Comunicar o Sínodo como quem aprende a saborear

Uma das maiores missões da Comissão para a Comunicação é a de que o Sínodo “real” seja o Sínodo “mediático”.

Uma das maiores missões da Comissão para a Comunicação é a de que o Sínodo “real” seja o Sínodo “mediático”.

O Sínodo “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, iniciado solenemente nos dias 9 e 10 de outubro, em Roma, e a 17 de outubro seguinte, em cada uma das Igrejas locais, é já qualificado como “o acontecimento eclesial mais importante depois do Concílio Vaticano II” (Piero Coda, teólogo). Também não é exagerado afirmar que estamos perante o maior processo de auscultação da história da humanidade, já que o Sínodo quer envolver todo o Povo de Deus e todos os homens e mulheres de boa vontade (cf. Vademecum).

Um projeto desta envergadura coloca exigências ao nível de organização e comunicação — organização e comunicação andam sempre de mãos dadas! — também sem paralelo.  É neste sentido que, entre as várias comissões que assessoram a Secretaria Geral do Sínodo — Comissão Teológica, Comissão de Espiritualidade e a Comissão de Metodologia — a Comissão para a Comunicação, que trabalha em estreita colaboração com o Dicastério da Comunicação da Santa Sé, reveste-se de um carácter inédito. Desde logo, porque é a primeira vez que existe uma Comissão do género num Sínodo, o que revela a extraordinariedade deste processo sinodal, que acontece “num contexto histórico, marcado por mudanças epocais na sociedade e por uma passagem crucial na vida da Igreja, que não é possível ignorar”, como se pode ler no Documento Preparatório, e pela inauguração de um processo sinodal novo que passa pela auscultação de todo o Povo de Deus. Ao mesmo tempo, é a assunção da relevância que a comunicação social, e não só, tem em todas as fases de um Sínodo, desde a fase preparatória, passando pela fase de celebração da Assembleia do Sínodo, até à fase de aplicação do Sínodo. Bastaria lembrar, a título de exemplo, três momentos recentes da história da Igreja, o Concílio Vaticano II, o Sínodo sobre a Família e o Sínodo Pan-Amazónico, onde o tratamento jornalístico, de modo particular, foi determinante na elaboração das perceções do público em geral.

Nesse sentido, o empenho e a prioridade de quem tem a responsabilidade da comunicação e/ou de coordenar o processo sinodal nas Igrejas locais e noutros contextos deverá ser no sentido de convidar, motivar, entusiasmar e inspirar as pessoas a participarem no processo Sinodal.

Uma das maiores missões da Comissão para a Comunicação é a de que o Sínodo “real” seja o Sínodo “mediático”. Mas, neste âmbito – e refiro-me ao tratamento jornalístico dado pelos grandes órgãos de comunicação, excluindo os de inspiração cristã –, já deu para perceber, pela revista de imprensa, que uma das grandes dificuldades é entenderem a relevância deste Sínodo. As notícias são escassas, sempre muito coladas aos comunicados de imprensa e as fontes, regra geral, são as agências de notícias. Veja-se, por exemplo, a cobertura mediática dada pelos órgãos de comunicação social portugueses à abertura do Sínodo em Roma. Apenas dois jornalistas portugueses — Octávio Carmo, da Agência Ecclesia, e Ricardo Perna, da revista Família Cristã — foram destacados para Roma, numa parceria estabelecida entre a Agência Ecclesia, a Família Cristã, o Diário do Minho e a Associação de Imprensa Cristã.

À Comissão para a Comunicação — ainda em fase de composição, mas já com doze membros, de diversas proveniências geográficas, estados de vida, com ampla experiência no campo da comunicação e que inclui, naturalmente, membros do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé e da Sala Stampa — entre muitas outras tarefas, foram-lhe confiadas especificamente estas: elaborar para a Secretaria Geral um plano de comunicação para promover a difusão e inculturação de mensagens do Sínodo nas várias culturas e subculturas a nível mundial e através dos diversos canais mediáticos; a criação de um media kit de suporte às várias instâncias eclesiais; a monitorização da atenção dos média sobre o Sínodo e organização de atividades mediáticas por ocasião dos eventos sinodais internacionais e de sessões de media training; em conjunto com os meios de comunicação do Vaticano, divulgar as várias experiências e boas práticas sinodais.

A trabalhar desde o início de setembro, a Comissão para a Comunicação já cumpriu boa parte do caderno de encargos. A página da internet synod.va contém notícias e materiais que podem ser usados livremente por quem quiser, há uma newsletter que vai informando e formando para facilitar a implementação do processo Sinodal, os “Jovens facilitadores das redes sociais” empenharam-se a fundo na produção de grande parte dos materiais que estão a ser usados nas redes sociais e a colaboração com a Rede Mundial de Oração do Papa resultou no recente lançamento de uma nova versão da sua plataforma digital de oração Click To Pray 2.0 (Beta), que contém propostas de oração pelo processo sinodal.

O mais estimulante e entusiasmante em todo o trabalho que a Comissão tem vindo realizar é verificar a onda de criatividade e o empenho das Igrejas locais na produção de materiais que favoreçam a participação de todos, inclusive das crianças.

O mais estimulante e entusiasmante em todo o trabalho que a Comissão tem vindo realizar é verificar a onda de criatividade e o empenho das Igrejas locais na produção de materiais que favoreçam a participação de todos, inclusive das crianças. Veja-se o caso da diocese de Palência, em Espanha, como um caso paradigmático de comunicação. Entre muitos materiais que preparou e disponibiliza num espaço online específico, pediu aos meninos e às meninas da diocese para jogarem ao Jogo do Ganso sobre a Sinodalidade. O que parece uma brincadeira acaba por dar resposta a uma das grandes questões e dificuldades que surgiu na Comissão para a Comunicação quando se reuniu presencialmente em Roma, por ocasião da abertura solene do Sínodo. E a questão basicamente era esta: sendo o discernimento comunitário a questão central e fundamental do Sínodo, como se explica, como se ensina, como se formam as pessoas que não têm qualquer experiência de exercícios espirituais, a fazer o discernimento? Basta o Vademecum? Bastam as formações? Perante isto, alguém se lembrou, e bem, de dizer que a questão se assemelha ao pedido de alguém para lhe explicarem o que é a doçura. Como explicar a diferença entre duas doçuras, por exemplo a do mel e a de uma compota? A resposta é óbvia: aprende-se a conhecer, a distinguir, provando e saboreando. E neste ponto vale apena recordar o que nos diz S. Inácio de Loyola, “não é muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear internamente as coisas” (EE 2, 4).

Nesse sentido, o empenho e a prioridade de quem tem a responsabilidade da comunicação e/ou de coordenar o processo sinodal nas Igrejas locais e noutros contextos deverá ser no sentido de convidar, motivar, entusiasmar e inspirar as pessoas a participarem no processo Sinodal.

Nesta fase inicial do Sínodo, mas o mesmo se pode aplicar a outros âmbitos da vida eclesial, a comunicação na e da Igreja ajuda as pessoas a tocar a orla do manto de Jesus (cf. Carlo Maria Martini), a iniciar um processo. É sempre um serviço humilde!

O diálogo com Jesus, a relação com Ele, o caminho com Ele, a conversão permanente, o ser Igreja, é sempre a resposta a um agir que vai além do agir humano, por muito importante e necessário que seja. É o agir do Espírito Deus, motor do mundo e alma da Igreja.

Fotografia do site do sínodo: synod.va

 

 

 

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.