Meio ambiente e estrelas da música pop na Brotéria de novembro

A par destes dois temas, este mês a revista Brotéria traz-nos artigos sobre ética, descobertas históricas surpreendentes e ainda uma reflexão sobre o impacto da pandemia na liturgia.

Dois pares de temas ocupam uma parte substancial da revista: ecologia e cultura pop.

Sobre a temática ecológica, Paulo de Almeida Sande, a propósito do European Green Deal, afirma que o ambiente não é um exclusivo de qualquer ideologia; e Susana Fonseca, num ensaio sobre os têxteis e a sua sustentabilidade, constata que o atual modelo de produção e de consumo intensivos, aliado à dimensão do setor, transforma-o num dos setores mais relevantes em termos de impacto ambiental.

Duas figuras da cultura pop, David Bowie e António Variações, são alvo de dois ensaios, respetivamente de Rui Miguel Fernandes SJ e de Luís Carlos S. Branco, sobre a ligação desses dois ícones com o religioso. Se é difícil encontrar espaço na obra de Bowie para uma transcendência vertical, há outra forma de transcendência, que nasce da capacidade de se distanciar de si mesmo, que permite uma consciência crítica de si. Já no que se refere a Variações, apesar de ele próprio se assumir como católico e de o cristianismo estar muito presente nos princípios de respeito e de amor ao próximo que advogava, não podemos esquecer que ele o foi à sua maneira, através da inclusão de elementos advindos de outros credos religiosos.

Duas surpresas do ponto de vista histórico unem os ensaios de História e Filosofia. Paulo Figueira apresenta-nos uma figura quase desconhecida, a do médico sefardita português, Samuel Nunes, tio do famoso Ribeiro Sanches, que desembarca em 1733 na Geórgia (EUA). A sua presença foi decisiva para que as autoridades do novo estado autorizassem a construção, em Savannah, da primeira sinagoga sefardita do Sul dos Estados Unidos, ainda hoje existente. Mário Santiago de Carvalho, por seu lado, revela-nos a surpreendente descoberta de que Karl Marx, durante a preparação da sua tese de doutoramento (1839), citou a Física de Aristóteles através da edição dos “Comentários Jesuítas de Coimbra” e justifica por que é que esta obra pôde proporcionar a Marx uma determinada visão dos textos de Aristóteles.

José Frazão Correia SJ reflete sobre o impacto que a atual pandemia está a ter na liturgia, concluindo que só tendo a participação ativa como critério se poderão atravessar as contradições a que os protocolos de segurança expõem atualmente as práticas litúrgico-sacramentais

Francisco Sassetti da Mota SJ, num ensaio de ética, aborda o problema da força, da sua legitimidade e das suas consequências que, sendo um debate recorrente ao longo da história da humanidade, se considerado com seriedade, pode enunciar-se nestes termos: a força faz mal, mas às vezes faz bem, pois alguns recursos à força são violentos, outros não; alguns têm valoração moral, outros não.

A concluir o caderno principal, da autoria de André Luís de Araújo SJ, um texto sobre Clarice Lispector a partir da análise do livro Água Viva – no ano em que se celebra o centenário de nascimento da escritora (1920-1977).

No caderno cultural, para além das habituais propostas de cinema, séries, teatro, exposições, património e livros, destaca-se o Legómena de Pedro Lamares, Dizer Poesia, o mistério, o serviço e a armadilha e o Ensaio Visual de Madalena Meneses, intitulado Tantas vezes digo ao orvalho sou como tu, a propósito da exposição patente na galeria da Brotéria.

Boa leitura!