Padre Cruz – novo fôlego no processo de canonização

Comissão Histórica terminou trabalho de validação de documentos e contextualização histórica. Segue-se elaboração da Positio, documento que resumirá a vida e obra do jesuíta que morreu com fama de santo. Canonização pode estar mais próxima.

Comissão Histórica terminou trabalho de validação de documentos e contextualização histórica. Segue-se elaboração da Positio, documento que resumirá a vida e obra do jesuíta que morreu com fama de santo. Canonização pode estar mais próxima.

A Comissão Histórica do processo de canonização do Padre Cruz, sacerdote jesuíta que nasceu no século XIX e morreu com fama de santo, apresentou a relação dos seus trabalhos ao Tribunal Eclesiástico da Causa no passado dia 1 de outubro, no Patriarcado de Lisboa. Com a conclusão desta etapa da missão desta comissão de peritos – que traçou o contexto histórico da vida do Padre Cruz, fez um juízo sobre a sua personalidade e espiritualidade e atestou da autenticidade dos documentos encontrados – o processo de canonização do Servo de Deus P. Francisco Rodrigues da Cruz, iniciado em 1950, entra agora numa nova fase, estando mais perto de ser enviado para o Vaticano.

O momento solene que assinalou o juramento dos peritos­ – que afirmaram nada ter encontrado que impeça a canonização do Padre Cruz­-, decorreu na terça-feira da semana passada, dia em que se assinalaram 71 anos da morte do Servo de Deus. Os membros da Comissão Histórica – Doutor António Júlio Limpo Trigueiros sj, Doutor Paulo Fernando de Oliveira Fontes e Doutor Sérgio Filipe Ribeiro Pinto – apresentaram o seu relatório, prestaram juramento e foram interrogados pelo Juiz Delegado para o processo supletório da Causa, Cónego Francisco José Tito Espinheira, na presença o Notário, Dr. Paulo Dias da Silva.

Para o vice-postulador da causa de canonização, P. Dário Pedroso sj, “este momento foi de grande alegria e de muita ação de graças a Deus. De um grande obrigado aos membros da Comissão Histórica e àqueles que com ela trabalharam nos arquivos da Causa”. O sacerdote jesuíta, responsável pela condução deste processo, acrescenta ainda: “Devo também uma palavra de agradecimento ao Senhor Patriarca pelo entusiasmo que sempre me deu para levar este serviço por diante. Aguardamos em esperança o que ainda falta”.

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Padre Cruz a celebrar missa na capela da casa do Largo doCaldas, em Lisboa.

Esta foi a terceira comissão histórica nomeada na Causa do Padre Cruz, tendo concluído o processo em dez meses, colhendo muito do trabalho de investigação que já tinha sido desenvolvido pelas anteriores comissões. Encerrada esta importante fase, o relatório e os documentos terão de ser agora apresentados pelo Postulador da Companhia de Jesus, P. Pascual Cebollada, sj à Congregação para as Causas dos Santos, para serem aprovados. Esta congregação nomeará um Relator que depositará no Postulador da Companhia de Jesus e no Vice-Postulador o encargo de redigir a Positio que é o documento final que resumirá toda a vida do Padre Cruz, a sua biografia, bem como os documentos e testemunhos que pretendem atestar a sua vida de santidade, entre os quais o documento agora apresentado pela Comissão Histórica.

A Positio será elaborada pelo vice-postulador da causa, P. Dário Pedroso, ou por alguém em quem ele delegar, e o seu envio posterior para a Congregação para as Causas dos Santos ditará a conclusão da fase diocesana do processo de canonização, cabendo depois à Santa Sé a condução da causa. Antes da canonização, o Padre Cruz terá ainda de ser declarado beato, sendo necessário atestar um milagre atribuído à sua intercessão.

A Positio será elaborada pelo vice-postulador da causa, P. Dário Pedroso, ou por alguém em quem ele delegar, e o seu envio posterior para a Congregação para as Causas dos Santos ditará a conclusão da fase diocesana do processo de canonização, cabendo depois à Santa Sé a condução da causa. Antes da canonização, o Padre Cruz terá ainda de ser declarado beato, sendo necessário atestar um milagre atribuído à sua intercessão.

São inúmeros os documentos que atestam a dedicação do Padre Cruz ao próximo, bem como a sua vida piedosa e de intensa de oração. Entre os escritos mais relevantes encontram-se homilias, notas íntimas dos seus Exercícios Espirituais, sermões e orações, bem como cartas que trocava com a sua irmã Isabel, nas quais descrevia muitas das suas viagens. Mas na imensa mala que reúne toda a documentação do caso, há também documentos históricos, recortes de jornais da época, registos pessoais, entre outros. Dois livros sobre o servo de Deus, escritos pouco tempo após a sua morte, em 1948 e 1949, são considerados peças fundamentais do processo. Um dos quais é uma entrevista conduzida pelo P. José Leite, sj, que contém perguntas feitas ao Padre Cruz no final da sua vida, e outro, da autoria do seu sobrinho José Dias da Cruz, reúne os testemunhos de sua irmã Isabel, que o acompanhou ao longo da sua vida.

“Foi (um momento) de grande alegria e de muita acção de graças a Deus. De um grande obrigado aos membros da Comissão Histórica e àqueles que com ela trabalharam nos arquivos da Causa. Devo também uma palavra de agradecimento ao Senhor Patriarca pelo entusiasmo que sempre me deu para levar este serviço por diante. Aguardamos em esperança o que ainda falta” – P. Dário Pedroso, vice-postulador da Causa de Canonização.

O P. Francisco Rodrigues da Cruz, vulgarmente conhecido como Santo Padre Cruz, foi um sacerdote jesuíta que viveu toda a sua vida empenhado em assistir e consolar os mais frágeis, tendo viajado por todo o país para ajudar à “salvação das almas”. Nasceu a 29 de julho de 1859 e faleceu a 1 de outubro de 1948. Querido e venerado por muitos milhares de portugueses e também estrangeiros (em vários países já se publicaram biografias acerca do P. Cruz, em diversas línguas), deixou uma marca viva e profunda nos locais que foi visitando, o que explica a enorme devoção e memória existente em todas as dioceses. Apesar dos problemas de saúde que teve, a vontade de servir o próximo nunca atenuou o fulgor do seu apostolado, caracterizado pela entrega aos mais pobres.

Ao longo da sua vida, o Padre Cruz tentou por várias vezes entrar na Companhia de Jesus mas só viu o seu desejo concretizado no final da vida, uma vez que a sua débil saúde nunca se adequou à enorme exigência do percurso formativo dos jesuítas. Profundamente marcado, desde cedo, pela experiência dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, acabou por se tornar jesuíta apenas aos 80 anos. “Numa altura em que já tinha uma vida de santidade e um apostolado intenso”, como sublinhou o P. António Júlio Trigueiros, presidente da Comissão Histórica, na missa que assinalou os 70 anos do seu falecimento, na capela do cemitério de Benfica.

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Padre Cruz a visitar umas pessoas em Braga.

A devoção ao Padre Cruz está ainda hoje muito presente entre os portugueses, expressando-se em vários pontos do país. Sinal inequívoco de que esta devoção passou entre gerações e permanece atual é a mobilização de tantas pessoas para rezarem junto ao jazigo onde está sepultado, no cemitério de Benfica, em Lisboa.

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Comissão Histórica da Causa do Padre Cruz

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.