A imagem de Jesus como a videira verdadeira, que nos é dada a meditar no Evangelho de hoje, remete-nos para uma ideia central que encontramos na mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2022: há um tempo propício para semear o bem, tendo em vista uma colheita futura. Assim, talvez só agora, neste tempo de Páscoa, estejamos a recolher os frutos que na própria Quaresma foram semeados, e que são inseparáveis da capacidade de persistência a que a fé nos convida em cada dia.
De facto, é a convicção de sermos filhos muito amados, realmente sustentados por Ele, enquanto ramos da sua vide, que nos impede de esmorecer, e que nos permite saborear inteiramente o tempo de espera, respeitando os ritmos que não controlamos.
Ora, este caminho de exigência, que assume o carácter disruptivo do “não-controlo” e o “saborear lento” que a sociedade actual rejeita – acentuado ainda mais pela pandemia e pela guerra na Ucrânia – abre uma janela de fecundidade nessa dimensão de persistência a que somos chamados. Esta, que nos nossos dias se tornou, quase de modo instintivo, uma característica a valorizar, como algo que depende exclusivamente da força de vontade do sujeito, é para um cristão, uma virtude que é levada à sua plenitude pela força da fé.
A fé é basilar para que esta persistência e este permanecer frutifiquem em paz, sobretudo num mundo vivido em permanente luta contra a ausência de tempo, e onde somos impelidos à necessidade de chegarmos “sempre mais longe”.
A fé é basilar para que esta persistência e este permanecer frutifiquem em paz, sobretudo num mundo vivido em permanente luta contra a ausência de tempo, e onde somos impelidos à necessidade de chegarmos “sempre mais longe”, mesmo que isso implique um atropelamento dos momentos vividos e uma aridez no nosso crescimento, pela ausência de reconhecimento da fonte donde emana a Verdadeira Vida.
Assim, e pela fé, também na situação atual, e apesar do prolongar da guerra na Europa, vivemos um tempo fecundo, um tempo favorável para fazer crescer esta virtude da persistência, alicerçada numa sinceridade crescente na oração, e inspirada pelo pedido de Nossa Senhora de Fátima, e que nos é recordado a cada mês de Maio, de rezarmos pela paz no mundo; que cada um de nós saiba pedir à Mãe do Céu que nos ajude a acolher a paz que Jesus nos deixou quando este se despedia dos Apóstolos – «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe nem intimide o vosso coração.».
Perante este pedido de um coração em paz, saibamos também ser pacificadores do mundo, das relações e dos corações à nossa volta. Que enquanto cristãos não esqueçamos que face a este amor e certeza de que Deus conhece o mais íntimo do nosso coração, Ele nos concede as graças necessárias para que possamos dar fruto em abundância.
Fotografia de Flor Saurina – Unsplash
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.