Dalida, a Igreja e a Sinagoga

Dalida canta o Salmo 133, enquanto um artista americano revisita as relações entre a Igreja e a Sinagoga.

Dalida canta o Salmo 133, enquanto um artista americano revisita as relações entre a Igreja e a Sinagoga.

1. Como mel para a boca

No final dos anos 60, estava tudo apaixonado pelos kibutzim: cantava-se, dançava-se e rezava-se pela paz em Jerusalém. Dalila fazia parte deste movimento e cantava então a alegria de viver juntos e em paz, com as palavras do Salmo 133:

“Vede como é bom e agradável que os irmãos vivam unidos!”

https://www.youtube.com/watch?v=_iHV36-msVY


2. Um texto bíblico

Na Bíblia, o povo de Israel, fiel a Deus, é comparado a uma figueira, a uma vinha e a uma oliveira. É esta última imagem que o apóstolo Paulo escolheu para exprimir metaforicamente a relação que une os discípulos de Cristo aos judeus. Os cristãos são como ramos enxertados na oliveira que é Israel.

Se a raiz é santa, também o são os ramos. Mas, se alguns ramos foram cortados, enquanto tu, que eras de oliveira brava, foste enxertado entre os outros, para com eles ficares a participar da raiz donde vem a seiva da oliveira, não te faças arrogante perante aqueles ramos. E se te quiseres orgulhar, lembra-te que não és tu quem sustenta a raiz, mas a raiz é que te sustenta a ti.

Carta de São Paulo aos Romanos 11,16-18


3. O esclarecimento

| A oliveira: três elementos sobre este símbolo |

  • A oliveira enraizada na terra representa a solidez da aliança de Deus com o seu povo. Aliança eterna, já que “os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis“.
  • Os não-judeus que recebem o dom da fé em Jesus Cristo vivem enxertados na oliveira; eles beneficiam de todos os dons oferecidos gratuitamente ao povo de Israel.
  • Paulo adverte os novos crentes, vindos de nações pagãs, que não se devem encher de orgulho por participarem agora na primeira aliança, mas devem permanecer unidos ao povo de que são ramos.

 

Alegorias%20da%20Igreja%20e%20da%20Sinagoga%2C%20fachada%20ocidental%20da%20Catedral%20de%20Notre-Dame%20em%20Paris.
Alegorias da Igreja e da Sinagoga, fachada ocidental da Catedral de Notre-Dame em Paris.

#1 Em numerosas representações, (por exemplo, nas catedrais de Estrasburgo, Reims e Paris), a Igreja triunfante volta as costas à Sinagoga, que aparece, muitas vezes, velada, cega e incapaz de reconhecer Jesus como o Messias de Israel. Os artistas exprimem assim uma teologia dita “supersessionista”, na qual a Igreja substituiu Israel. A Aliança com Israel parece estar, por isso, totalmente revogada. À Sinagoga não lhe resta senão lamentar-se.

 

Joshua%20Koffman%2C%20Synagoga%20and%20Eclesia%20in%20Our%20Time%20%5BA%20Sinagoga%20e%20a%20Igreja%20na%20actualidade%5D%2C%20Universidade%20de%20S%C3%A3o%20Jos%C3%A9%2C%20Filad%C3%A9lfia%2C%20EUA.
Joshua Koffman, Synagoga and Eclesia in Our Time [A Sinagoga e a Igreja na actualidade], Universidade de São José, Filadélfia, EUA.

#2 Por ocasião dos 50 anos de Nostra Aetate* en 2015, a Universidade de São José, nos Estados Unidos, pediu uma escultura ao artista Joshua Koffman que representasse as novas relações entre a Igreja Católica e o povo judeu. Ele concebeu a escultura intitulada Synagoga and Eclesia in Our Time: ele tinha como intenção transformar um símbolo tradicional de hostilidade num sinal que testemunhasse a estima mútua. A Igreja desenrola o rolo das Escrituras enquanto a Sinagoga fixa o olhar na Bíblia cristã. Deixa de haver vencedor ou vencido. São agora duas personagens semelhantes que com paciência aprendem a conhecer-se e a apreciar-se…

*: este símbolo é um asterisco. Apenas para dizer que a Nostra Aetate é uma declaração do Concilio Vaticano II sobre as relações entre a Igreja Católica e as religiões não-cristãs.

 


4. E ainda uma palavra final…

E concluímos em beleza com o Papa Francisco:

Deus continua a operar no povo da Primeira Aliança e faz nascer tesouros de sabedoria que brotam do seu encontro com a Palavra divina. Por isso, a Igreja também se enriquece quando recolhe os valores do Judaísmo.

Evangelii Gaudium, 2013, nº 249

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.


Ajude os Frades Dominicanos da École Biblique et Archéologique Française de Jerusalém a difundir a sabedoria e a beleza que nasceram das Escrituras. Obrigado pela sua generosidade e por acreditar no projeto!

Eu contribuo


PRIXM Logo

Um projeto cultural, destinado ao grande público, da responsabilidade dos Frades Dominicanos da École Biblique et Archéologique Française de Jerusalém.


Sob a direção dos Frades Dominicanos de Jerusalém, mais de 300 investigadores do mundo inteiro estão a desenvolver um trabalho de tradução e anotação das Escrituras, que será oferecido numa plataforma digital que recolherá mais de 3000 anos de tradições judaico-cristãs. Para saber mais, clicar aqui.

PRIXM é o primeiro projecto, destinado ao grande público, fruto deste trabalho. A iniciativa quer estimular a redescoberta dos textos bíblicos e dar a conhecer tudo o que de bom e belo a Bíblia inspirou ao longo dos séculos e até aos nossos dias.