Descobrir Inácio de Loiola

No dia em que se assinala a festa de Santo Inácio, termina este relato da peregrinação do P. Abel Bandeira sj, que percorreu os passos do fundador dos jesuítas entre Loiola e Manresa. Um caminho sofrido mas de uma enorme consolação.

No dia em que se assinala a festa de Santo Inácio, termina este relato da peregrinação do P. Abel Bandeira sj, que percorreu os passos do fundador dos jesuítas entre Loiola e Manresa. Um caminho sofrido mas de uma enorme consolação.

Descobrir Inácio de Loiola. A grande motivação da peregrinação do P. Abel Bandeira passou por aqui. No ano em que celebra 20 anos da sua ordenação sacerdotal, o jesuíta recuperou um sonho antigo e quis percorrer os caminhos outrora percorridos pelo seu “pai espiritual”, quando deixou a terra natal, Loiola, para caminhar até à Terra Santa, totalmente convertido a Deus.

“Quis sentir o que ele sentiu, perceber porque se enamorou de Cristo ao ponto de sair de casa com vestes mundanas e o coração centrado n’Ele”, confessa o jesuíta que, aos 55 anos, mantem o fascínio por Inácio peregrino e pelos milhares de quilómetros que percorreu. Não abundam as marcas inacianas ao longo deste trajeto, embora a paisagem rural se mantenha em grande parte do caminho, ajudando a imaginação a recuar ao século XVI. Mas o peregrino Abel viveu com emoção a passagem por Montserrat, onde Inácio deixou a espada e o punhal junto a uma imagem de Nossa Senhora e deu as suas vestes a um pobre, passando a trajar-se como um humilde peregrino.

Pelo caminho, Abel foi relendo a autobiografia do fundador da Companhia de Jesus, e sentindo como seus os espaços por onde foi passando. “Tocou-me muito passar no convento/hospital de Santa Luzia onde Inácio teve um êxtase de oito dias. E onde rezava e escrevia”, comenta Abel. Ou passar em Pedrola, terra onde Inácio teve um desentendimento com um mouro mas foi capaz de vencer o ódio com a caridade; ou ainda, por exemplo, visitar a Igreja de Santa Maria del Mar, já em Barcelona, onde Inácio pedia esmola.

Apesar de o desejo de Inácio ter sido chegar aos locais onde Jesus passara e vivera, na Terra Santa, – onde só chegaria anos mais tarde – foi em Manresa que o antigo guerreiro teve a experiência espiritual e mística mais marcante da sua vida. A chamada “visão do Cardoner” mudaria para sempre a sua visão das coisas e do modo como Deus está presente no mundo e conduziria, anos mais tarde, à fundação da Companhia de Jesus. Aí terá começado também a escrever os Exercícios Espirituais.

Abel caminhou um dia de cada vez, devagar, sem pressas nem ânsias de chegar. Mas confessa que ao final do dia alcançava sempre a consolação de vencer mais uma etapa. A chegada ao destino, em Manresa, 650 quilómetros depois de se ter feito ao caminho, teve, por isso, um gosto especial. “Até psicologicamente”, reconhece, “sentir que aos 55 anos consegui fazer uma coisa difícil ajudou-me bastante”. Espiritualmente, Abel sentiu uma enorme consolação e diz que só tem que agradecer a experiência que lhe foi dado viver. Tal como o cego que Jesus mandou lavar-se na piscina de Siloé, – e que no final disse “fui, lavei-me e comecei a ver” – também Abel reconhece a mudança que esta peregrinação operou na sua vida. “Rezei muito e comecei a ver melhor Deus na minha vida. Mudei a minha relação com Inácio e continuarei sempre à procura do que Deus quer que eu faça”.

Qual o traço de Santo Inácio que mais me inspira e interpela como cristão?

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Ilustração de Mário Linhares

 

Nos Passos de Inácio VII

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.