A guerra começa. E com ela, milhões de questões que eu nunca estive e ainda não estou preparada para discutir, especialmente pela minha falta de conhecimento do contexto e da história destes dois países. Mas há questões que eu coloco – sem que com elas venha uma resposta clara e sucinta –, que nos podem levar a pensar em que Europa vivemos, em que valores acreditamos e que valores assumimos defender quando, talvez, não os defendamos.
Em primeiro lugar, a informação. Todos os dias é-nos dada nova informação, desde os jornais às redes sociais, e sendo um exagero de conteúdos que vai entrando nas nossas vidas e no nosso modo de pensar, contribui para uma ideia pré-concebida que existe um bem que luta contra um mal. Há um lado que sofre e um lado que faz sofrer, sendo muito claro quem, neste contexto, é o bom e o mau. Para além da clara divisão de lados (e não estou de modo algum a defender as ações da Rússia), há também um contexto que não nos é dado. Esse contexto, que mesmo com algum estudo, pesquisa e leitura ainda não compreendo totalmente para poder discutir na sua totalidade, começa muito antes do dia 24 de fevereiro; não foi apenas um dia diferente no qual Putin acorda e decide invadir a Ucrânia. Há uma história entre estes dois países que é longa e deve ser, para além de respeitada, conhecida antes de podermos criticar com argumentos sérios o que agora vemos reportado na televisão.
Há também uma Europa que pode ser colocada em questão. Que Europa é esta, que valores é que esta instituição – da qual eu, como jovem adulta portuguesa, faço parte – defende e serão estes valores os valores que eu identifico como essenciais? O dia 24 de fevereiro mudará a perceção da geopolítica e de uma forma ou de outra da Europa como ela é. Há muita coisa que mudará e que teremos de pôr em questão. Apesar de tantas questões há duas coisas que me parecem certas: a primeira é que a dependência da Rússia, seja face ao gás ou ao petróleo, não é viável, e não devia ser preciso uma guerra para nos fazer pensar nesta questão – para bem do ambiente e também da Europa como um todo. A segunda é que a luta pela liberdade e direitos humanos nunca foi tão importante. O direito da liberdade de escolha e de expressão – quando na Rússia o apoio à Ucrânia é punível por lei – parece ser uma questão fundamental não só a ser discutida, trabalhada e uma luta constante da Europa, mas também do mundo.
Não sei como, ou quando, acabará, mas sei que a forma como reagirmos e olharmos para esta guerra e tudo o que ela implica dar-nos-á uma nova Europa, construída pela necessidade de novos valores e novas instituições. Uma Europa, talvez mudada, mas com um reforço na luta pela liberdade, pelos direitos humanos e com um olhar no futuro longínquo e não apenas no agora.
Temos a possibilidade de questionar que Europa queremos, como europeus, que mundo queremos e como queremos participar, não só como europeus, mas como cidadãos do mundo. O difícil é que ainda há muito para construir, mas a boa notícia é que ainda há muito pelo qual lutar.
Fotografia de Roman Kraft – Unsplash
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.