiência do abuso é algo avassalador; muda a nossa vida por completo; é como se houvesse uma pessoa antes do abuso e uma pessoa depois do abuso”, conta, acrescentando: “a dor que é causada na hora, depois perpetua-se no tempo enquanto não conseguimos pedir ajuda e enquanto não temos uma ajuda efetiva que nos consiga ajudar a lidar com esta situação”.

Como crente em Deus e na Igreja, Miriam expressa o seu desejo de “poder ser um rosto dessa Igreja que confia e que pode ser confiada” e conta, na primeira pessoa, o que sente uma pessoa vítima de abuso. A partir do que sentiu perante quem passou ao lado e perante quem parou para cuidar das suas feridas, o seu testemunho é uma ajuda para percebermos melhor como devemos agir para que uma vítima de abusos se sinta verdadeiramente acolhida e escutada.

Em relação a Deus, cuja existência nunca pôs em causa, mas sim a sua presença no momento do abuso, relata também como a sua fé a salvou nos momentos de maior agonia “Ele permite-nos revoltarmo-nos contra Ele sem ficar magoado e permite-nos revoltar-nos contra os outros sem sermos vingativos e permite-nos revoltar-nos contra a Igreja sem a abandonar na totalidade”.

Ao longo dos últimos meses, muitos relatos como este têm chegado à Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, que está a fazer o levantamento do que aconteceu desde 1950 e que deverá publicar o seu relatório final no início do próximo ano. Ao mote “dar voz ao silêncio” já terão respondido cerca de 450 pessoas, segundo os últimos dados revelados pela Comissão.

O Serviço de Escuta foi criado pela Província Portuguesa da Companhia de Jesus há precisamente um ano. Este Serviço pretende continuar a ser uma porta aberta para quem procure dar a conhecer à Companhia de Jesus os abusos cometidos em alguma das suas obras, por jesuítas ou por leigos.

Continuamos com total disponibilidade para acolher quem deseja contactar-nos, através do email [email protected] ou do telefone 217 543 085, de segunda a sexta-feira, entre as 9h30 e as 18h.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.