«Esta Árvore tem 2000 anos» (1971), de Irene Vilar

Publicamos hoje um poema de Rui Almeida. É sobre uma obra de Irene Vilar, cheia de impacto, que integra a exposição temporária "As cores do Sol: a luz de Fátima no mundo contemporâneo", patente na Basílica da Santíssima Trindade - Fátima.

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Imagem da Obra de Irene Vilar

Cada golpe côncavo

da goiva

E do tempo converte

O tronco à forma humana

Da prostração; cada ferida

Confirma a árvore a fazer-se Inteira, madeira elevada

Ao vigor da vida. Pregos,

Cavilhas, grilhões

E outras ferragens

Absorvidos pela carne,

Nela cravados

Fundo, definem a solidez

Do corpo dorido

A transformar-se. Pregos,

Cavilhas, grilhões

acrescentam

À mágoa a segurança

Da presença; à violência

A certeza de existirem Raiz e hastes que são já

Seiva e força. O tempo

E a goiva ferem, sujeitam

A matéria à contingência

Do desbaste, à limitação.

 

Cada golpe é devolvido

Ao olhar de quem se

aproxima

E não consegue

reconhecer

O rosto, reduzido

Pela dissolução

Ao silêncio

Do esplendor da dádiva.

 

 

Nota: A obra que inspira o poema está patente na exposição temporária: “As cores do Sol: a luz de Fátima no mundo contemporâneo.”

Para mais informações: site da exposição

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.