Quem nunca, numa tarde de verão, se envolveu numa discussão filosófica sobre o estado do mundo?
Nestas férias, num desses momentos, num almoço despretensioso, a conversa desviou para um tema intrigante: qual o papel das empresas na sociedade. Além de gerar lucros, qual a sua responsabilidade para com o mundo à nossa volta?
Este debate oferece uma oportunidade para analisar como pode a responsabilidade social das empresas ser compatibilizada com o Estado Social e o que esperar para o futuro.
A resposta, mais profunda do que imaginávamos, leva-nos a explorar a doutrina social da Igreja. Essa visão mostra-nos que as empresas não são apenas máquinas de fazer dinheiro, mas agentes fundamentais na construção de uma sociedade mais justa e solidária. Sim, o lucro é importante, mas não pode ser o único objetivo. As empresas devem ser agentes de transformação, contribuindo para o bem comum de toda a sociedade.
Imaginemos uma empresa que não só produz bens e serviços, mas que também investe nas comunidades onde está inserida, promovendo o desenvolvimento local. Ou uma empresa que, além de gerar lucro, se preocupa com o meio ambiente, adotando práticas sustentáveis que reduzem o seu impacto na natureza. É exatamente esse o tipo de empresa que a doutrina social da Igreja nos inspira a construir.
Mas como fazer isso na prática? A chave está em dois conceitos indissociáveis e transversais a toda a doutrina que são a subsidiariedade e a solidariedade.
Neste contexto, a subsidiariedade envolve a promoção da autonomia e do desenvolvimento das comunidades locais onde as empresas se inserem. Enquanto que a solidariedade, ou seja, o compromisso com o bem-estar de todos, especialmente dos mais vulneráveis, pode ser realizado através de práticas comerciais que promovam o desenvolvimento comunitário, a justiça social e a assistência aos mais vulneráveis.
A sustentabilidade é outro pilar fundamental dessa visão de empresa. Não basta gerar lucro, é preciso fazê-lo de forma responsável, preservando o meio ambiente para as futuras gerações. A Agenda 2030 das Nações Unidas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) mostram que é possível conciliar crescimento económico com a proteção dos recursos naturais, promovendo a sustentabilidade a longo prazo.
As práticas ESG (Environmental, Social and Governance) têm ganho cada vez mais importância. Ao integrar questões ambientais, sociais e de governação nas suas operações, as empresas demonstram um compromisso com o futuro e com a construção de um mundo melhor.
O crescente foco em critérios ESG e a implementação de regulamentações mais rigorosas vão pressionar as empresas na adoção de práticas que não respondam apenas às expectativas de lucro, mas também contribuam para o bem-estar social.
Para compatibilizar a responsabilidade social das empresas com o Estado Social, é essencial encontrar um equilíbrio entre os interesses corporativos e os objetivos de bem-estar coletivo. A responsabilidade social corporativa (RSC) pode complementar o Estado Social ao fornecer recursos adicionais para iniciativas públicas e apoiar o desenvolvimento social e ambiental. As empresas, por seu lado, devem alinhar as suas práticas de RSC com as políticas do Estado Social, focando-se em áreas consideradas prioritárias ao nível das políticas públicas como a inclusão social ou a sustentabilidade ambiental.
No futuro espera-se que a integração entre responsabilidade social e o Estado Social se aprofunde, por um lado, com o fortalecimento de políticas públicas que incentivem práticas empresariais mais responsáveis, por outro lado, as próprias empresas podem liderar mudanças sociais através de uma atuação responsável e sustentável.
O crescente foco em critérios ESG e a implementação de regulamentações mais rigorosas vão pressionar as empresas na adoção de práticas que não respondam apenas às expectativas de lucro, mas também contribuam para o bem-estar social. Além disso, a cooperação entre o setor privado e o público será crucial para enfrentar desafios globais, como a pobreza e a desigualdade, tornando a integração entre responsabilidade social e Estado Social não apenas desejável, mas essencial para um futuro mais sustentável e equitativo.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.