Educação JMJ

Como é que este ano nos está a educar e a fazer crescer? Que prioridades educativas podemos extrair da JMJ e da sua 'quaresma'? Como poderia ser uma Educação com um 'currículo' JMJ?

Ainda estou cá dentro a processar o que aconteceu nas JMJ. Que maravilha! Tanta esperança, tanta alegria!
Para trás ficam meses à roda do tema dos abusos, longa quaresma que antecedeu esta bela páscoa de agosto.

Neste cenário, foram amadurecendo em mim algumas linhas de força para o tema que aqui me traz:
Como é que este ano nos está a educar e a fazer crescer? Que prioridades educativas podemos extrair da JMJ e da sua ‘quaresma’? Como poderia ser uma Educação com um ‘currículo’ JMJ ?

Gosto de pensar a educação de forma abrangente, com aplicação possível em todos os ambientes que fazem crescer.
Quais seriam os pilares de uma ‘Educação JMJ’? Do que me foi dado ver e viver, destacaria cinco: alegria, ação, silêncio, abertura e Maria.

Alegria
A alegria é a marca que mais me fica da JMJ e de tanta juventude tão animada, tão viva, “la juventud del Papa”. Há que tirar o chapéu a nuestros hermanos espanhóis e latino americanos que irradiaram tanta alegria em Lisboa!
A alegria tem sido um dos motes centrais do Papa Francisco: a ‘alegria do evangelho’, a ‘alegria do amor’, a ‘alegria da verdade’, ‘alegrai-vos e exultai’ são textos estruturais deste pontificado.
Uma alegria que brota sobretudo de encontros pessoais que animam e dão vida. É preciso soltar essa alegria em todos os ambientes educativos! Deixar a alegria regressar às nossas vidas, escolas e comunidades. Deixar secar o que não alegra. Evangeliza-se e educa-se pouco sem alegria. É preciso ir mais à raiz da alegria: o Espírito Santo.

Deixar secar o que não alegra. Evangeliza-se e educa-se pouco sem alegria. É preciso ir mais à raiz da alegria: o Espírito Santo.

Ação
São necessários projetos educativos em que trabalhemos todos em conjunto. É arregaçando as mangas juntos que se avança, como na JMJ. Precisamos de mais projetos, quiçá mais pequenos e locais, que agreguem todos, todos os estilos eclesiais e todos os que queiram ajudar.
O trabalho em conjunto de tantos jovens no COL, nos CODs, COVs e COPs criou uma rede incrível de talentos e vontades, – que pude felizmente testemunhar de perto – à qual é preciso dar continuidade, com criatividade e ação, apressadamente!

Nós, portugueses, já mostrámos que quando temos em mãos um projeto mobilizador conseguimos fazer maravilhas. Olhem a epopeia dos descobrimentos!
Qual poderá ser o próximo projeto agregador?

São necessários projetos educativos em que trabalhemos todos em conjunto. É arregaçando as mangas juntos que se avança, como na JMJ. Precisamos de mais projetos, quiçá mais pequenos e locais, que agreguem todos, todos os estilos eclesiais e todos os que queiram ajudar.

Silêncio
A adoração silenciosa que vivemos na vigília da JMJ foi uma maravilha que tocou a muitos. Não pode ter ficado por ali! Como fomentar mais silêncio em âmbitos educativos? Como promover uma educação para a interioridade que alimente de facto o nosso mundo interior e irradie? Como incluir o silêncio na piedade popular e em tantas formas de rezar por nós herdadas?
E depois há outro tipo de silêncio muito necessário: a murmuração e a coscuvilhice. O Papa não se cansa de falar disto, também. A murmuração mata a vida no interior da Igreja e de qualquer comunidade humana. Cria mau ambiente e dá um péssimo testemunho a todos. Havia de ser considerado o 8° pecado mortal! Claro que isto não exclui um saudável espírito crítico… só que nele há quase sempre um plano inclinado em que amiúde se escorrega. Eu escorrego. É sempre muito necessário o discernimento que ajude a distinguir quando falar e quando calar. Também a afirmação excessiva de ideias e estilos eclesiais próprios ou preferidos deriva facilmente em crítica difamatória. É preciso mais silêncio!

Como fomentar mais silêncio em âmbitos educativos? Como promover uma educação para a interioridade que alimente de facto o nosso mundo interior e irradie? Como incluir o silêncio na piedade popular e em tantas formas de rezar por nós herdadas?

Abertura
Estar abertos a todos, disponível para encontros pessoais com cada um que se torna ou de quem nos tornamos próximos. Às vezes fechamo-nos demais nos nossos grupos habituais e em esquemas tacanhos e rotineiros. É preciso alargar o coração e o horizonte de possibilidades de relação. Isso vai enriquecer-nos.
A família há de ser sempre uma prioridade. Em simultâneo, é preciso abrir a família à escola, à paróquia e a outras comunidades de pertença. É uma arte, certamente, uma arte muito necessária.
Incluir todos vai certamente exigir criatividade e discernimento, mas não há outro caminho fecundo. Em ambiente eclesial será preciso considerar diversos graus de pertença e ritmos de vivência da fé, desde o motard que vai a Fátima uma vez por ano abençoar o capacete até ao mais acérrimo militante da missa diária. Não temos que ser todos iguais: somos todos muito diferentes.

Em ambiente eclesial será preciso considerar diversos graus de pertença e ritmos de vivência da fé, desde o motard que vai a Fátima uma vez por ano abençoar o capacete até ao mais acérrimo militante da missa diária. Não temos que ser todos iguais: somos todos muito diferentes.

Maria
Nossa Senhora está cada vez mais presente na vida e na missão da Igreja. Na JMJ, a tónica na Visitação é para mim a marca de um estilo maternal de evangelização. É com o estilo de Maria que se parte para levar Jesus: apressadamente, pessoalmente, sem muitas palavras, com ação cuidada, com alegria e gratidão. Noutros tempos terá sido doutro modo, hoje em dia parece mesmo que é por aqui. Com(o) Maria havemos de nos tornar especialistas em encontros pessoais que abrem as portas ao Evangelho. Ou retiram as portas todas, como em Fátima, “a Igreja sem portas”, como lá disse o Papa.
Maria há de ajudar-nos também no caminho de (re)unificar a fé com a vida. Caímos facilmente em extremos: ou somos muito espirituais, ou muito mundanos. A nossa vida espiritual carece de harmonia. Maria concilia em si essa bela e inspiradora unidade de vida: jovem e humilde, mãe e mestra, apressada e orante, muito humana e muito perto do divino, na cruz e no pentecostes.

Nossa Senhora está cada vez mais presente na vida e na missão da Igreja. Na JMJ, a tónica na Visitação é para mim a marca de um estilo maternal de evangelização.

Alegria, ação, silêncio, abertura e Maria são para mim os pilares de uma ‘Educação JMJ’, de uma pedagogia que beba de tudo o que vivemos neste tempo.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.