Domingo de Páscoa – Acolher o risco da consolação

A ressurreição desafia o nosso modo de olhar a vida, as relações, os conflitos e as perdas: seremos adultos o suficiente para lidar com a dor? Seremos crianças o bastante para não deixar de dançar?

A ressurreição desafia o nosso modo de olhar a vida, as relações, os conflitos e as perdas: seremos adultos o suficiente para lidar com a dor? Seremos crianças o bastante para não deixar de dançar?

Dia 8 Retiro

1. Um pedido
Vibre em mim, Senhor, minha Páscoa, minha vida, a alegria. Aconteça entre nós, Senhor, a Tua consolação.

2. Um texto

Do Evangelho de São João (Jo 20,1-9)

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No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo logo de manhã, ainda escuro, e viu retirada a pedra que o tapava. Correndo, foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, o que Jesus amava, e disse-lhes: «O Senhor foi levado do túmulo e não sabemos onde o puseram.» Pedro saiu com o outro discípulo e foram ao túmulo. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Inclinou-se para observar e reparou que os panos de linho estavam espalmados no chão, mas
não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no túmulo e ficou admirado ao ver os panos de linho espalmados no chão, ao passo que o lenço que tivera em volta da cabeça não estava espalmado no chão juntamente com os panos de linho, mas de outro modo, enrolado noutra posição. Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao túmulo. Viu e começou a crer, pois ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.

Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao túmulo. Viu e começou a crer, pois ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.

3. Um parágrafo explicativo
Há três dias, Maria Madalena e os discípulos viram Jesus crucificado. João bem de perto. Pedro de muito, muito longe. Restara o corpo em chaga, morto, sepultado à pressa, num sepulcro novo, e um doloroso silêncio, um vazio amargo, sem sentido nem horizonte. Agora, nesta manhã de Domingo, o sepulcro é encontrando aberto. Parece que nem o corpo de Jesus lhes resta. Com o túmulo aberto, mais vazia fica a alma, mais duro será o luto e a memória.

Do lado de fora da fé, Maria Madalena chora, perdida. Os seus olhos são incapazes de ver. Até o corpo de Jesus lhe roubaram. Advertidos, os dois discípulos correm juntos ao sepulcro. João corre mais rápido. O amor que seguiu Jesus até ao fim chega primeiro. Só esse pode indicar o caminho a quem vacilou no seguimento. Nesta manhã, porém, Deus já está a fazer novas todas as coisas: “Olha! O Inverno já passou e com ele foram-se as chuvas. Já há flores no campo, chegou o tempo das canções; e ouve-se cantar a rola nos nossos campos. Na figueira começam a brotar os figos e as vinhas em flor espalham o seu perfume”.

João corre mais rápido. O amor que seguiu Jesus até ao fim chega primeiro. Só esse pode indicar o caminho a quem vacilou no seguimento.

Em breve, Pedro, João, Maria Madalena, cada um ao seu modo, no mais profundo da alma, ouvirão pronunciar o próprio nome. Então, verão e acreditarão. Reconhecidos, reconhecerão. “É o Senhor”. Ressuscitou Cristo, minha esperança.

Da morte à vida, é esta a grande passagem. Desde que nascemos. Passar do medo à confiança. Da separação ao encontro. Do ressentimento ao perdão. Da fraqueza do pecado à fortaleza da graça. Passar das lágrimas tristes à profunda alegria. São estas as passagens mais dramáticas da vida. E as mais promissoras. “Se o grão de trigo, caído à terra, morrer, produzirá muito fruto”. Não habita no sepulcro a vida que se dá. Vive em Deus, para sempre. Cristo, nossa Páscoa, Ressuscitou. Precede-nos, agora, na vida de cada dia, seja ela como for, nas coisas de todos os dias. Ele é o caminho da verdade da vida que permanece.

 

Uma pergunta

Porque choras?
No sepulcro não há vida.
O Senhor Ressuscitou, Ele, tua passagem, tua vida.
Não resistas. Não te desculpes. Acolhe o risco da consolação.
Alegra-te. Canta, dança, celebra a alegria.

 

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Imagem de P. Nuno Branco, sj

Um símbolo

Luz

…recordando o Círio Pascal, a “coluna de cera” acesa na vigília pascal. Que, como ele, “arda incessantemente para dissipar as trevas da noite” e “brilhe ainda quando se levantar o astro da manhã, aquele astro que não tem ocaso: Jesus Cristo”, o Ressuscitado, que hoje nos ilumina tão intensamente com a Sua luz e a Sua paz

 

Uma imagem

Reparar em A Dança, de H. Matisse,
acompanhada por Sofonias, 3, 14:
“Rejubila, filha de Sião, solta gritos de alegria, Israel!
Alegra-te e exulta de todo o coração, filha de Jerusalém!”

 

Um gesto

Ouvir e gostar Hallelujah (oratória Messiah), de G. G. Händel, e brindar à Vida do Ressuscitado presente em nós e entre nós (com traje de festa, perfumando-se, com um cálice de vinho, com um movimento de dança…)

 

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Retiro completo em PDF (para colecionadores… e “repetidores”)

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.