A educação em revista

Os efeitos nas crianças e nos jovens do encerramento das escolas, suscitado pela pandemia, foi o assunto que mais suscitou reflexão ao longo deste ano.

4A 2 de janeiro, o P. Lourenço Eiró, sj dava como título sugestivo ao seu artigo na secção de Educação o nome de um conhecido filme natalício. “Sozinho em casa II”. Aí estávamos todos de novo nessa altura: confinados em casa. Uns mais acompanhados do que sós, mas todos desanimados, e a maioria das famílias com crianças e jovens em idade escolar a viver novamente dias exigentes e conturbados. Nesse artigo, o jesuíta que trabalhou durante muitos anos nos colégios da Companhia de Jesus deixava algumas dicas para manter o ânimo e a harmonia familiar, mas a preocupação com os efeitos sociais e escolares, a curto e longo prazo, deste segundo isolamento provocado pela pandemia, já estava presente na sua reflexão. E levou o mesmo autor, uns meses depois, noutro artigo a propósito do arranque de um ano letivo que se esperava mais normal do que na verdade se verificou, a saudar o regresso às aulas com entusiasmo, como se se tratasse de uma autêntica ressurreição.

Esta preocupação com os efeitos nas crianças e nos jovens do encerramento das escolas foi-se expressando em muitos artigos do Ponto SJ, ao longo do ano, tanto pela voz de cronistas ligados ao ensino, como daqueles que escrevem mais a partir da sua experiência enquanto pais. Abordou-se o impacto da ausência dos pais dentro das creches na comunicação e relação entre educadores e famílias – análise desenvolvida pelas autoras Rita Brito e Patrícia Dias -, bem como a preocupação com o futuro dos jovens. Além dos efeitos académicos e escolares suscitados por tantos dias passados em aulas virtuais, a dependência dos equipamentos digitais que este isolamento forçado desencadeou em muitas crianças e jovens foi também tema de reflexão e alerta deixado por uma destas duas autoras que afirmava ser necessário combater o isolamento e reaprender a viver em comunidade, cultivando, para isso, a empatia. Uma tarefa que compete à escola, mas também às famílias, para quem foi muitas vezes difícil conciliar o teletrabalho com o acompanhamento dos filhos, deixando-os, por isso, mais entregues às tecnologias.

A missão da escola enquanto espaço de aprendizagem e de crescimento foi também um dos temas que mais reflexão suscitou este ano. Com a autora Joana Alexandre a questionar que espaço é dado à promoção e ao desenvolvimento de competências pessoais, sociais e de vida e outros três autores, Pedro Valente, Maria Helena DamiãoP. Carlos Carvalho, sj, a porem em causa um sistema de avaliação, demasiadamente focado na classificação e na seleção de candidatos ao ensino superior. Uma escola mais interessante, com aulas mais motivadoras e menos trabalhos de casa foi outra “reivindicação” deixada pela autora Sara Borges.

Outro assunto transversal nesta seção de Educação, e que suscitou grande interesse por parte dos leitores, prende-se com a vida em família e a educação dos filhos. Inês Teotónio Pereira foi a autora que mais se debruçou sobre ele, ironizando sobre as dificuldades da vida em casal, sobre a educação na fé dos mais novos e sobre o papel que os pais desempenham no desenvolvimento dos filhos. Mãe, não quero ir à missa foi o artigo que mais interações suscitou no Ponto SJ, com muitos pais a reverem-se na dificuldade expressa pela autora.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.