Exame do Educador Inaciano

Este exercício semanal desafia-nos a pôr constantemente a nossa prática em questão, no desejo do verdadeiro do magis, para que a nossa vida faça sentido e a nossa missão como educadores possa dar mais frutos.

Numa visão cada vez mais integral e humanizadora da educação, a avaliação é parte integrante do processo de desenvolvimento individual de cada aluno, seja como elemento formativo, ajudando-o a tomar consciência da sua aprendizagem, ou como elemento sumativo, atribuindo uma classificação ao seu trabalho, ou ainda como exercício de releitura e interpretação da sua experiência. Todavia, definir a avaliação como parte integrante do processo de ensino-aprendizagem exige também uma reflexão aprofundada sobre os métodos, os instrumentos e os critérios de avaliação, no sentido de responder, de forma holística, a todos os desafios que o desenvolvimento tecnológico e cultural coloca hoje à escola e ao educador. Num mundo cada vez mais global, de acesso imediato à informação e à tecnologia, a avaliação, como exercício hermenêutico, deverá desafiar o aluno a discernir um projeto de vida e a encontrar sentido na dispersão de todas as suas experiências, ajudando-o não só a adquirir competências transversais, mas também a formular e a assimilar critérios de veracidade e princípios éticos.

Neste sentido, fazer do aluno protagonista do seu próprio processo de desenvolvimento integral, ajudando-o a tomar consciência de si, do outro e de um mundo feito de redes globais, implica necessariamente repensar a função do educador: reconfigurar a sua missão, redefinir os seus métodos, escutar as suas preocupações. Por razões diversas, os dados recentes alertam-nos para uma diminuição muito acentuada do número de professores, resultado do número elevado de professores que se reformam ou se irão reformar nos próximos anos, mas também de uma preocupante desvalorização da profissão e da vocação do educador. Normalmente, e com muita justiça, a discussão sobre a profissão docente recai sobre temas como o concurso nacional de colocação de professores, a lei sobre as habilitações para a docências, as tabelas salariais, a burocratização excessiva do ensino, etc. No entanto, sem desvalorizar nenhuma destas razoáveis reivindicações, que estão, sobretudo, nas mãos e vontade de quem nos governa, inspirado pela espiritualidade inaciana, gostava de propor um exercício individual de avaliação para educadores, a que chamo “Exame do Educador Inaciano”, sabendo que o educador inaciano não é só aquele que trabalha numa escola da Companhia de Jesus, mas todo o educador que respira com o pulmão da espiritualidade inaciana e dos Exercícios Espirituais.

Neste sentido, fazer do aluno protagonista do seu próprio processo de desenvolvimento integral, ajudando-o a tomar consciência de si, do outro e de um mundo feito de redes globais, implica necessariamente repensar a função do educador: reconfigurar a sua missão, redefinir os seus. métodos, escutar as suas preocupações.

Para Inácio de Loyola, a expressão “exame” não tem necessariamente um peso classificativo ou um sentido moralista, mas pressupõe um exercício interior de análise e de releitura da experiência vivida. A forma como interpretamos e lemos a nossa experiência determina a forma como vivemos e como reagimos à realidade. Por isso, quando Inácio nos propõe o exame diário da nossa vida, pressupõe uma atitude interior de liberdade e um exercício hermenêutico de escuta atenta do Deus que se revela no meu interior. Dentro do Paradigma Pedagógico Inaciano (PPI) e dos seus cinco momentos – contexto, experiência, reflexão, ação, avaliação –, a avaliação surge como a linha que cose todas as etapas e lhes confere sentido: a síntese da experiência, reflexão e ação. Este exercício do Exame que aqui proponho pretende ser uma ajuda a todo o Educador Inaciano para não estagnar na vida, redescobrindo a sua profissão como missão. A escola é um lugar de vida, de projetos e de sonhos. Como pedagogos, quando, diariamente, na sala de aula ou nos diversos espaços da escola, nos relacionamos com os alunos, não estamos apenas a cumprir uma função ou a encarnar um personagem, estamos a criar possibilidades de futuro e a ajudar seres humanos a serem cada vez mais humanos. Assim, inspirado no exame de consciência inaciano diário, este exercício semanal desafia-nos a pôr constantemente a nossa prática em questão, no desejo do verdadeiro do magis, para que a nossa vida faça sentido e a nossa missão como educadores possa dar mais frutos. Bom Exame.

0. Serenar. Procura o silêncio, aquele que percorre o horizonte ao cair da noite ou que de manhã canta com os pássaros ao despontar o sol. Não feches apenas a boca, abre também os ouvidos, contempla com os olhos e escuta com o coração.

1. Agradecer. Não fico fechado na sala asfixiante da crítica pessimista, respiro fundo, encho os pulmões da liberdade com que Deus me criou e agradeço-lhe a minha semana: agradeço as pessoas, os colegas, os teus alunos, a vida que procuro transmitir, a minha família e amigos, aquilo que sou.

2. Pedir. Peço a Deus – Pai de Amor, Filho que se entrega e Espírito que dá coragem – que me dê luz e entusiasmo, para rever com humildade a verdade da minha vida.

3. Rever. Sem pressa e sem medo, revejo atentamente a minha semana, narrando-me a Deus que me escuta com atenção.

3.1. Começo por rever os meus sentimentos: são bons ou maus? De onde vêm? Destroem-me ou constroem-me? Que situações guardo na memória? Que pessoas me marcaram? Que conversas? Há algum sentimento por alguém que deva analisar com detalhe?

3.2. Em seguida, contemplo as diferentes situações da minha semana: quais as que me trouxeram Paz e quais as que me lançaram na confusão interior? Quais foram as minhas fontes de energia? O que me roubou a Paz? Há alguma situação que precise de serenar? Que momentos de felicidade guardo na minha memória?

3.3. Por fim, tomo consciência das minhas preocupações: O que me interroga? Há algum aluno que me preocupe? Há alguma turma que questione a minha forma de agir? Como posso ser melhor educador? Tenho sido justo nos meus comentários ou deixo a minha falta de paciência falar? Onde nascem as minhas palavras? O que inspira os meus gestos?

4. Reconciliar-me. Diante de Deus que é Pai, reconheço os meus erros e procuro reconciliar-me com Ele, comigo e com os outros. Há alguém que espera pelo meu pedido de desculpas? Há alguém a quem me seja difícil perdoar? Peço a Deus que me perdoe e dê coragem para perdoar.

5. Renovar-me. Como pecador amado e perdoado por Deus, abro-me à esperança, coloco o meu desejo na semana que se aproxima e comprometo-me com Deus a mudar a minha vida: Como posso ser mais agradecido? Como posso melhorar as minhas relações? Como posso ser melhor educador? Como ser construtor da Paz? Escolho um aspeto ou relação a que darei mais atenção na próxima semana.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.