Construir caminhos de partilha

Há imensas iniciativas que interligam comunidades de vizinhos e amigos que querem contribuir para dar mais alegria aos espaços públicos, de norte a sul do país.

– Bom dia, vizinha. Gosta de tricotar? É que eu sempre fiz malha e tive cá uma ideia…

– A vista já não anda muito boa, mas gostar, gostar, eu cá é de crochet. Mas diga, vizinha, qual era a sua ideia?

– É cá uma ideia que me tem alegrado os dias, podíamos decorar os bancos do nosso jardim com algumas decorações em tricot, ou crochet, e assim aproveitávamos tanta lã que ainda tenho sem destino… e ficava tudo mais janota!!

– Mas, vizinha, são muitos bancos…

– E se convidássemos mais vizinhas para esta tarefa? Eu conheço algumas senhoras que têm tempo, muitos restos de lãs e vontade de ajudar!

– Os senhores também podem gostar de ajudar, nem que seja na colocação das decorações.

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Este diálogo imaginado diz-nos de tantas iniciativas que interligam comunidades de vizinhos e amigos que querem contribuir para dar mais alegria e cor aos espaços públicos.

Em Aveiro têm surgido inúmeras iniciativas deste género. E mesmo em tempos de pandemia conseguiram manter os laços e as relações, sem esquecer (ou sobretudo lembrarem) os que podiam estar mais sós. De contactos que tive com os dinamizadores do projeto “Tricot’Aveiro” já são mais de 2.000 as pessoas envolvidas.

Refiro este projeto para falar das muitas outras ideias e vontades que criam redes de colaboração, de partilha e beleza nos espaços públicos. Elas dão voz a vontades e sonhos entre vizinhos e entre pessoas de diferentes culturas.

Se consultarem alguns dos sites que envio no final desta crónica vão conhecer melhor estas iniciativas. São histórias que combatem a solidão e não param de crescer.

São iniciativas cidadãs que tecem formas de inclusão sem, na maior parte das vezes, precisarem de recorrer a fundos públicos, ou outros. Promovem a reutilização de materiais fora de uso fornecidos por empresas e particulares e todos ganhamos com essa sua boa utilização.

Em maio de 2021, o Município de Albergaria-a-Velha propôs à comunidade tricotar uma manta suspensa no centro da cidade no âmbito da atividade “Tricotar Sombra de Esperança”. Sob o mote “Com fio tecemos a esperança e criamos sombra colorida!”

Foram abertas inscrições e a Esperança promete!

Estas diversas iniciativas procuram valorizar os saberes das pessoas e criar laços de solidariedade onde a arte tem um papel redentor e terapêutico. Elas passam por grupos de dança, coros, teatro experimental, partilha de bens e decoração de espaços da comunidade.

São caminhos de partilha que enchem o coração de quem os faz e de quem os conhece e vê.

Saibamos dar voz a essas histórias de vida e arrisquemos também participar nelas mobilizando o nosso próximo.

Estejamos nós atentos ao que de melhor podemos partilhar com outros na construção de projetos que, sem grandes “bandeiras”, podem criar grupos de intervenção na nossa rua, no nosso bairro, ou em qualquer outro espaço público de encontro?

 

Algumas sugestões de iniciativas:

Página do Tricot´Aveiro, com informação geral e calendarização dos encontros do grupo
Aldeias Pintadas, Torre da Magueixa, uma aldeia do concelho da Batalha
Destaque para Figueiró dos Vinhos
Vila Real – Pitoresco
Albergaria
Barreiro – Barreiro Velho
Peniche – Bairros Saudáveis

Fotografia do Blog Tricot’Aveiro

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.