Quando me perguntam sobre a minha rotina, a resposta é fácil: FGS. Passo os meus dias a trabalhar na Fundação Gonçalo da Silveira, uma Organização Não Governamental (ONG) para o Desenvolvimento, entidade da Companhia de Jesus. O trabalho da FGS é promover a construção de uma educação de qualidade para todas e todos, desenvolvendo um pensamento crítico capaz de combater desigualdades e injustiças sociais, promovendo o respeito pela dignidade da pessoa, o bem comum e o cuidado com a casa comum, além de procurar uma mudança das situações geradoras de pobreza a nível local e global.
Uma característica importante da FGS é que nunca trabalharmos sozinhos. E isso é libertador e muito motivador! Todas as nossas ações são realizadas em parceria e em rede, tanto a nível nacional como internacional.
Destaco a Rede Xavier, a plataforma jesuíta internacional para o desenvolvimento. No âmbito nacional, a CAS, a Comissão do Apostolado Social dos Jesuítas em Portugal, composta por 30 instituições inacianas representa um universo de mais de 60 mil pessoas, desde os promotores aos beneficiários, sem esquecer os voluntários e colaboradores. A CAS, além das partilhas que promove, serve como uma ponte entre causas e movimentos, entre lutas e projetos, promovendo a construção de um mundo melhor através de parcerias que mudam a realidade que pode ser transformada.
Iniciei esta reflexão a falar de rotinas, porque a nossa vida está cheia delas. A minha segue o ciclo: casa, trabalho, voluntariado, e casa novamente (sem esquecer a família). Alguns dias da semana janto fora com amigos, mas a rotina casa-trabalho só se altera verdadeiramente quando tiro férias. Nesse momento a minha rotina muda e tenho tempo para relaxar, refletir e desligar do trabalho e das responsabilidades que este me traz. Não tenho a menor dúvida de que as férias são cruciais para nossa saúde mental e física, e sei que este tempo de descanso nos ajuda a voltar à rotina com uma visão renovada e uma alegria reforçada para enfrentar os desafios (…) da rotina. Mas, enquanto muitos de nós pensam nos seus destinos de férias – seja praia, campo ou uma cidade diferente – penso em todas as pessoas que não têm essa possibilidade. Penso naquelas que procuro servir com minhas ações, que estão envolvidas nos projetos sociais e educativos da FGS e das obras que constituem a CAS. Muitas dessas pessoas não podem tirar férias das suas situações. Os dias continuam sempre iguais. Lidam diariamente com a falta de recursos e muitas vezes com insuficiência de condições básicas para viver. Estão presas num ciclo de limitações que não se interrompe no verão. Sem esquecer que o descanso é justo e necessário. É importante lembrar que nestes momentos de pausa posso continuar a não ser indiferente à realidade que está à minha volta, posso também refletir sobre como enriquecer a minha missão e a missão da FGS, afinal Deus não tira férias e nossa consciência social também não.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.