Um grande Secretário-Geral

A Kofi Annan se deve, naqueles tempos confundidos, a coragem do verbo, e a extraordinária capacidade de, mesmo assim, ser um diplomata. Devemos-lhe, por todos estes momentos. E por, em síntese, ter sido um grande Secretário-Geral da ONU.

A Kofi Annan se deve, naqueles tempos confundidos, a coragem do verbo, e a extraordinária capacidade de, mesmo assim, ser um diplomata. Devemos-lhe, por todos estes momentos. E por, em síntese, ter sido um grande Secretário-Geral da ONU.

Kofi Annan morreu hoje, sábado, dia 18 de Agosto de 2018. Nascido mesmo antes do início da Segunda Guerra Mundial, talvez isso o tenha determinado, como poucos – mas, deve ter sido coincidência – a personificar a busca da Paz. Foi um Secretário-Geral das Nações Unidas notável, dos mais notáveis. Por várias razões. Destacaria, em primeiro lugar, ter sido um grande profissional, entrado na Organização no início dos anos sessenta do século passado, conhecendo-a nas suas fraquezas e nas suas forças. Mas não deixaria de destacar, em segundo lugar, a sua rectidão, sentido de justiça e capacidade fora de norma para alcançar acordos, todas qualidades fundamentais para que, no coração do multilateralismo, pudesse, para todos, ser absolutamente confiável.

Mas não deixaria de destacar, em segundo lugar, a sua rectidão, sentido de justiça e capacidade fora de norma para alcançar acordos, todas qualidades fundamentais para que, no coração do multilateralismo, pudesse, para todos, ser absolutamente confiável.

José Alberto Azeredo Lopes

Chamado à função máxima em 1997, estava mais do que preparado. E bem precisava. Realmente, no seu primeiro mandato, deparou com o melhor e o pior. No melhor, Timor-Leste, aquilo por que muitos portugueses o têm no coração, para lá daquilo que o admiram pela razão. Os acordos de Maio de 1999, que escancararam as portas a que um povo sofredor pudesse decidir, são um momento decisivo, inesquecível. Muitos têm méritos, entre os quais aquele que, sendo na altura Primeiro-Ministro de Portugal, é hoje Secretário-Geral das Nações Unidas. Mas, naqueles dias únicos, em que apenas ficava ou o sim ou o não, naqueles dias em que já não se podia hesitar, Kofi Annan foi enorme, e Timor-Leste (re)nasceu em 2002.

Mas, naqueles dias únicos, em que apenas ficava ou o sim ou o não, naqueles dias em que já não se podia hesitar, Kofi Annan foi enorme, e Timor-Leste (re)nasceu em 2002.

José Alberto Azeredo Lopes

Kofi Annan também teve, é certo, de enfrentar o pior. A 11 de Setembro de 2001, muito do Mundo tradicional que conhecêramos e dávamos como adquirido desabou com o mesmo fragor terrível das Torres Gémeas. Sob a sua batuta, as Nações Unidas ainda conseguiram adaptar-se e resolver a guerra no Afeganistão. A guerra do Iraque, em 2003, essa, deixou feridas muito fundas, talvez ainda não fechadas. Mas a Kofi Annan se deve, naqueles tempos confundidos, a coragem do verbo, e a extraordinária capacidade de, mesmo assim, ser um diplomata. Devemos-lhe, por todos estes momentos. E por, em síntese, ter sido um grande Secretário-Geral das Nações Unidas

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.