A sarça ardente

Moisés e uma interpretação cristã do Antigo Testamento.

Moisés e uma interpretação cristã do Antigo Testamento.

1. Como mel para a boca

Foto do Monte Sinai do Egito

As tradições judaica e cristã situam o episódio da sarça ardente neste lugar.


2. Um texto bíblico

Moisés estava a apascentar o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madian. Conduziu o rebanho para além do deserto, e chegou à montanha de Deus, ao Horeb. O anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama de fogo, no meio da sarça. Ele olhou e viu, e eis que a sarça ardia no fogo mas não era devorada.

Moisés disse:

– Vou adentrar-me para ver esta grande visão: por que razão não se consome a sarça?

O Senhor viu que ele se adentrava para ver; e Deus chamou-o do meio da sarça:

– Moisés! Moisés!

Ele disse:

– Eis-me aqui!

Ele disse:

– Não te aproximes daqui; tira as tuas sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa. Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob.

Moisés escondeu o seu rosto, porque tinha medo de olhar para Deus.

Êxodo 3,1-6


3. O esclarecimento

Uma sarça que arde e não se consome é seguramente motivo de espanto, não?

 

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Nicolas Froment (1475-1476), O Tríptico da Sarça Ardente, Catedral de São Salvador, Aix-en-Provence, França.

Os Padres da Igreja estabeleceram um paralelo entre a sarça ardente e a Virgem Maria: Jesus foi nela como o fogo divino na sarça.

“Da mesma forma que a sarça ardia sem se consumir, também Maria recebeu em si o fogo do Espírito e deu à luz sem perder a virgindade.” Assim escrevia São Efrém, o Sírio (306-377).

Este paralelo foi decisivo para os artistas cristãos do Oriente, que nunca se cansaram de o retomar na sua iconografia.

 

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Philip Davydov, Ícone da Virgem Maria como a Sarça Ardente, 2014

Este paralelo entre a sarça ardente e a Virgem Maria põe em evidência uma certa forma de ler o Antigo Testamento própria dos cristãos. Esta forma consiste em reconhecer em certos episódios, personagens e acontecimentos do Antigo Testamento uma prefiguração de episódios, personagens e acontecimentos do Novo Testamento.

Chama-se uma “leitura tipológica”, do grego “typos”, que significa “molde”: o Novo Testamento conta a história de Jesus com recurso aos “moldes” fornecidos no Antigo Testamento.

O Concílio Vaticano II da Igreja Católica exprime-se assim na Constituição Dei Verbum: “Deus, inspirador e autor dos livros dos dois Testamentos, dispôs tão sabiamente as coisas, que o Novo Testamento está latente no Antigo, e o Antigo está patente no Novo”.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.


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