Férias de Deus ou com Deus?

As férias podem ser a nossa resposta fiel, a procura efectiva de Jesus, com tempo e qualidade, ao convite que nos é feito diariamente.

O tão aguardado verão já chegou!

Santa Teresa de Ávila dizia que “Por entre as panelas, também anda o Senhor”; eu diria que também na praia, com os pés na areia, na confusão das bagageiras cheias, nos beijos salgados, nos gelados comidos nas esplanadas, no descanso numa toalha ao sol, na leitura de um livro, num passeio de barco…também anda o Senhor.

A maioria de nós gosta desta estação do ano. O calor dos dias soalheiros e compridos faz as maravilhas dos veraneantes, mas o mais desejado são as merecidas férias por que se ansiou o ano inteiro.

As férias são consideradas um direito inalienável de qualquer trabalhador, algo que é de cada um e que não pode ser cedido a outro. É o reconhecimento de que um tempo de paragem nas rotinas laborais ou estudantis é essencial, terapêutico e benéfico para o próprio e, consequentemente, para a sociedade.

As férias são uma necessidade e uma graça, são sinónimo de lazer, de divertimento, de descanso e entretenimento prazeroso. Surgem muitas vezes associadas a sentimentos de saudades, do que vivemos na infância ou noutro passado feliz, são momentos que gostamos de guardar na memória, são tantas vezes as lembranças que fazem com que os anos passados sejam diferentes uns dos outros. Permitem-nos a construção da nossa história, de lembranças, de acontecimentos que ficarão guardados numa sucessão feliz de recordações.

Surgem muitas vezes associadas a sentimentos de saudades, do que vivemos na infância ou noutro passado feliz, são momentos que gostamos de guardar na memória, são tantas vezes as lembranças que fazem com que os anos passados sejam diferentes uns dos outros. Permitem-nos a construção da nossa história, de lembranças, de acontecimentos que ficarão guardados numa sucessão feliz de recordações.

Mais do que qualquer outra coisa, as férias são um tempo que nos é propiciado para que possamos sair da rotina a que somos sujeitos no decorrer nas nossas vidas.

É a oportunidade que temos de fazer o que não costumamos fazer, de estar onde normalmente não estamos, de estar com quem é importante na vida de cada um e a que o quotidiano nos limita na possibilidade de sermos presença.

Neste sentido, estar de férias é conseguir encontrar o equilíbrio que não tivemos desde as do ano anterior. Cada um sabe o que lhe faltou, o que gostava de ter feito mais, do que precisa na sua vida e descurou. Todos temos necessidades e gostos diferentes. Para uns estar de férias é o contraponto à correria dos dias que impossibilita a leitura de um livro, um passeio à beira mar, uma noite de observação do céu estrelado ou de um pôr-do-sol…para outros pode ser viajar para outro país e usufruir da sua cultura.

Neste sentido, estar de férias é conseguir encontrar o equilíbrio que não tivemos desde as do ano anterior. Cada um sabe o que lhe faltou, o que gostava de ter feito mais, do que precisa na sua vida e descurou.

As férias são a oportunidade de nos demorarmos na beleza do que nos faz sentir bem. Para um professor, férias podem ser uns dias no silêncio e no recolhimento da família nuclear; para um director de uma empresa pode ser a certeza de que pode “desligar-se” do escritório; para um agricultor podem ser uns dias passados no ritmo frenético de uma capital. É a procura efectiva do que se gosta, do que faz falta e estrutura.

É a possibilidade de escapar à rotina, de sair dos espaços onde nos movemos habitualmente, de conhecer novos lugares. Podemos escolher sempre o mesmo destino ou procurar sistematicamente lugares novos; podemos sentir-nos bem na euforia de uma noite em Ibiza ou na tranquilidade de um Monte no Alentejo; porque de verdade as nossas escolhas de destinos são o reflexo das nossas necessidades e possibilidades. “Cada um pertence ao lugar onde se sente livre”.

As férias são uma oportunidade de dedicar tempo a quem gostamos. Pode ser a nós mesmos, à família, aos amigos, aos outros…Posso precisar de momentos de solidão, posso querer viver a riqueza que é o tempo passado em família (que é normalmente a mais lesada com a ausência e correria do quotidiano); posso querer estar com os amigos de uma vida ou com alguém que não vejo há anos, posso querer usar o meu tempo ao serviço dos outros (temos, este verão, a oportunidade única e irrepetível de nos pormos ao serviço das Jornadas Mundiais da Juventude),… Quer seja numa doação de tempo a mim ou aos outros, esta deve ser feita consoante as necessidades e possibilidades de cada um e sem culpabilidades.

Quer seja numa doação de tempo a mim ou aos outros, esta deve ser feita consoante as necessidades e possibilidades de cada um e sem culpabilidades.

Para quem Deus e a relação que tem com Ele é importante, as férias são a oportunidade perfeita de encontro. Que Deus nos procura, que vem incessantemente ao nosso encontro, é algo que é do conhecimento geral de um crente. As férias podem ser a nossa resposta fiel, a procura efectiva de Jesus, com tempo e qualidade, ao convite que nos é feito diariamente. Com a bússola do amor de Deus podemos orientar o nosso descanso, a nossa ação e até o ócio para aquilo que nos equilibra, que nos integra e estrutura.

Não precisamos de grandes feitos, basta-nos reconhecer a presença de Deus neste tempo de interrupção das rotinas, saber parar e contemplar a alegria, a paz e procurar o silêncio interior que nos permite passar da espontaneidade para a consciência.

Na praia, no campo, na piscina, rodeados de gente ou sozinhos, em casa ou de viagem aos antípodas, procuremos este silêncio que permite que o tempo abrande para que possamos desfrutar do que nos rodeia. Façamos com Deus o que habitualmente não fazemos, procuremo-Lo em lugares onde normalmente não esperaríamos encontrá-Lo, estejamos com Quem é verdadeiramente importante.

Deus está à nossa espera nestas férias! O que quer que façamos, onde quer que estejamos, é aí que Ele nos quer encontrar.

Com os pés na areia e com os olhos no céu, não tiremos férias de Deus, mas com Deus!!!

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.