Campo de viajantes

O Campo de Viajantes é uma bonita mistura de peregrinação a pé, montanha e Exercícios Espirituais. Foi uma semana a caminhar pelas zonas onde peregrinou Santo Inácio, até Loiola.

O Campo de Viajantes é uma bonita mistura de peregrinação a pé, montanha e Exercícios Espirituais. Foi uma semana a caminhar pelas zonas onde peregrinou Santo Inácio, até Loiola.

Durante os dias 26 de julho a 1 de agosto, um grupo de universitários, ligados aos vários centros universitários da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, abraçou o convite de percorrer parte do caminho que Inigo, mais tarde Santo Inácio, percorreu. O caminho inaciano completo tem cerca de mil quilómetros e dura aproximadamente um mês a ser percorrido. Vai de Loyola (País Basco) até Manresa (Barcelona). Reproduz o itinerário que o próprio S. Inácio fez no início da sua conversão, “só e a pé” procurando a vontade de Deus para a sua vida. Nós fizemos apenas quatro etapas deste caminho (76 quilómetros ao todo), no sentido contrário, para chegarmos a Loiola.

Fomos 53 viajantes: 47 participantes e 6 membros do staff. Estivemos acompanhados por três sacerdotes jesuítas: P. Carlos Carneiro, sj, P. Pedro Rocha Mendes, sj e P. Pedro Cameira, sj e também por dois noviços, o Rui e o Zé Maria, e ainda uma mamã, a Beatriz. O Campo de Viajantes é uma bonita mistura de peregrinação a pé, montanha e Exercícios Espirituais. Em cada dia tivemos dois grandes tempos de oração em silêncio total precedidos de uma breve proposta espiritual que incluía a leitura da autobiografia de Santo Inácio. Em cada dia também celebrámos a eucaristia e antes de terminar o dia fizemos o exame de consciência inaciano. No fundo, peregrinámos, deslumbrámo-nos com a natureza e exercitámo-nos espiritualmente. Que maravilha!

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Grande parte do caminho fez-se em silêncio, de forma a promover a escuta e o encontro com Deus.

Com saída do Porto no dia 26, a primeira paragem foi em Alda. Nesta pequena aldeia do país basco, pudemos começar a preparação do coração para os dias que se seguiriam. Na homilia, o P. Carlos falava sobre a importância de nos deixarmos conduzir pelo Espírito Santo, procurando discernir a sua ação em nós ao longo do caminho.

De Alda, seguimos para Araia, sendo esta a etapa mais longa do nosso caminho. Neste dia, pudemos dar início às meditações diárias. Grande parte do dia, tal como dos que se seguiram, foi passado em oração pessoal e silêncio, desde os pontos de oração da manhã até à missa ao fim da tarde. Por um lado, cada um caminhou por si mesmo, experimentando o silêncio total que permite a abertura para que Deus nos molde por dentro e por fora, enchendo-nos de moções e emoções. Por outro, ninguém caminhou sozinho, na confiança de que é também através dos nossos companheiros de caminho que Deus nos fala ao coração e nos convida a em tudo amar e servir. Assim, desde o jantar de um dia até aos pontos de oração da manhã do dia seguinte, tivemos sempre a possibilidade de conversar e conviver, partilhando as alegrias, tristezas, dificuldades e maravilhas destes dias. Também nestas alturas, e ao longo do caminho, tivemos tempo para conversas espirituais com os padres que nos acompanharam, de modo a que, seguindo os conselhos de S. Inácio, a experiência de fazer os Exercícios Espirituais não fosse uma experiência desacompanhada.

De Araia, fomos até Arantzazu. Ao contemplar as maravilhas da Natureza ao longo do caminho, fomos sendo surpreendidos pelo esplendor das paisagens do País Basco, ao mesmo tempo que cada um ia contemplando as suas próprias paisagens interiores. Chegados a Arantzazu, pudemos celebrar missa no mesmo local onde Inigo se entregou a Deus, fazendo voto de castidade diante de Nossa Senhora. Aqui, seguindo o percurso dos Exercícios Espirituais, cada viajante fez a sua própria oblação, procurando oferecer-se a Deus de forma total e incondicional.

Contemplar%20as%20maravilhas%20da%20Cria%C3%A7%C3%A3o%2C%20atrav%C3%A9s%20das%20belas%20paisagens%20do%20Pa%C3%ADs%20Basco.
Contemplar as maravilhas da Criação, através das belas paisagens do País Basco.

Na penúltima etapa, percorremos o caminho que liga Arantzazu a Zumarraga. Mais uma vez, percorremos caminhos de uma beleza indescritível que nos proporcionaram um contacto directo com a natureza e com todos os encantos da montanha. Neste dia, para além dos pontos de oração da manhã e da tarde, tivemos um tempo de partilha a quatro sobre a experiência que cada um estava a ter do campo.

Por fim, no dia 31 de Julho, dia de Santo Inácio, chegámos a Loiola, terra de origem do homem que se designava a si mesmo como o Peregrino. Aqui concluímos os Exercícios Espirituais com a contemplação para alcançar amor, onde procurámos agradecer por tanto bem recebido ao longo desta experiência. Tivemos também a oportunidade de visitar a casa de Santo Inácio, guiados pelo próprio, disfarçado de P. Carlos, e ainda celebrar a eucaristia no seu quarto, havendo também tempo de partilha para que cada um pudesse pôr em comum, através de uma palavra, aquilo que mais o marcara ao longo desta experiência. Também em Loiola pudemos celebrar a Eucaristia da Festa de Santo Inácio, na Basílica com o seu nome e saborear, juntamente com a população local, todo o ambiente alegre e festivo daquele dia.

Para mim, Ana, foram dias de crescimento na intimidade com o Senhor, percebendo que há muitas maneiras de rezar, mas uma das mais consoladoras é contemplando as maravilhas da Criação, louvando, agradecendo e saboreando o Deus que nos abraça através delas.

Para mim, António, este Campo foi um tempo de dar graças pela forma como o Espírito Santo me tem conduzido ao longo dos anos e de perceber melhor a importância de ter um coração aberto a Deus e de me colocar inteiramente ao dispôr para que Ele realize a Sua Vontade na “minha” Vida, não temendo ser conduzido por caminhos nunca antes sonhados.

Para nós, enquanto casal de namorados, foi muito bom, belo e verdadeiro podermos fazer juntos esta experiência. Sentimo-nos verdadeiramente agradecidos por todos os momentos, lugares e conversas, sabendo que a melhor forma de os gravar, para sempre, é “guardá-los no coração” e deixar que nos inspirem a querer ‘Em Tudo Amar e Servir’.”

Finalmente, gostaríamos de agradecer à Pastoral Juvenil e Universitária da Companhia de Jesus em Portugal por mais uma magnífica atividade e fazemos votos de que se possa repetir muitas vezes para que outros possam dela usufruir e contemplar a beleza da Criação enquanto aprofundam o conhecimento interno da vida de Santo Inácio, da sua espiritualidade e da pessoa de Jesus.

Grupo que compôs o Campo de Viajantes
Viajantes eram 53, entre os quais três padres jesuítas e dois noviços.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.