Os passos cronológicos do nascimento da Companhia de Jesus

No dia em que celebramos 480 anos da aprovação da Companhia de Jesus, apresentamos uma cronologia dos momentos mais significativos associados à fundação desta ordem religiosa.

No dia em que celebramos 480 anos da aprovação da Companhia de Jesus, apresentamos uma cronologia dos momentos mais significativos associados à fundação desta ordem religiosa.

A data que hoje celebramos, ao recordar a aprovação da Companhia de Jesus há quatrocentos e oitenta anos atrás, é fruto de uma cronologia que se inicia com o nascimento de Inácio de Loiola e se prolonga até à sua morte, onde a Companhia de Jesus com uma identidade bem definida se encontra já consolidada em todo o mundo cristão. Apresentaremos de seguida as datas mais marcantes anteriores e posteriores a 1540, abarcando o ciclo vital de Inácio (1491-1556).

Em 1491, nasce no Castelo de Loiola, no País Basco, Inigo Lopez de Loyola, o mais novo de uma família da nobreza terratenente  da província de Guipuscoa.

1521 (24 de Maio) – Inácio, militar ao serviço dos reis de Espanha foi ferido gravemente em Pamplona, quando defendia a fortaleza dessa cidade, contra os Franceses.  É levado em padiola para o solar de Loiola, onde agora vivem o irmão mais velho e a cunhada.

1521 (24 de Junho) – Inácio recebe os últimos sacramentos no castelo de Loiola por estar moribundo, por causa dos ferimentos que sofrera em Pamplona.  E dois dias depois começa miraculosamente a recuperar dos seus ferimentos, na véspera da festa de S. Pedro. Para se distrair na convalescença (de Agosto a Dezembro) pede romances de cavalaria. Dão-lhe a “Vita Christi “ e o “Flos Sanctorum“. Inicia o processo de conversão. Tem uma visão de Nossa Senhora com o Menino Jesus. Sonha ir a Jerusalém, só comer ervas e fazer todas as penitencias que os santos tinham feito. “Se S. Francisco e S. Domingos foram capazes? Porque não eu?”

1522 (fins de Fevereiro) – Deixa Loiola e dirige-se a Monserrate. É já o peregrino que quer fazer grandes coisas por Deus, mas que não sabe ainda quais.

1522 (22- 24 de Março) – Em Monserrate, confessa-se ao beneditino Frei Juan Chanones (que morreu  no Mosteiro de Tibães, junto a Braga, onde se conserva o seu retrato). Na Vigília da Anunciação, Inácio passa a noite em oração. Faz voto de castidade, deixa a sua espada aos pés de Nossa Senhora. Chegara vestido com as elegantes roupas de cavaleiro, mas dá-as a um pobre homem e veste um humilde traje de peregrino.

1522 (26 de Março) – Parte para Manresa, onde viverá por um ano como penitente  e de esmolas, retirando-se para uma gruta ( a “santa cueva”), sendo assaltado por tentações e escrúpulos. Em Agosto ou Setembro tem a grande iluminação junto ao Rio Cardoner, sob esta luz continua a escrever os Exercícios Espirituais.

1523 (17- 18 de Fevereiro) – Dirige-se a Barcelona para embarcar para Jerusalém. Em Março embarca para Gaeta e dali dirige-se a pé para Roma para pedir ao Papa licença para ir a Jerusalém (ali chega a 29 de Março) que consegue do papa Adriano VI. Dali parte para Veneza.

1523 (14 de Julho) – Inácio parte de Veneza para a sua peregrinação à Terra Santa.

1523 (4 de Setembro) – Depois de muitos meses no mar e uma semana à espera no porto de Joppe, para desembarcar, Inácio entra finalmente na cidade de Jerusalém como peregrino.  Visita os lugares santos e é impedido de continuar em Jerusalém pelos turcos.

1523 (23 de Setembro) – Regressa a Jafa e dali embarca a 3 de Outubro para Barcelona (via Veneza e Génova), onde chega em Fevereiro de 1524.

1528 (7 de Fevereiro) – Inácio chega a Paris para começar os seus estudos de novo, após a experiência frustrada em Alcalá e Salamanca. Ali se instala num quarto alugado no “Quartier Latin” e começa por frequentar o Colégio de Montaigu.

1529 –  Na quaresma desse ano vê-se obrigado a viajar para a Flandres para arranjar dinheiro. Em Maio é admitido no Colégio de Santa Bárbara como pensionista (dirigido pelo humanista português Diogo de Gouveia) e começa a estudar Artes.

1532 (Outubro) – Conhece o português Simão Rodrigues, natural de Vouzela e aluno do Colégio de Santa Bárbara, como bolseiro do rei D. João III.

1533 (13 de Março) – Em Paris, no Colégio de Santa Bárbara, Inácio completa o seu curso de filosofia, obtendo o grau de bacharel em Artes. Começa a estudar Teologia.

1534 (Inícios) – Inácio dá os Exercícios Espirituais a Pedro Fabro. Depois na primavera a Diogo Laínez e Afonso Salmerón. Por fim a Simão Rodrigues e a Nicolau Bobadilla. Fabro é ordenado sacerdote pouco depois.

1534 (15 de Agosto) – Inácio e seis companheiros – Pedro Fabro, Francisco Xavier, Diogo Laynez, Simão Rodrigues, Afonso Salmerón. Nicolau Bobadilla – fazem os seus primeiros votos numa missa celebrada por Pedro Fabro na capela de Montmartre, Paris, de castidade e de pobreza e um terceiro de irem em peregrinação à Terra Santa e se por qualquer motivo esta peregrinação não se pudesse realizar no prazo de um ano poriam nas mãos do Papa o seu destino.

1534 (19 de Setembro)- Durante este período, Inácio dá os Exercícios Espirituais a Francisco Xavier, nobre navarro, mestre em Artes, que era igualmente estudante no Colégio de Santa Bárbara.

1535 (15 de Março) – Em Paris, Inácio recebeu o grau de Mestre em Artes e em Sagrada Teologia, com o direito de ser chamado Mestre Inácio, como seria depois chamado dentro e fora da Companhia. Em Abril, deixa Paris e os companheiros e dirige-se à sua terra natal, onde fica três meses. Combinara encontrar-se em Veneza com os companheiros, para embarcar para Jerusalém. Antes deste reencontro foram aceites mais três companheiros (Claudio Jayo, Pascásio Broet e Jean Codure)

1537 (8 de Janeiro) – Reúnem-se finalmente em Veneza os companheiros e a 24 de Junho Inácio, Francisco Xavier e cinco dos seus companheiros foram ordenados padres. Dispersam-se em grupos de dois ou três pelas redondezas de Veneza e em Setembro repartem-se pelas cidades universitárias do norte de Itália. Inácio, Fabro e Lainez partirão para Roma.

1537 (15 de Novembro) – Em La Storta, a 14 km a norte de Roma, Inácio tem um visão em que ouve o Pai dizer ao Filho com a cruz às costas “Quero que o tomes por companheiro” e o Filho: “Quero que tu nos sirvas”. Pouco depois entram em Roma. A partir de Dezembro os três vivem numa casa perto de Trinitá dei Monti.

1538 (Janeiro a Maio) – Enquanto por ordem do Papa, Lainez e Fabro ensinam na “Sapienza”, Inácio dedica-se a diversos ministérios. Em Maio, o ano de espera para a peregrinação tinha-se completado e não havendo condições para embarcar, devido à guerra com os Turcos, o grupo reúne-se em Roma.

1538 (18 a 23 de Novembro) – Os companheiros oferecem-se ao Papa para qualquer missão em qualquer parte do mundo.

1539 (19 de Março) – Broet e outro companheiro são enviados pelo Papa a Siena (1ª missão).

1539 (3 de Setembro) – Deliberação dos 10 primeiros companheiros  sobre a fundação de uma nova ordem. Na sua residência estiva em Tivoli, fora de Roma, Paulo III deu a sua inicial aprovação oral à Companhia de Jesus, quando Inácio lhe enviou os “Cinco capítulos”, nos quais descrevia a proposta para a nova ordem religiosa.

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Fotografia: Sacristia da Igreja de São Roque em Lisboa. Alguma das pinturas correspondem `vida de Santo Inácio e a episódios marcantes para a fundação da Companhia de Jesus. Fotografia de João Ferrand/Companhia de Jesu

1540 (9 e 16 de Março) – Simão Rodrigues parte de Roma para Lisboa a 9, seguido de Xavier a 16.

1540 (27 de Setembro) – No Palácio de S. Marcos, em Roma, o Papa Paulo III assina a bula “Regimini militantis ecclesiae,” estabelecendo a Companhia de Jesus como uma ordem religiosa.

1540 (25 de Outubro) – Pedro Fabro chega à Alemanha, iniciando assim o apostolado da Companhia.

1541 (4 de Março) – Reunião dos primeiros companheiros para fazer as Constituições. Inácio é eleito 1.º superior geral a 9 de Abril e a 22 os primeiros companheiros fazem os seus votos na Basílica de S. Paulo Fora de Muros.

1541 (7 de Abril) – No seu 35.º aniversário, Francisco Xavier embarcou do porto de Lisboa para a Índia com dois outros companheiros.  A viagem levou 13 meses.

1541 (3 de Julho) – Broet e Salmeron são nomeados Núncios na Escócia.

1541 (8 de Julho) – O Papa Paulo III concedeu a Igreja de Nossa Senhora da Estrada à Companhia de Jesus. Era uma igreja pequena, mas Inácio estimava muito esta localização no coração de Roma.

1542 (6 de Maio) – Francisco Xavier chega a Goa, Índia, após mais de um ano de jornada.

1541 (24 de de Junho) – Em Roma, Inácio e os seus companheiros tomam posse da casa de Santa Maria da Estrada, a primeira casa professa da Companhia.

1542 (5 de Janeiro) – Simão Rodrigues toma posse da casa de Santo Antão O Velho (o chamado Coleginho), em Lisboa, a primeira casa própria da Companhia em todo o mundo. A 13 de Junho chegam a Coimbra os primeiros jesuítas e a 2 de Julho é fundado o Colégio de Coimbra a pedido de D. João III

1543 (16 de Março) – Fundação em Roma da Casa de Santa Marta para mulheres de má vida convertidas, seguida da fundação de um colégio para catecúmenos convertidos do Judaísmo.

1544 (2 de Fevereiro) – Inácio começa a escrever o seu Diário Espiritual.

1545 (23 de Novembro) – Jerónimo de Nadal, a quem Inácio conhecera como estudante em Paris, entra na Companhia, parece que influenciado pela leitura do chamado “Apelo às Universidades” de Francisco Xavier.

1545 (13 de Dezembro) – Abertura do Concílio de Trento, no qual tomam parte os jesuítas Diogo Laynez e Afonso Salmerón como teólogos papais e Cláudio Jayo como teólogo do Cardeal Otho Truchses.

1545 (25 de Dezembro) – Isabel Roser pronuncia os seus votos como jesuíta juntamente com Lucrécia de Brandine e Francisca Cruyllas na presença de Inácio, na igreja de Santa Maria da Estrada, em Roma. Dez meses mais tarde serão dispensadas dos votos.

1546 (5 de Fevereiro) – Em Roma, morre Pedro Fabro, um dos primeiros companheiros.

1546 (5 de Junho) – Paulo III, no seu Breve Exponi Nobis, autoriza a Companhia a admitir coadjutores, tanto espirituais como temporais.

1546 (26 de Outubro) – A província de Portugal foi erecta como a primeira província da Companhia, com Simão Rodrigues como primeiro provincial.

1547 (7 de Maio) – Inácio escreve a “Carta da Perfeição” aos Jesuítas de Coimbra e a 14 de Janeiro seguinte a famosa “Carta da Obediência”.

1547 (1 de Setembro) – Criação da Província de Castela com António Araoz como provincial. A 4 de Novembro é fundada a Universidade de Gandia, a primeira da Companhia.

1548 (18 de Março) – Chegada dos primeiros jesuítas missionários a África, enviados pelo Padre Simão Rodrigues, provincial de Portugal, a pedido do rei do Congo, apoiado pelo rei de Portugal. Desembarcaram em Pinda, e fizeram o seu caminho dois dias mais tarde para Mbanza Congo, a capital do reino do Congo. Eram três padres – Jorge Vaz, Cristóvão Ribeiro, Jácome Dias – e um escolástico, Diogo do Soveral.

1548 (8 de Abril)- Pedro Canísio foi enviado para Messina para ensinar Retórica. Aí se funda o primeiro colégio da Companhia de Jesus.

1548 (31 de Julho)- Por influência de Francisco de Borja, duque de Gandia,  o Papa Paulo III aprova o livro dos Exercícios Espirituais, através do breve “Pastoralis officii”.

1548 (10 de Dezembro)- O Geral dos Dominicanos escreveu defendendo a Companhia dos ataques em Espanha, de Melchior Cano e outros.

1549 – Chegada ao Brasil do Padre Manuel da Nóbrega e dos primeiros jesuítas. Em 1553 será nomeado provincial dos Jesuítas do Brasil, com 30 jesuítas. Esteve ligado à fundação das cidades de Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro.

1549 (23 de Dezembro) – Francisco Xavier foi escolhido para provincial da nova província da Índia.

1550  (21 de Julho)- Através da sua bula “Exposcit debitum”, o Papa Júlio III confirma de novo o Instituto da Companhia.

1551 (15 de Janeiro) – Francisco de Borja escreve ao Imperador Carlos V anunciando-lhe a sua intenção de entrar na Companhia de Jesus, pedindo licença para resignar do seu ducado no seu filho mais velho. A 7 de Maio de 1537 convertera-se diante do cadáver da imperatriz Isabel de Portugal, mulher do imperador Carlos V. “Não servirei mais a Senhor que possa morrer” terá exclamado.

1551 (30 de Janeiro) – Inácio escreve uma carta oferecendo-se para resignar do cargo de superior geral, por causa da sua doença.

1551 (18 de Fevereiro) – Abre na Praça de Ara Coeli, em Roma, a primeira escola da Companhia de Jesus, em Roma, a qual em breve se transformaria no Colégio Romano, mais tarde chamado Universidade Gregoriana.

1551 (5 de Dezembro) – Criação da Província da Itália com Broet como provincial.

1551 (31 de Dezembro) – Francisco Xavier parte para Malaca e Goa para preparar a sua viagem para a China.

1552 (22 de Outubro)- Confirmação pelo Papa Júlio III dos “Privilégios” da Companhia.

1552 (3 de Dezembro) – Na ilha de Sancian, nas portas da China, morre Francisco Xavier.

1554 (26 de Outubro)- É admitida na Companhia, excepcionalmente e com obrigação de guardar segredo, Joana de Austria, filha de Carlos V e mãe de D. Sebastião.

1555 (26 de Janeiro)- O Padre Luís Gonçalves da Câmara inicia a escrever o Memorial (importante fonte para o conhecimento do início da Companhia de Jesus)

1555 (13 de Novembro) – Inácio nomeia Francisco de Borja, Comissário Geral para todas as províncias da Península Ibérica e das Índias, dependentes de Espanha e de Portugal.

1556 (7 de Junho)- Pedro Canísio torna-se o primeiro provincial da nova província da Germânia.

1556 (11 de Julho)- Inácio, gravemente enfermo, entrega o governo quotidiano da Companhia a Juan  Polanco e Cristobal de Madrid.

1556 (31 de Julho) -Já no leito de morte, a 30 de Julho, Inácio pede a Polanco que vá pedir a bênção e indulgência papal para ele. Era papa Paulo IV (papa Caraffa). Morre no dia seguinte.

À data da morte de Inácio, a Companhia contava mais de mil membros, passados apenas dezasseis anos sobre a sua fundação. Conta hoje com mais de 16 mil jesuítas presentes em 120 países.

 

Fotografia: Sacristia da Igreja de São Roque em Lisboa. Alguma das pinturas correspondem à vida de Santo Inácio e a episódios marcantes para a fundação da Companhia de Jesus.

Fotografia de João Ferrand/Companhia de Jesus.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.