Succession, uma série pouco previsível

Brotéria sugere série que reflecte a vida daquele 1% que vai de helicóptero para os Hamptons, onde tem uma casa remodelada por 200 milhões de dólares, um iate com heliporto, e que não sabe conduzir um automóvel porque tem motorista.

Brotéria sugere série que reflecte a vida daquele 1% que vai de helicóptero para os Hamptons, onde tem uma casa remodelada por 200 milhões de dólares, um iate com heliporto, e que não sabe conduzir um automóvel porque tem motorista.

Succession aparece muitas vezes descrita como uma série televisiva sobre uma família disfuncional. Além de insuficiente, a descrição é desanimadora. Caracterizar a família Roy como “disfuncional” não faz justiça à complexidade de cada um dos seus membros nem nos diz nada acerca da relação entre os que pertencem e os que não pertencem à família. Que família não seria disfuncional quando comparada com a família Roy?

Tendo em conta as dificuldades da comparação, é provável que nenhuma, pois todas as famílias são disfuncionais à sua maneira, mas sobretudo nenhuma que tenha sido ficcionada para televisão. Logan Roy (Brian Cox) é o patriarca da família, CEO de uma grande empresa de media e parques de diversão, a Waystar Royco, narcisista, manipulador, egoísta e extremamente difícil de “matar” no sentido psicanalítico do termo. Os seus quatro filhos, Connor ‘Con’ Roy (Alan Ruck), Romulus ‘Roman/Rome’ Roy (Kieran Culkin), Kendall ‘Ken’ Roy (Jeremy Strong) e Siobhan ‘Shiv’ Roy (Sarah Snook) vivem uma vida de privilégio exceto a possibilidade de tomar decisões relevantes.

Logan Roy controla a vida dos filhos e de todos os que o rodeiam, conselheiros e staff, lidando de forma idêntica com a família e com os empregados. A empresa é familiar, e Connor e Roman fazem parte dela, sendo ao mesmo tempo filhos e subalternos do pai, que manipula esta dualidade com mestria demoníaca.

Não é certo, porém, que Logan Roy seja o mau da fita e os filhos meros joguetes nas suas mãos. Cada um, à sua maneira, sonha com uma relação afetiva próxima com o pai, ao mesmo tempo que anseia pelo reconhecimento traduzido na promoção a seu sucessor. Na corrida para a escolha do sucessor de Logan, a mais bem posicionada é a filha, Shiv, casada com “um homem que está muito abaixo dela, mas que sabe nunca a irá trair”, segundo a certeira descrição de Logan. Shiv pode ser a mais inteligente, mas foi cobarde no casamento, por isso pode não ser a sucessora indicada.

Tudo conta para assumir o ambicionado lugar de CEO da empresa. E será Logan a escolher. Todo o ambiente da série reflecte a vida daquele 1% que vai de helicóptero para os Hamptons, onde tem uma casa remodelada por 200 milhões de dólares, um iate com heliporto, e que não sabe conduzir um automóvel porque há motoristas para isso.

Ser muitíssimo rico não se vê na roupa (sempre sóbria, cores neutras, quase sem padrões) nem nos acessórios (impercetíveis) mas na imensa quantidade de empregados em todo o lado, a toda a hora disponíveis para servir, levar, trazer.

Mas Succession não é uma série extraordinária para deslumbrados. É uma extraordinária série por nenhum episódio acabar de forma óbvia ou previsível. É uma extraordinária série por nos levar a ficar do lado da personagem que parece maléfica só porque tem razão. É uma série extraordinária porque está muito bem contada, bem escrita, melhor interpretada. O que se pode querer mais?

 

Ficha técnica:

SUCCESSION

Género comédia dramática/sátira

Duração 56–61 m

País EUA /

Idioma original inglês

Produtores REGINA HEYMAN E DARA SCHNAPPER /

Distribuição HBO Data de estreia 03.06.2018

Nº de temporadas 2 / Nº episódios 20

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.


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Esta secção é da responsabilidade da revista Brotéria – Cristianismo e Cultura, publicada pelos jesuítas portugueses desde 1902.

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