Ano novo, escola nova?

Utopias? Sem dúvida. Mas sem elas não há mudança. O desafio da mudança é também o desafio da utopia e da crença de que faz sentido e vale a pena tê-la como farol e guia. Talvez que o recuperar da utopia (...) seja o passo que está a faltar.

Em Portugal, para a grande maioria das pessoas (nas quais me incluo), setembro é o mês do regresso, do recomeço. Para tantos e tantas, o início do ano letivo é um marco incontornável e profundamente influenciador. Obviamente que o é para todas as crianças, jovens e adultos matriculados no sistema de ensino (cerca de 2 milhões, em 2017)[1], para todos os docentes desse mesmo sistema (cerca de 180 mil, em 2017)[2] e para todos os outros profissionais que trabalham em contexto escolar, desde os e as auxiliares, passando pelos vários serviços e pelos cargos administrativos (sobre estes não consegui encontrar um número…). Mas também o é para os pais, mães, avôs, avós, tios, tias, amigos e amigas próximas; e para todos aqueles que, não sendo funcionários escolares, trabalham de alguma forma com as escolas (ou nas suas proximidades). Somos muitos e muitas.

Assim, setembro afigura-se-me como sendo o verdadeiro mês de Ano Novo. O início de um novo ano, sempre cheio de desafios, dificuldades e inércias, mas também com as inevitáveis emoções, sonhos e oportunidades de mudança que a ideia de recomeço proporciona. Imbuído deste espírito, permitam-me, desta feita, focar-me na indelével esperança que me assiste: apesar de todos os equívocos, fragilidades, entraves e problemas estruturais do nosso sistema escolar, é possível mudar.

O início de um novo ano, sempre cheio de desafios, dificuldades e inércias, mas também com as inevitáveis emoções, sonhos e oportunidades de mudança que a ideia de recomeço proporciona. Imbuído deste espírito, permitam-me, desta feita, focar-me na indelével esperança que me assiste: apesar de todos os equívocos, fragilidades, entraves e problemas estruturais do nosso sistema escolar, é possível mudar.

Assim sendo, vogando entre o sonho e a utopia, partilho os meus desejos para este novo ano escolar:

Que todos e todas (independentemente do seu papel), ao longo do ano, realizem aprendizagens significativas – isto é, aprendizagens com significado para as suas vidas e realidades concretas;
Que todos e todas construam relações positivas e construtivas com aqueles com quem partilham um mesmo espaço e tempo;
Que todos e todas se possam sentir bem e motivados no seu papel.

Utopias? Sem dúvida. Mas sem elas não há mudança. O desafio da mudança é também o desafio da utopia e da crença de que faz sentido e vale a pena tê-la como farol e guia. Talvez que o recuperar da utopia em relação à escola seja o passo que está a faltar… Talvez que o revestir-nos duma atitude interior coerente com essa utopia seja o motor que pode operar aquilo a que alguns e algumas de nós chamamos de verdadeiros milagres… Talvez que a união destas muitas utopias e atitudes interiores seja o suporte anímico transformador da realidade atual…

Talvez que o recuperar da utopia em relação à escola seja o passo que está a faltar… Talvez que o revestir-nos duma atitude interior coerente com essa utopia seja o motor que pode operar aquilo a que alguns e algumas de nós chamamos de verdadeiros milagres… Talvez que a união destas muitas utopias e atitudes interiores seja o suporte anímico transformador da realidade atual…

Procurando revestir-me desta atitude coerente e aproveitando este espírito de ano novo, partilho também as minhas próprias intenções de mudança:

Como pai, envolver-me mais na vida e nas decisões das escolas da minha filha e do meu filho, encontrando tempo para ir além dos “serviços mínimos” (reuniões de turma, conversas com as professoras, festas, olá e adeus) e dedicando-me a participar, contribuir, partilhar e confrontar (se for caso disso);

Como profissional que trabalha com escolas, procurar fazer-me mais próximo daqueles com quem trabalho, cultivando uma atitude de humildade, constante valorização e aprendizagem;

Como cidadão, manter-me mais atento e informado em relação às questões relacionadas com a educação, em particular com as questões e orientações políticas, procurando acompanhar o debate duma forma aberta e crítica, ouvindo as várias perspetivas e, a partir daí, fundamentando a minha própria opinião.

Utopias? Sem dúvida. Mas sem elas não há mudança.

P.S. Não resisto a um pequeno aparte: nestes meus desejos para o novo ano escolar não incluo propositadamente nada relacionado com o “sucesso escolar”, mantra do nosso sistema de ensino atual e que, como toda a “história única”, me causa urticária – não necessariamente por ser mentira, mas por ser incompleta e, na sua incompletude hegemónica, tornar-se inevitavelmente injusta e opressora.

Textos sobre novo ano letivo: aqui
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[1]              Fonte: Pordata.
[2]              Fonte: Pordata.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.