Segunda fase dos trabalhos começa com evocação das pessoas «excluídas ou marginalizadas»

Cardeal Jean-Claude Hollerich, jesuíta e relator-geral da XVI Assembleia Geral do Sínodo, recuperou as palavras de Francisco pronunciadas em Lisboa durante a JMJ, lembrando que TODOS são convidados a fazer parte da Igreja.

Cardeal Jean-Claude Hollerich, jesuíta e relator-geral da XVI Assembleia Geral do Sínodo, recuperou as palavras de Francisco pronunciadas em Lisboa durante a JMJ, lembrando que TODOS são convidados a fazer parte da Igreja.

O relator-geral da XVI Assembleia Geral do Sínodo apelou hoje ao desenvolvimento de um trabalho de inclusão, para “todos”, na Igreja, ao inaugurar a segunda fase dos trabalhos, iniciados na quarta-feira, dia 4. “Todos são convidados a fazer parte da Igreja. Na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, o Papa Francisco reiterou as palavras ‘todos… todos’”, disse o cardeal Jean-Claude Hollerich, arcebispo do Luxemburgo, perante as centenas de participantes reunidos no Auditório Paulo VI.

A reunião geral desta manhã marcou o início dos debates sobre a a secção B1 do documento de trabalho (Instrumentum laboris), sobre o tema “uma comunhão que irradia”. “Estamos dispostos a fazê-lo com grupos que nos podem irritar, porque a sua maneira de ser parece ameaçar a nossa identidade? ‘Todos’ [palavra pronunciada em português, no discurso em inglês]… ‘tutti’… Se agirmos como Jesus, estaremos a testemunhar o amor de Deus pelo mundo. Se não o fizermos, pareceremos um clube identitário”, questionou o relator-geral.

O arcebispo do Luxemburgo evocou a vigília ecuménica de oração pelo Sínodo, que reuniu representantes de várias Igrejas e comunidades cristãs na Praça de São Pedro, a 30 de setembro. “O que é que isto significa para o ecumenismo? Como podemos viver a nossa fé católica de tal forma que a comunhão profunda que sentimos na vigília de oração antes do nosso retiro não seja uma bela exceção, mas se torne uma realidade comum?”, questionou.

Como podemos viver profundamente a nossa fé na nossa própria cultura sem excluir as pessoas de outras culturas? Como podemos comprometer-nos com mulheres e homens de outras tradições religiosas com a justiça, a paz e a ecologia integral? – questionou o relator-geral da XVI Assembleia Geral do Sínodo, cardeal Jean-Claude Hollerich.

E acrescentou: “Como podemos viver profundamente a nossa fé na nossa própria cultura sem excluir as pessoas de outras culturas? Como podemos comprometer-nos com mulheres e homens de outras tradições religiosas com a justiça, a paz e a ecologia integral?”

O cardeal Jean-Claude Hollerich sublinhou ainda que os primeiros dias de trabalho permitiram que “a Igreja sinodal se tornasse mais nítida como uma visão global”. “É preciso pensar, é preciso refletir, mas a nossa reflexão não deve tomar a forma de um tratado teológico ou sociológico. Temos de partir de experiências concretas, da nossa experiência pessoal e, sobretudo, da experiência coletiva do Povo de Deus que falou durante a fase de escuta”, sustentou.

Os participantes estão sentados, em mesas redondas, nas quais acompanham o desenrolar dos trabalhos, tanta nas reuniões gerais como nos trabalhos de grupo linguísticos (círculos menores), incluindo um de língua portuguesa.

Ao longo desta semana, os grupos são formados “com base nas preferências linguísticas e temáticas”, estando previstas três reuniões gerais para ouvir as comunicações dos círculos menores e para intervenções livres.

Após a intervenção do relator-geral, os participantes ouviram uma nova reflexão do padre Timothy Radcliffe, religioso dominicano que co-orientou o retiro espiritual preparatório para o Sínodo (que decorreu entre 30 de setembro e 3 de outubro), o qual apelou à formação para “encontros profundamente pessoais uns com os outros”, que vão além dos “rótulos fáceis”. “Tantas pessoas sentem-se excluídas ou marginalizadas na nossa Igreja porque lhes impusemos rótulos abstratos”, advertiu.

Tantas pessoas sentem-se excluídas ou marginalizadas na nossa Igreja porque lhes impusemos rótulos abstratos”, advertiu o cardeal Jean-Claude Hollerich.

A agenda sinodal começou com a celebração da missa, na Basílica de São Pedro, sob a presidência do cardeal Béchara Boutros Raï, patriarca de Antioquia dos maronitas. “A situação do mundo de hoje e o sofrimento dos povos, incluindo os pobres, os perdidos, os perseguidos, os rejeitados, os refugiados, as vítimas inocentes das guerras, os perdidos, os sem-abrigo, os feridos na sua dignidade: tudo isto desperta verdadeiramente a compaixão de Cristo, que nos elegeu um a um para plasmar estas feridas e lutar por um mundo melhor, para habitar a nossa casa comum em paz e tranquilidade”, referiu o cardeal libanês, na homilia da eucaristia.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos decorre até 29 de outubro, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024. A assembleia sinodal tem 365 votantes – 54 mulheres – a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo. Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.

A Conferência Episcopal Portuguesa está representada no Sínodo pelo seu presidente e vice-presidente, D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes, respetivamente.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.