Com Inácio rezar em Quaresma

Neste primeiro domingo da Quaresma, lembramos Inácio orante. Um peregrino para quem a oração era o pão de cada dia. Um homem contemplativo e um homem de Eucaristia, preparando-a, cada dia, com duas horas de oração.

Neste primeiro domingo da Quaresma, lembramos Inácio orante. Um peregrino para quem a oração era o pão de cada dia. Um homem contemplativo e um homem de Eucaristia, preparando-a, cada dia, com duas horas de oração.

Quaresma é tempo de deserto, para no silêncio interior, com a Palavra, rezar mais e rezar melhor. Sem oração não há mudança, conversão, não cresce a fé, a esperança e a caridade, não se “ordena a vida”, não se consegue “buscar sempre o que mais agrada a Deus”, não temos um “conhecimento interno de Jesus”, um “conhecimento interno do pecado”, um “conhecimento interno de tanto bem recebido”. Sem oração não conseguimos “optar sempre pelo melhor, como não temos força para seguir Jesus e imitá-Lo”, menos ainda para “tornar-nos mais pobres, servos, humildes” que querem viver debaixo da sua bandeira, e não seguir o espírito mundano que é de “riqueza, triunfalismo, vaidade, poder”. Inácio de Loiola foi homem de oração e deixou-nos instrumentos preciosos para rezarmos.

Logo após a graça da sua conversão, a oração torna-se o pão de cada dia de Inácio. Consciente dessa imensa graça se dispõe a crescer num amor mariano e filial que toma conta da sua vida e lhe alcança graças, como o dom duma castidade perfeita. Depois, já em Manresa, para onde partiu logo que se sentiu melhor, rezava cerca de sete horas por dia. Foi em oração, numa noite de vigília de 24 para 25 de março, de pé ou de joelhos, que o peregrino rezou muito e, ao chegar a manhã, entregou à Virgem Negra de Monserrate o seu punhal de cavaleiro, e trocou as vestes de fidalgo pelas de um pobre. Embebido desta oração, alcançou de Deus a graça da visão do Cardonner, pequeno rio que passava perto de Manresa, onde lhe foram concedidas grandes graças místicas. Seduzido por Jesus, desejando imitá-Lo, vive como pobre, come e veste como pobre. Parte para a Terra Santa, com esmolas que pediu, para contemplar e viver nos lugares sagrados. Percebendo que a vontade de Deus era que estudasse, para “melhor ajudar as almas”, inicia os seus estudos até ser ordenado sacerdote.

Entretanto fez uma longa experiência dos Exercícios Espirituais e ia tomando notas das moções que Deus lhe concedia. Depois começa a dar esses Exercícios a outras pessoas. Sabemos que em Paris, enquanto estudante, deu a alguns colegas esse itinerário espiritual de um mês, entre eles, a Francisco Xavier, a Pedro Fabro e a outros. A oração dele e dos companheiros foi ajuda para discernirem a sua oferta a Deus, os votos pronunciados em Montmartre, de castidade, de pobreza, e de ir à Terra Santa. Terminados os estudos, e não podendo ir para a Palestina, rezaram muito e discerniram colocar-se em discernimento sobre o futuro. Deus os encaminhou para Roma e puseram-se ao serviço do Papa.  No caminho, em La Storta, Inácio é agraciado com uma visão do Pai, que diz a Jesus que escolha e acolha Inácio como seu companheiro. O grupo já reunido em Roma, em ambiente de oração, decide fundar a Companhia de Jesus, escolher um Superior Geral, tendo a eleição caído em Inácio. Ainda em oração de súplica e discernimento, começam a escrever as Constituições.

O que nos diz a Autobiografia que Inácio ditou a P. Luís Gonçalves da Câmara e o pouco que nos resta do seu Diário Espiritual, mostra-nos um Inácio orante. Homem de Eucaristia, preparando-a, cada dia, com duas horas de oração e dando ação de graças no fim durante uma hora. Homem que teve a graça de ser contemplativo na vida e sempre que se recolhia conseguia encontrar-se com Deus. Homem que continuou sempre e até ao fim uma particular devoção a Nossa Senhora pedindo-Lhe, sobretudo, que o pusesse com seu Filho.

 

Pontos de oração
Logo após a graça da sua conversão, a oração torna-se o pão de cada dia de Inácio.
Coloco-me em oração em atitude de humildade, pedindo a graça de que este tempo seja para mim alimento transforma o meu coração para que seja mais parecido com o coração de Jesus.

Passo sem pressa por cada um dos pontos propostos, e vou meditando a partir de cada um deles.

1. Buscar sempre o que mais agrada a Deus
Olho para as conversas que tenho tido, o trabalho que tenho feito, o que tenho lido, visto na internet. Onde experimento o toque e o convite de Deus? Onde sinto apelos que me afastam Dele?

2. Seduzido por Jesus, desejando imitá-Lo, vive como pobre, come e veste como pobre
Em que aspetos da minha vida sinto maior necessidade de ser mais parecido com Jesus. Há alguma relação que precise de ser cuidada para que o meu modo de ser seja mais semelhante ao Dele?

3. A oração dele e dos companheiros foi ajuda para discernirem a sua oferta a Deus
Que lugar tem Deus nas pequenas e grandes decisões da minha vida? Como é que deixo que o estilo de vida de Jesus influencie as minhas escolhas?

Termino a oração, em forma de colóquio, como um amigo que fala a outro amigo. Converso com o Senhor sobre o que mais me tocou neste tempo de oração e procuro guardar algum ponto que me tenha trazido mais luz para poder levá-lo ao concreto da minha vida.

Fotografia: Mitchel Willem Jacob Anneveldt – Unsplash

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.