Espelhos de Jesus Ressuscitado

A Páscoa é uma primavera, a Páscoa é encontro, a Páscoa é Paz.

As histórias infantis têm a arte de descrever, de forma simples e pedagógica, ensinamentos que podem ser transversais a outras áreas da vida.

O conto “O gigante egoísta”, de Oscar Wilde, é um exemplo de como uma narrativa infantil pode ser uma metáfora pascal para adultos.

Resumidamente, conta a história de um Gigante que tem um lindo jardim, frequentado por diversas crianças, numa casa que não habita durante anos. No seu regresso, decide expulsá-las e o inverno vem morar no seu jardim.

Um dia, naquele jardim invernoso, o Gigante encontra um menino, que o beija e abraça, e deixa-se transformar interiormente por tamanha ternura.

Os anos passaram, e só quando o Gigante já é muito velhinho, o menino reaparece. O Menino tinha feridas de pregos nas mãos e o Gigante não O reconheceu de imediato. Então, o Menino disse ao Gigante: “Estas são feridas do Amor… Tu deixaste-me brincar uma vez no teu jardim; hoje virás comigo para o meu jardim, que é o Paraíso.”

Esse Menino era Jesus. O mesmo Jesus nascido em Belém; o Jesus que foi cravado na cruz e que ainda revela as Suas marcas da crucifixão; o Jesus glorioso da Páscoa, que está vivo e que continua a transformar a vida dos que acreditam na Sua Ressurreição.

Este é o Jesus Ressuscitado que se nos revela.

Um Jesus que vem habitar os jardins de inverno das nossas vidas. Um Jesus escondido, que se revela, como nas aparições que faz aos apóstolos depois da Ressurreição, com lembranças do tempo vivido na sua humanidade através do partir do pão; da pesca milagrosa; das suas chagas ou na familiaridade com que chama o nome “Maria”. Um Jesus que não é logo reconhecido pelos “seus”. Esse Jesus que vem ao encontro de quem por Ele espera. Esse Jesus que nos amou quando ainda éramos pecadores (Romanos 5,8), e gigantes em egoísmo, e que, com o Seu afecto e sabedoria, transforma os corações e nos faz querer viver uma vida ao Seu jeito de amar.

Esse Jesus que vem ao encontro de quem por Ele espera. Esse Jesus que nos amou quando ainda éramos pecadores (Romanos 5,8), e gigantes em egoísmo, e que, com o Seu afecto e sabedoria, transforma os corações e nos faz querer viver uma vida ao Seu jeito de amar.

Jesus Ressuscitado impele-nos à acção, desafia-nos à missão, tira-nos do nosso cantinho de conforto e incita-nos a ir por todo o mundo a espalhar a Sua palavra. Este todo o mundo não tem de fazer de nós uns expatriados, não é preciso ir para África ou outro lugar qualquer para se ser missionário. É o convite a sermos como Jesus no mundo de cada um, na nossa casa, no nosso trabalho, nas nossas relações.

A alegria da Páscoa é a certeza de que não há inverno que sempre dure, que a dor não é o fim da história, que somos amados com um amor imensurável e que há um jardim no céu à espera de todos e de cada um de nós.

A alegria da Páscoa é a certeza de que não há inverno que sempre dure, que a dor não é o fim da história, que somos amados com um amor imensurável e que há um jardim no céu à espera de todos e de cada um de nós.

São cinquenta dias de tempo pascal, nos quais somos convidados a viver o reflorescimento, uma vida nova.

A ressurreição de Jesus deixa uma transformação admirável na vida dos que n´Ele crêem: a transformação vivida e testemunhada pelos discípulos de Emaús, pelos apóstolos, por Maria Madalena… É o testemunho, que permanece até hoje, da mudança que Deus quer imprimir na vida de cada um: a alegria de se saber vivo quem se ama; a confiança de que o Amor é uma escolha; a paz de quem se sabe acompanhado em todos os momentos.

Jesus revela-se em sinais e, hoje, somos nós os sinais da Sua ressurreição. Somos nós, através dos nossos exemplos de vida, da nossa “fúria” de viver o Amor, que mantemos Jesus vivo e que continuamos, por gestos, a evangelizar.

Depois da Sua ressurreição, as ideias de Paz e de Missão são-nos sugeridas, por Jesus, como caminho e recompensa. Jesus repete insistentemente: “…a Paz esteja convosco”. (Lc 24, 36)

Esta Paz que nos é dada é mais do que uma paz reveladora de uma ausência de guerra. É uma Paz maior do que a sugerida pela lei humana que legisla a ordem das sociedades. Não é a força que se deve impor numa situação de guerra.

A Paz que Jesus nos oferece é uma Paz eterna que começa já hoje, neste mundo. Não é uma promessa de ausência de dificuldades, é um compromisso de presença divina no quotidiano de cada um, quando sofremos e quando estamos alegres, quando a vida flui serenamente ou quando cada alvorada é uma batalha. É sabermo-nos amados. Esta Paz é a força que nos permite dizer, a quem está prestes a largar a vida terrena, um “Vá em Paz”, porque acreditamos que a morte não é o fim.

Não é uma promessa de ausência de dificuldades, é um compromisso de presença divina no quotidiano de cada um, quando sofremos e quando estamos alegres, quando a vida flui serenamente ou quando cada alvorada é uma batalha. É sabermo-nos amados.

A Paz de Jesus é um estado de equilíbrio que nos invade como consequência do amor, da tolerância, do diálogo, da aceitação do outro, do respeito pela diferença e pelos direitos de cada individuo. É, simultaneamente, a serenidade social e a cessação de conflitos, mas apesar de não sermos a Santa Madre Teresa, o Gandhi, o Luther King ou o Nelson Mandela, e não nos ser atribuído um Prémio Nobel da Paz, no nosso coração e nas nossas vidas podemos viver ao jeito de Jesus e, desta forma, sermos testemunhas da Sua Ressurreição e construtores da Sua Paz.

Ao aproximar-se o mês de Maria, vejo-me a contemplar esta mãe, que passou por invernos tenebrosos, a acompanhar o seu filho em todos os momentos da Sua vida. Admiro a virtude do seu silêncio e do seu coração na confiança da primavera esperada, e deixo-me maravilhar pela ternura e alegria do abraço que, Mãe e Filho, terão dado quando se reencontraram depois da Ressurreição.

A Páscoa é uma primavera, a Páscoa é encontro, a Páscoa é Paz.

Se somos hoje testemunhas da Ressurreição, que um “Obrigado Jesus” seja suficientemente revelador da nossa gratidão e que o nosso modo de viver seja espelho da Sua presença no mundo.

 

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.