Globalizar ou Desglobalizar?

Esta semana, a Brotéria recomenda a leitura de A Grande Escolha, o último livro de Adolfo Mesquita Nunes, sobre o maior dilema económico e social dos dias de hoje.

Esta semana, a Brotéria recomenda a leitura de A Grande Escolha, o último livro de Adolfo Mesquita Nunes, sobre o maior dilema económico e social dos dias de hoje.

Adolfo Mesquita Nunes é uma figura singular no panorama político português, e este seu primeiro livro vem reforçar ainda mais essa sua posição. A Grande Escolha é, não só «um livro político, de afirmação de valores políticos» (p. 10), mas também um contributo intelectual importante para o debate e reflexão política presente. O ex-vice-presidente do CDS-PP escreve a partir da sensação socialmente difundida de que estamos «a viver pior do que nos tempos dos nossos avós» (p. 20), que a culpa é da globalização, pelo que temos é de «desglobalizar». A grande escolha dos nossos tempos é decidir se queremos fechar as nossas sociedades ou, pelo contrário, aumentar e melhorar o processo de globalização. Mesquita Nunes não tem dúvidas quanto ao lado em que se coloca, e este livro constitui a sua resposta.

Nos primeiros capítulos, o autor, formado em Direito e especializado em Economia, demonstra como o comércio livre e global beneficiou, não só os cidadãos e a sua qualidade de vida, como também a saúde das democracias liberais. A partir do capítulo 5 e até ao final da obra, concentra-se em sete desafios da globalização: desigualdade, desemprego, salários, habitação, concorrência internacional e dependência das cadeias de valor global, monopólios digitais e justiça fiscal das grandes empresas. Sobre cada um destes sete temas, Adolfo Mesquita Nunes defende as suas ideias, contrariando muitos preconceitos que prevalecem no debate público, nomeadamente sobre o pensamento liberal.

Apenas uma nota para a curta abordagem que é feita sobre as alterações climáticas, considerado «um dos maiores desafios que temos pela frente» (p.320), mas à qual dedica apenas uma pequena parte de um capítulo (pp. 95–113).

Mesquita Nunes convence quanto à resposta que apresenta: é preferível termos sociedades abertas do que fechadas. Fá-lo com base em literatura científica, usa uma linguagem acessível, combina robustez intelectual e coerência ideológica de uma forma exímia. Mas fá-lo com base em pressupostos liberais que levantam uma outra questão igualmente importante: a de discutir esses conceitos, tais como “progresso”, “qualidade de vida”, “liberdade de escolha”, e o seu papel no seio das democracias contemporâneas. Pressupor, por exemplo, que «quanto mais abundante e diversa for a lista de bens e serviços à nossa disposição, mais qualidade de vida teremos» (p.297) merece ser discutido. Estou certo de que Adolfo Mesquita Nunes estará disposto a participar nesse debate.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.


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Esta secção é da responsabilidade da revista Brotéria – Cristianismo e Cultura, publicada pelos jesuítas portugueses desde 1902.

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