Lisboa Jesuítica

31 de julho é dia de Santo Inácio. A sugestão da Brotéria deste sábado é que nos aventuremos por um caminho inaciano em Lisboa. Se quiser, pode dividir o caminho em dois ou mais dias... para saborear com mais calma cada um dos locais.

31 de julho é dia de Santo Inácio. A sugestão da Brotéria deste sábado é que nos aventuremos por um caminho inaciano em Lisboa. Se quiser, pode dividir o caminho em dois ou mais dias... para saborear com mais calma cada um dos locais.

1. HOSPITAL DE TODOS OS SANTOS E APOSENTO REAL DOS ESTAUS

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Hospital de todos os Santos destruído pelo terramoto

Localização:  Entre a atual Praça da Figueira e o Rossio.

O primeiro jesuíta português, Simão Rodrigues, entrou em Lisboa a 17 de abril de 1540 e hospedou-se no Hospital de Todos os Santos , para onde foi chamado por D. João III para recuperar de umas febres quartãs.

Daqui passou a umas casas destinadas a Aposento Real, no Rossio, muito perto do palácio dos Estaus, no ângulo noroeste e aqui recebeu Francisco Xavier, quando este chegou de Roma em junho de 1540. Aqui permaneceram os dois jesuítas até Xavier partir para a India a 7 de abril de 1541. Todos estes edifícios ruíram com o terramoto de 1 de novembro de 1755.

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Chegada de Simão Rodrigues e São Francisco Xavier a Portugal, recebidos por D. João III. Pintura de André Reinoso - Sacristia da Igreja de São Roque

 

2.  COLEGINHO DE SANTO ANTÃO O VELHO

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Maquete do Colégio de Santo Antão

Localização: Rua Marquês de Ponte de Lima 

Em plena Mouraria este edifício inicialmente foi uma mesquita e após a expulsão dos mouros por D. Manuel I em 1496 tornou-se um santuário dedicado a N.S. da Anunciada, que em 1519 se transformou num convento de Dominicanas. Pouco depois estas religiosas passaram o mosteiro aos religiosos de Santo Antão, pelo que tomou essa designação. Quando Simão Rodrigues chega a Lisboa já este convento não era habitado. Com a mediação do pregador régio Frei João Soares consegue que D. João III se disponha a cedê-lo à Companhia de Jesus. A 5 de Janeiro de 1542 estando já Xavier a caminho da India, passa com mais seis companheiros para esta casa, que foi a primeiríssima que a Companhia de Jesus teve como própria em todo o mundo. Em fevereiro de 1553 abre nesta casa o primeiro colégio para externos de todas as classes sociais, com o apoio económico do rei, da câmara e de outros benfeitores. Foi inaugurado a 18 de outubro de 1553, com 180 alunos, sendo primeiro reitor, Inácio de Azevedo (que morrerá mártir com 39 companheiros a caminho do Brasil). Por ser pequena e sem possibilidades de ser ampliado veio a ser vendido em 1594 aos Agostinhos.

Em fevereiro de 1553 abre nesta casa [Colégio de Santo Antão o Velho] o primeiro colégio para externos de todas as classes sociais, com o apoio económico do rei, da câmara e de outros benfeitores.

O Coleginho, como passou a ser designado, foi devolvido à Companhia em 1828 aquando do seu breve regresso no reinado de D. Miguel, com a missão francesa do P. Philippe Delvaux, instalando-se aqui o noviciado.  Será de novo confiscado em 1833, com a entrada dos liberais, sendo os jesuítas presos e depois expulsos. É a atual Igreja Paroquial do Socorro.

 

3.       COLÉGIO DE SANTO ANTÃO O NOVO  (atual Hospital de São José)

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Gravura de Colégio de S. Antão o Novo - Atual Hospital de São José

Localização: Hospital de São José – R. José António Serrano, 1150-199 Lisboa
Marcações de visitas para grupos: Drª Célia Pilão – [email protected]

A 11 de Maio de 1579 foi lançada a primeira pedra do novo colégio de Santo Antão-o-Novo na colina de Santa Ana, na chamada Cerca dos Lázaros. Foi construído com o apoio de Cardeal D. Henrique que concebeu a primeira planta com 7 pátios interiores. Os arquitetos que aqui trabalharam foram Baltasar Álvares (arquiteto régio), Silvestre Jorge (irmão jesuíta), Giuseppe Valleriani e Filippo Terzi. Foi inaugurado em novembro de 1593.

Aqui funcionou até à expulsão de 1759 a famosa Aula da Esfera, cuja escadaria nobre e sala ricamente forradas a azulejos (da autoria de António Rodrigues) se pode ainda ver.

Aqui funcionou até à expulsão de 1759 a famosa Aula da Esfera, cuja escadaria nobre e sala ricamente forradas a azulejos (da autoria de António Rodrigues) se pode ainda ver. As paredes da Aula da Esfera representam em azulejo as disciplinas cientificas ali estudadas. Oito painéis formando silhar, (12 azulejos de altura), de composição figurativa e monocromia, azul em fundo branco, com iconografia profana de alegorias alusivas a disciplinas científicas: óptica, geografia, geometria, balística, astronomia: 1. Atlas com coroa de louros, ajoelhado, sustenta o globo terrestre; 2. Figura feminina rodeada de figuras infantis e de instrumentos destinados ao estudo da geometria e geografia; 3. Artes Liberais ligadas às disciplinas científicas; 4. Episódio do cerco de Siracusa em que Arquimedes utiliza espelhos e o reflexo do sol para incendiar a esquadra inimiga; 5. Painel representando duas cenas distintas: Uma figura infantil alada, em pé no mar, faz mover um mecanismo que produz nuvens a partir da evaporação. Esta representação copia minuciosamente uma gravura do livro Imago prima Saeculi Societatis Iesus, publicado em Antuérpia por Joannes Bollandus em 1640; 2ª representação: cena marítima representando três caravelas; na parte superior da composição lê-se a frase POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS. 6. Cena militar com fortificação, infantaria, artilharia; 7. Cena militar: ataque a uma cidade fortificada; 8. Figuras infantis aladas com sólidos geométricos e legenda: UNA TRIBUS RATIO EST. Todos os painéis são delimitados por barras de motivos ornamentais arquitetónicos de gosto rococó de forte impacto decorativo.

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Cena Militar - Aula da Esfera), Lisboa, Portugal. Foto© Luzia Rocha - https://www.revistas.ufg.br/musica/article/view/39625/20173

O Colégio tinha um observatório astronómico que ruiu com o terramoto, juntamente com o zimbório da igreja.

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Maquete da Igreja de Santo Inácio

A igreja, dedicada a Santo Inácio, era a maior de Lisboa, e foi fundada em 1613 por D. Filipa de Sá, Condessa de Linhares (cujo túmulo transferido da igreja se encontra à entrada da sacristia) segundo risco de Filippo Terzi. Dela resta apenas a monumental sacristia. As estátuas que decoram a fachada estavam na desaparecida igreja. Resta a monumental sacristia que se situava por detrás do altar-mor da desaparecida igreja. Após a expulsão dos jesuítas e a destruição o Hospital de Todos os Santos, pelo terramoto foi aqui inaugurado o Hospital de S. José em 1770 (o nome é em honra do Rei D. José).

 

4.       CASA PROFESSA DE SÃO ROQUE

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Igreja de São Roque - João Ferrand/Companhia de Jesus

Localização: Largo Trindade Coelho, 1200-470 Lisboa

A Casa Professa de São Roque foi a primeira que em Portugal estabeleceu a Companhia de Jesus com o fim exclu­sivo de se dedicar aos ministérios apostólicos. Os seus mora­dores eram padres já formados e deviam viver na mais perfeita pobreza, apenas dependentes de esmolas (os colégios tinham rendas próprias e suficientes para o sustento do professorado e conservação dos edifícios)6. Embora a fundação da Casa Professa de Lisboa date de 1542, os jesuítas só se transferiram para a colina de São Roque em outubro de 1553, após a vinda do P.e Jerónimo Nadal, como Comissário Geral da Companhia, enviado a Portugal por Santo Inácio com esse propósito. Foram-lhe indicados cinco locais para a construção do edifício: eram os sítios de Nossa Senhora do Paraíso, do Espírito Santo da Pedreira, de Nossa Senhora do Loreto, de São Sebastião da Mouraria e o de São Roque.

A Igreja aberta ao culto em 1573, foi a primeira que à imitação da igreja do Gesù em Roma foi construída com uma só nave

Nadal decidiu escolher a colina de São Roque e a sua devota ermida. Era uma propriedade que, desde 1401, pertencia à Ordem da Santíssima Trindade e que os padres da Companhia compraram, ficando sempre a pagar foro à Ordem da Trindade. Aqui se instalaram então os jesuítas em duas pequenas e pobres casas térreas, anexas à ermida de São Roque, fundada em 1506. Ao tempo este pequeno templo situava-se fora da muralha fernandina, isolada no meio de olivais. A cerimónia de aber­tura da Casa Professa teve lugar no 1.º domingo de outubro de 1553, à qual presidiu o rei D. João III, com o príncipe D. João, o infante D. Luís e toda a corte, o Arcebispo de Lisboa, D. Fernando de Vasconcelos, e muito povo. Presidiu à celebração da Missa, na antiga ermida de São Roque, o P.e Jerónimo Nadal, Comissário Geral, em representação de Santo Inácio de Loyola, sendo o pregador da cerimónia litúrgica o P.e Francisco de Borja, antigo duque de Gandía, que então se encontrava em Lisboa, e que, subindo ao púlpito da pequena ermida, pregou e comoveu aquela nobilíssima assistência. Este dia ficou memorável na história da Companhia de Jesus. Os religiosos começaram então a habitar as duas casas térreas anexas à ermida, acomodando-se à estreiteza das habitações, enquanto não edificaram uma habitação mais ampla e desa­fogada. Formaram a primeira comunidade da Casa Professa de São Roque sete padres e quatro irmãos, tendo como superior o P. Gonçalo da Silveira.  Nos começos do ano de 1554, passaram a residir nesta casa também o Provincial, P.e Diogo Mirão e o P.e Miguel de Torres, seu assistente. Passou assim a ser a mais importante casa dos jesuítas portugueses, centro das suas atividades apostólicas na capital. Os padres dedicavam-se à Pregação, à administração de sacramentos, ao ensino da doutrina, à instrução de catecúmenos, à assistência aos presos do Limoeiro e Aljube, e ao governo da vasta Assistência de Portugal.

Na sacristia-pinacoteca os ciclos da vida de Inácio e Xavier são da autoria de Domingos da Cunha, O Cabrinha e de André Reinoso.

A Igreja aberta ao culto em 1573, foi a primeira que à imitação da igreja do Gesù em Roma foi construída com uma só nave. Nela trabalharam os arquitetos Afonso Alvares, Filippo Terzi, Baltazar Alvares, Luigi Vanvitelli e Nicola Salvi. Famosa é capela de S. João Baptista edificada por D. João V com o seu precioso tesouro, o teto pintado em madeira da Prússia e a preciosa coleção de relíquias oferecida por D. João de Borja. Acham-se aqui sepultados entre outros o P. Simão Rodrigues (1º jesuíta português), o P. Luís Gonçalves da Câmara (perceptor de D. Sebastião), o grande filósofo Francisco Suarez e D. Tomás de Almeida, primeiro patriarca de Lisboa.

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Maquete da primeira casa Professa dos jesuítas em Portugal

Na sacristia-pinacoteca os ciclos da vida de Inácio e Xavier são da autoria de Domingos da Cunha, O Cabrinha e de André Reinoso.

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Ciclos de vida de Loiola e Xavier - João Ferrand/Companhia de Jesus

Sugestão: Visite o Museu de São Roque 

Consulte aqui horários e preços.

 

5.       NOVICIADO DA COTOVIA

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Noviciado Cotovia

Localização:  Museu Nacional da História natural e da Ciência. 

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Maquete do Noviciado da Cotovia

A casa do noviciado da Cotovia, cuja primeira pedra foi lançada a 23 de abril de 1603, resulta da doação que Fernão Teles de Meneses, Governador da India e do Algarve e Regedor da Casa da Suplicação e sua mulher D. Maria de Noronha (cujo túmulo majestoso se conserva) fizeram de 20 mil cruzados e da sua quinta de Monte Olivete, no sitio chamado da Cotovia. As obras foram dirigidas pelo P. João Delgado e posteriormente pelo arquiteto régio, Baltasar Álvares, que delineou a igreja dedicada a Nossa Senhora da Assunção e inaugurada a 1 de novembro de 1616. O noviciado veio a ser inaugurado a 13 de junho de 1619 com 9 noviços de Coimbra e 6 de Évora. Após a expulsão pombalina, foi aqui instalado o Colégio dos Nobres (1761/1837) e depois a Escola Politécnica e Faculdade de Ciências.

Um especial ponto de interesse será visitar o túmulo de D. Fernão Teles de Meneses, fundador  do noviciado da  Cotovia que esteve emparedado e desmontado até 2011.

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Tumulo de D. Fernão Teles de Meneses,

 

Sugestão: Visite o Museu Nacional da História natural da Ciência 

Consulte aqui os horários e preços.

6.       CASA ONDE NASCEU SÃO JOÂO DE BRITO

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Casa onde nasceu São João de Brito

Localização: Costa do Castelo, 166

João de Brito nasce em Lisboa, na desaparecida freguesia de Santo André a 1 de março de 1647. Não se sabe com exactidão aonde, mas apenas que foi baptizado em casa in articulo mortis (em perigo de vida) e depois a 29 de março desse mesmo ano de 1647, foram-lhe postos os santos óleos na igreja paro­quial de Santo André, desaparecida no terramoto e que então se erguia no espaço hoje ocupado pelo Largo Rodrigues de Freitas, na Costa do Castelo.

Não se sabe com exactidão aonde, mas apenas que São João de Brito foi baptizado em casa in articulo mortis (em perigo de vida)

Uma hipótese, fundada numa antiga tradição e nalguns indicios significativos é a de ter nascido na casa no largo Rodrigues de Freitas ao cimo da Calçada de Santo André, que ocupa o nº 166 da Costa do Castelo. O seu primeiro biógrafo, seu irmão Fernão Pereira de Brito, na vida do santo mártir que publicou 29 anos após a sua morte, apenas diz que nasceu em Lisboa. Num epigrama do Padre Luís Pereira composto aquando do martírio refere que nasceu junto ao Castelo, para depois enaltecer a sua figura dizendo que foi ele a maior torre do próprio castelo (Castello adnatus, natusque in praeli Brittus / Maxima Castello debita turris erat). Joaquim Leitão, que é autor da mais importante publicação que assinalou a sua canonização, em 1947, confirma esta tradição com uma fotografia da casa nº 166 da Costa do Castelo, onde teria nascido e sido baptizado in articulo mortis. Através de uma gravura de 1903, verifica-se que, entretanto, desapareceu o Arco de Santo André que se apoiava num dos cunhais da casa. Segundo parece essa casa teria sido escolhida pela Irmandade do Senhor dos Passos da Graça para albergar o passo da paixão para honrar a tradição de ali ter nascido o santo mártir. Mártir no Maduré em 1693, foi canonizado em 1947.

Consulte o tempo que vai fazer em Lisboa.

Foto de capa: Igreja de São Roque – Pormenor de foto de João Ferrand/Companhia de Jesus

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.


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Esta secção é da responsabilidade da revista Brotéria – Cristianismo e Cultura, publicada pelos jesuítas portugueses desde 1902.

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