O sector das organizações sem fim lucrativos (ou terceiro sector, por oposição aos sectores privado e público) representa quase 10 por cento da massa salarial paga nos Estados Unidos e mais de um quarto dos americanos doaram algum do seu tempo a fins não lucrativos durante o ano de 2019. Em algumas áreas como a saúde, a educação (primária, secundária e superior), as artes e a religião, as organizações sem fins lucrativos são de longe o tipo de organização mais frequente.
Apesar da sua importância, a teoria económica não tem uma boa explicação para a existência destas organizações. Para as empresas, a possibilidade de gerar lucro é razão suficiente para a sua existência. Se separamos os elementos fundamentais para a constituição de uma empresa em capital e trabalho é possível demonstrar que, em geral, o lucro deve ser o objectivo único das empresas desde que estas operem dentro de um ambiente competitivo suficientemente regulamentado. A rentabilidade económica orienta a alocação do capital e permite também a remuneração do trabalho, nomeadamente através de bónus e de incentivos vários.
Para as organizações sem fins lucrativos, o lucro não pode, por definição, ser a sua razão de ser. Mas porque é que estas organizações escolhem abdicar do lucro? As teorias mais recentes propostas pelos economistas apontam para a ausência do lucro como forma de, em primeiro lugar, motivar a doação de tempo e dinheiro e de, em segundo lugar, garantir que as organizações mantêm a qualidade do serviço mesmo quando não há incentivos exteriores para o fazer. Imagine-se, por exemplo, uma ONG criada para distribuir comida aos pobres. Se essa ONG tivesse por objectivo a maximização dos lucros teria grande dificuldade em, por um lado, se financiar através de donativos e, por outro, em se comprometer perante os seus mecenas que a sopa teria sempre a máxima qualidade possível.
As teorias mais recentes propostas pelos economistas apontam para a ausência do lucro como forma de, em primeiro lugar, motivar a doação de tempo e dinheiro e de, em segundo lugar, garantir que as organizações mantêm a qualidade do serviço mesmo quando não há incentivos exteriores para o fazer.
Resta, no entanto, responder à pergunta fundamental: porque é que as pessoas doam dinheiro e tempo? É muito natural para os economistas pensar sobre o “homo economicus” que é motivado por ganhar ou consumir mais. Não parece haver necessidade de justificar essa motivação – toma-se como um dado adquirido. São menos evidentes para um economista as razões de um mecenas que apoia um museu ou dos milhares de pessoas que dão dinheiro nas campanhas para o cancro, para casas de apoio a crianças ou a uma universidade. Pode haver razões puramente egoístas (como perpetuar o nome, por exemplo), mas há também muita gente que doa tempo e dinheiro por razões puramente altruístas. A teoria económica tem muito pouco a dizer sobre estas últimas.
Há quem justifique a existência de actos generosos com a evolução natural da nossa espécie, que favorece a cooperação entre grupos próximos. Ainda assim, o comentário mais frequente por parte dos académicos limita-se a que este tipo de actos dá um bem-estar interior, um “calor” interior para o qual não temos explicação. É possível que os modelos teóricos que temos para os mercados e para as organizações fossem diferentes se fossemos capazes de compreender melhor as motivações por detrás dos actos generosos que vemos à nossa volta todos os dias.
Nota: o autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.