Intervalar – Playlist para quem vive sozinho

Para quem está mais sozinho por estes dias, aqui fica uma playlist para dançar e pensar. Estas sugestões são para esses intervalos dançantes, para quando “pensar incomoda como andar à chuva quando o vento cresce e parece que chove mais”.

Para quem está mais sozinho por estes dias, aqui fica uma playlist para dançar e pensar. Estas sugestões são para esses intervalos dançantes, para quando “pensar incomoda como andar à chuva quando o vento cresce e parece que chove mais”.

Quando estiveres sozinho, pensa. Pensar é a melhor coisa que podes fazer quando estás sozinho. Pensamos de menos e aderimos demais. É mais fácil aderir do que pensar. Já está feito, já alguém fez. Andamos por aí com os bolsos cheios de likes para oferecer, sempre a ver que coisas, ideias, imagens estão disponíveis para receber a nossa adesão. Fugimos de pensar, mas pensar faz falta. Quando estiveres sozinho, pensa. Se não pensares, os outros pensam por ti. Não é bom ser nêspera[1].

Mas (há sempre um mas) também não penses sempre. Não é bom estar sempre a pensar. E há sempre coisas menos boas em que temos que pensar mas em que é melhor não estar a pensar sempre. Nessas alturas, dança. Dança contigo. Põe a música a rolar e intervala o pensar com o dançar. Se não puderes dançar, pensa que estás a dançar.

Estas sugestões são para esses intervalos dançantes, para quando “pensar incomoda como andar à chuva quando o vento cresce e parece que chove mais”[2].

 

E começa com esta por razões várias. Porque é injuntiva na mensagem, porque é boa que se farta, porque é impossível não a dançar e porque é um símbolo da fraternidade que me une ao Manuel Fúria, que conheci nos Campinácios há mais de mais de 20 anos e com quem gravei este disco. Façam o que ele manda, sff.

Manuel Fúria e Os Náufragos – Cala-te e Dança

 

 

Pensando melhor (lá está, pensando), será que estamos verdadeiramente sozinhos quando há música?

Morphine – Honey white 

 

Se puderes, vai dançar para a praia. Se não puderes, fecha os olhos e visualiza o sol a cair no mar.

Martha and the Muffins – Echo Beach 

 

And those who were seen dancing were thought to be insane by those who could not hear the music.”[3]

MLER IFE DADA – Zuvi Zeva Novi 

 

É quase domingo e é o movimento dos ombros que vai conduzir o corpo.

Amadou & Mariam – Beaux Dimanches [Dimanche à Bamako]

 

Dançar sem ninguém ver é do melhor que se pode fazer.

Plastic Bertrand – Ça Plane Pour Moi

 

Senta-te à mesa com as tuas limitações. Conversem. Conheçam-se. Aceitem-se. Dancem, formem um belo casal unido e a seguir vão conquistar o mundo.

Serge Gainsbourg et Brigitte Bardot “Bonnie and Clyde” | Archive INA 

 

Quem dança seus males espanta.

13th Floor Elevators – You’re Gonna Miss Me (Original Mono Mix)

 

Desafio: dançar esta sempre que se for ao frigorífico. Sempre a mexer os pés.

Madness – One Step Beyond (Official Video) 

 

Gritar palavrões a plenos pulmões. Berrar “Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico” num espaço aberto em frente ao mar é bem relaxante. Ou apenas LáLáLá Lá LáLáLáLáLá. Em casa também funciona. Os vizinhos não se vão importar. Já testei com os meus.

Iggy Pop – The Passenger (Official Video)

 

Dançar como se ninguém estivesse a observar. Porque, na verdade, não está mesmo ninguém a observar. E isso também é uma grande sorte.

This Charming Man (2011 Remaster) 

 

Dizia ele de manhã em frente ao espelho “Deus estava com a mania das grandezas, sua brasa”. Ridicule is nothing to be scared of.

Adam Ant – Prince Charming 

 

O cérebro não vai parar de produzir pensamentos. Dá-lhe música.

Pixies – Debaser (Official Video) 

 

As segundas-feiras são dias felizes. Alterna o balançar dos ombros com o balançar das ancas.

Happy Mondays – Step On (Official Music Video) 

 

Esta já nem é para dançar, é para andar aos saltos pela casa a libertar pescoço, braços e pernas e pernas ao som destes finlandeses que fazem música tradicional fictícia de uma nação fictícia.  A seguir podem fazer uma sesta ou ir correr para a rua.

Alamaailman Vasarat – Tujuhuju

 

[1] “Uma nêspera / estava na cama / deitada / muito calada / a ver / o que acontecia / chegou a Velha / e disse / olha uma nêspera / e zás comeu-a. / É o que acontece / às nêsperas /  que ficam deitadas / caladas / a esperar /o que acontece”. Mário Henrique-Leiria, “Rifão Quotidiano”, in Novos Contos do Gin.
[2] Fernando Pessoa, “O Guardador de Rebanhos”, in Poemas de Alberto Caeiro.
[3] Há quem diga que a frase é do Nietzsche, mas na verdade ninguém sabe bem de quem é.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.