Educação, curiosidade e humildade

Cultivemos a curiosidade geradora, não cedendo à tentação de a ignorar ou de a tratar como infantilidade para a qual já não temos tempo; acima de tudo, abracemos a humildade, essencial para nos abrirmos às aprendizagens que nos transformam.

1. Palavras iniciais: o que vou escrever não se aplica apenas a crianças e jovens, tradicionalmente vistos como “objetos de educação”; não tem também a ver unicamente com educação formal, escolas e afins, bem pelo contrário; esta minha partilha, no meu entendimento, aplica-se a cada um e cada uma de nós, sem exceção.

2. Tenho para mim que o princípio motor da aprendizagem é a curiosidade. Muitos advogam que seja a necessidade ou o interesse funcional. Outros defenderão outras coisas. Talvez tenham a sua razão; é um ponto de vista. Da minha perspetiva, a curiosidade surge como a chispa que acende o fogo da vontade de conhecer e aprender. Sem ela, a educação torna-se um árido deserto, que desgasta sem piedade, que enterra inúmeras vítimas e que, para aqueles que lhe sobrevivem, passa a significar um lugar de sofrimento ao qual nunca mais querem voltar.

Mas se a curiosidade é o saudável princípio motor, a humildade é a condição essencial para nos tornarmos aprendentes.

3. Mas se a curiosidade é o saudável princípio motor, a humildade é a condição essencial para nos tornarmos aprendentes. Reconhecermos que sabemos e saberemos sempre muito pouco, que as outras pessoas, independentemente da sua situação, são sempre Dom a receber e que a restante Criação é mil vezes mais sábia que nós e nossa principal fonte de aprendizagem, liberta-nos, abre-nos e permite-nos ser Pessoas em perpétuo movimento de aprendizagem, disponíveis para nos questionarmos, nos desmontarmos e nos reconstruirmos. Sem medo(s).

4. Sem humildade fechamo-nos a qualquer tipo de aprendizagem. Porque se já sabemos, o que havemos nós de aprender? Nada. A falta de humildade coloca-nos acima dos outros, menosprezando-os e fazendo-nos perder toda a riqueza e sabedoria que têm para partilhar. Sem humildade somos prisioneiros de nós mesmos, da nossa soberba, e facilmente caímos no julgamento superior e na hipocrisia; a hipocrisia típica dos fariseus e dos doutores da lei.

5. Palavras finais: tenhamos, pois, a coragem de acolher e cultivar a nossa curiosidade geradora, não cedendo à tentação de a ignorar ou de a tratar como infantilidade para a qual já não temos tempo; e, acima de tudo, desçamos da(s) nossa(s) superioridade(s) e abracemos a humildade, essencial para nos abrirmos às aprendizagens que nos transformam e que, assim, transformam quem e o que convive connosco.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.