“Dezembro” provém do latim “Decem“, indicando sua posição original como o décimo mês no antigo calendário romano. O calendário foi alterado pelo lunar de Numa Pompílio e posteriormente pelo solar de Júlio César, culminando no formato de doze meses que hoje conhecemos. Dezembro é o mês em que fazemos contas ao vivido e nos comprometemos a melhorar. Além disso, é o mês do Natal, uma festividade central no cristianismo, que celebra o nascimento de Jesus Cristo, trazendo mensagens de esperança, renovação e reflexão. Dezembro é um mês especial.
Porém, quando olhamos para o dezembro que agora vivemos, algo parece estar em contraciclo com a ideia de esperança, de renovação, de advento. Visto a partir do hoje, o futuro de paz e coesão entre nós parece ficção. Guerra na Ucrânia sem fim à vista. Guerra na Palestina. Guerra em Nagorno-Karabakh. Guerra na Síria. Guerra no Iémen. Adicionalmente, a fome é uma realidade para mais de 735 milhões de pessoas globalmente, desafiando a noção de progresso e prosperidade. Enquanto algumas partes do mundo gozam de abundância, outras enfrentam extrema escassez, evidenciando disparidades na distribuição de recursos.
As alterações climáticas constituem outro desafio premente. Apesar do aumento da consciência e esforços para combater este problema, soluções eficazes e sustentáveis ainda estão distantes. As consequências das mudanças climáticas afetam desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis, exacerbando problemas como pobreza e insegurança alimentar.
As desigualdades sociais e económicas permanecem como barreiras significativas. A disparidade na distribuição de riqueza e oportunidades limita o potencial de muitos indivíduos e comunidades. Além disso, a pobreza geracional, onde a desvantagem é transmitida de geração em geração, continua a ser uma realidade persistente, apesar dos avanços tecnológicos e económicos.
A desigualdade de género também se mantém como uma questão crucial. Em muitas partes do mundo, as mulheres ainda enfrentam obstáculos significativos no acesso à educação, saúde, emprego e representação política. Este desequilíbrio prejudica não só as mulheres individualmente, mas também impede o progresso social e económico mais amplo.
Por último, a polarização política tornou-se cada vez mais evidente. Esta polarização frequentemente leva à radicalização de opiniões e à fragmentação das comunidades, dificultando o diálogo construtivo e a tomada de decisões coletivas efetivas.
Este contraste entre o simbolismo tradicional de dezembro e a realidade presente sublinha a necessidade de reflexão, ação coletiva e compromisso renovado para enfrentar estes desafios globais. Ao olharmos para o futuro, é essencial abordar estas questões com determinação e otimismo, características que me parecem estar bem impressas no nosso compatriota António Guterres.
Este contraste entre o simbolismo tradicional de Dezembro e a realidade presente sublinha a necessidade de reflexão, ação coletiva e compromisso renovado para enfrentar estes desafios globais. Ao olharmos para o futuro, é essencial abordar estas questões com determinação e otimismo, características que me parecem estar bem impressas no nosso compatriota António Guterres.
A abordagem de António Guterres como Secretário-Geral da ONU reflete profundamente a importância da esperança e da paz, particularmente nos desafiantes tempos atuais. Movido pela crença de que “há sempre uma candeia dentro da própria desgraça”, Guterres mantém uma fé inabalável na habilidade humana de encontrar luz mesmo nas situações mais sombrias. A sua vida, dedicada a espalhar essa luz através de ações concretas e políticas globais, inspira-nos com a sua bravura e desafia-nos a empreender este mesmo caminho. É possível que a sua formação católica, vivenciada desde jovem enquanto acólito na pequena aldeia de Donas, no concelho do Fundão, tenha sido um alicerce essencial na construção da sua personalidade, moldando-o como um verdadeiro missionário de causas humanitárias.
Ecoando o pensamento de que “há sempre alguém que semeia canções no vento que passa”, Guterres esforça-se para ser a voz que propaga mensagens de paz e união, mesmo quando as circunstâncias parecem adversas. Compreende que, em cada desafio global, reside uma oportunidade para fomentar o entendimento e a colaboração entre as nações, afinal, a única saída para os desafios que enfrentamos.
Na “noite mais triste em tempo de servidão”, quando as crises humanitárias e os conflitos parecem insuperáveis, Guterres tem reiterado a importância de resistir ao desânimo. Encorajando a comunidade internacional a assumir uma postura ativa de resistência contra as injustiças e desigualdades. Tal como os versos de Manuel Alegre sugerem, “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”, Guterres realça a necessidade de enfrentar os desafios globais com determinação e esperança.
Sob a orientação e visão de António Guterres, a esperança e a paz transformam-se de ideais abstratos em metas concretas, alcançáveis através da colaboração, diálogo persistente e medidas decisivas. A sua liderança na ONU serve como um contínuo lembrete de que, mesmo nos momentos mais desafiantes, há sempre um caminho para a esperança e a possibilidade de um futuro mais harmonioso. Guterres, com sua postura e exemplo de liderança, encarna o verdadeiro espírito de Dezembro, um mês que nos inspira a sonhar e acreditar em dias melhores. Como Jesus nos ensinou: “Com fé, tudo é possível”, e é essa fé na humanidade e no poder da esperança que Guterres nos convida a redescobrir nesta época festiva. Se Guterres for bem sucedido nos seus intentos haverá mais e melhor Natal.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.