Regresso a Assis

Os ecos da sua vida fizeram com que tenha sido eleito, em 1992, pela revista Time como uma das personalidades mais influentes do segundo milénio, ao lado de nomes como Johannes Gutenberg Albert Einstein ou William Shakespeare.

A basílica de Assis converte-nos em testemunhas oculares de episódios que, no passado, tiveram lugar. De ambos os lados da nave, os vitrais multiplicam as tonalidades da vida do santo, Francisco, a caminho de si próprio. Os frescos de Giotto ilustram admiravelmente a vida de um jovem privilegiado que abandonou a sombra da casa, o conforto dos aposentos. “Com um sorriso fatigado, sacudiu-se, para desembaraçar-se de tudo aquilo”[1], em busca de uma vida mais próxima dos outros e da natureza.

Desta única vela, milhares de velas podem ser acesas. Os ecos da sua vida fizeram com que tenha sido eleito, em 1992, pela revista Time, como uma das personalidades mais influentes do segundo milénio, ao lado de nomes como Johannes Gutenberg Albert Einstein ou William Shakespeare. A atualidade da sua mundividência levou a que um Papa no século XXI tenha escolhido, para o seu pontificado, o nome do “ homem da paz, o homem que ama e protege a criação”[2]

O Papa Francisco, ao recordar Assis como lugar de mudança de paradigma e “inspirador de uma nova economia”, endereçou uma carta a jovens empreendedores e académicos, convidando-os a apresentarem propostas, nessa mesma cidade, para uma economia mais humana, inclusi a e sustentável. “É preciso corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito pelo meio ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado da família, a equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das gerações vindouras.”[3] Esta “ecologia integral” constitui o eixo central da Encíclica Laudato Si’ (2015), a primeira que aborda diretamente questões ambientais, alertando para a necessidade de um modelo económico que permita a “sustentabilidade da casa comum”.

Os frescos de Giotto ilustram admiravelmente a vida de um jovem privilegiado que abandonou a sombra da casa, o conforto dos aposentos. “Com um sorriso fatigado, sacudiu-se, para desembaraçar-se de tudo aquilo” em busca de uma vida mais próxima dos outros e da natureza.

Esse encontro tem como objetivo principal estabelecer um diálogo entre jovens de diferentes nacionalidades, procurando uma abordagem integrada no combate à pobreza, sem esquecer a conservação da natureza. O Papa quer ouvir as ideias inovadoras dos jovens, catalisadores de mudança, e, ao mesmo tempo, a reflexão de peritos mais experimentados, como o economista norte-americano  Jeffrey Sachs ou os Prémios Nobel Amnartya Sen e Muhammad Yunus. Será uma semana de debates, workshops e reuniões, organizada pelas Universidades Italianas de maior destaque.

Durante o evento, a cidade de Assis, encontrar-se-á organizada em 12 “aldeias”, cada uma dedicada a um tema de reflexão: trabalho e cuidado; gestão e dom; finança e humanidade; agricultura e justiça; energia e pobreza; lucro e vocação; políticas para a felicidade; desigualdade; negócios e paz; mulher e economia; empresas em transição; vidas e estilos de vida. A Economia de Francisco será, idealmente, uma “incubadora” de ideias, de projetos e networking, onde os participantes darão o seu contributo “para construir outras modalidades de entender a economia e o progresso, para combater a cultura do descarte, para dar voz a quantos não a têm, para propor novos estilos de vida.”3

A iniciativa encontrava-se agendada para os dias 26 a 28 de março de 2020 mas a atual pandemia levou a que, por esses dias, o Papa subisse sozinho os degraus da Praça de São Pedro, numa imagem inesquecível. O evento A Economia de Francisco tem como novas datas 19 a 21 de novembro, para recordar uma vez mais que, na economia ou no mundo, “neste barco, estamos todos”.[4]

Fotografia de Berthold Werner – Own work, Public Domain

[1] Hermann Hesse, Siddhartha.
[2] Entrevista aos jornalistas, 16 de março de 2013.
[3] Carta do Papa Francisco para o evento A Economia de Francisco, 1 de maio de 2019.
[4] Bênção Urbi et Orbi, 27 de março de 2022.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.