Um futuro cheio de esperança

Pela educação formal em colégios e universidades ou pelo acompanhamento em centros, paróquias ou movimentos, os jesuítas são chamados a parar e a escutar os jovens. A anunciar-lhes a alegria de seguir Jesus e pertencer à sua Igreja.

Naqueles anos em Paris, os universitários da Sorbonne viviam admirados e cativados pelo exemplo que Inácio de Loyola, Xavier e Fabro davam pelas ruas da cidade. Depois das aulas, ensinavam os que não sabiam ler, visitavam os doentes, conversavam com prostitutas e indigentes. Foi a sua amizade que despertou noutros o desejo de conhecer Jesus, para mais o amar e servir.

Quase quinhentos anos depois, na Coimbra dos anos 1970s, um grupo de jesuítas ficou conhecido pelo modo como rezavam e sonhavam juntos, pelo modo como partilhavam o que tinham e como falavam de Jesus, até reunir um grupo de universitários que acabou por fundar o primeiro centro universitário dos jesuítas em Coimbra, o CUMN.

E tantos exemplos destes podemos contar em qualquer parte do mundo. É do amor que nasce a confiança. Por isso não admira que tantas vezes, ao ver os jesuítas nos seus ministérios com os mais jovens, possamos quase escutar as palavras que se diziam sobre os primeiros cristãos pelas ruas de Cartago, no séc. II: “Vede como eles se amam” (Tertuliano, Apolog. 39).

Naqueles anos em Paris, os universitários da Sorbonne viviam admirados e cativados pelo exemplo que Inácio de Loyola, Xavier e Fabro davam pelas ruas da cidade.

Desde a sua fundação que a Companhia de Jesus não tem um ministério específico. Antes, é pedido aos jesuítas que estejam onde é mais urgente, necessário e universal, pelo que lhes é exigido um exercício constante de discernimento para encontrar o lugar onde o Espírito de Deus lhes pede que sirvam a Igreja e o Mundo. Por isso mesmo, é uma prática da Companhia de Jesus definir para cada decénio um grupo de prioridades onde os jesuítas se devem entregar e servir de modo particular. Ao final de quase dois anos de discernimento e escuta de tantas realidades presentes no nosso mundo, em 2019 o Padre Geral Arturo Sosa, SJ, definiu quatro preferências apostólicas para toda a Companhia, que foram confirmadas pelo Papa Francisco. As Preferências Apostólicas Universais 2019-2029 dão aos jesuítas e a quantos colaboram com eles na missão um horizonte e uma referência para o modo de anunciar o Evangelho.

Mostrar o caminho para Deus através dos Exercícios Espirituais e do discernimento. Caminhar com os pobres e excluídos do mundo numa missão de reconciliação e justiça. Acompanhar os jovens na criação de um futuro cheio de esperança. Colaborar, com profundidade evangélica, com a protecção e renovação da nossa Casa Comum.

Além de todas as geografias e sociedades, a juventude é um verdadeiro lugar intemporal de encontro e de anúncio da Boa Notícia de Jesus.

Além de todas as geografias e sociedades, a juventude é um verdadeiro lugar intemporal de encontro e de anúncio da Boa Notícia de Jesus. Bem sabemos como se trata da idade para tomar decisões fundamentais de vida, a idade dos sonhos e de os conquistar. E a idade em que se enfrentam os maiores desafios: a insegurança das relações, a fragilidade financeira, as escolhas políticas, a inquietação contra as injustiças e violência que podem levar a caminhos difíceis ou sem saída.

Em todo o mundo, pela educação formal em colégios e universidades ou pelo acompanhamento em centros, paróquias ou movimentos, os jesuítas são chamados a parar e a escutar os jovens. A anunciar-lhes a alegria de seguir Jesus e pertencer à sua Igreja. A maravilhar-se com a sua relação com Deus e com a conversão interior a que se abrem. Acompanhar os jovens é ajudá-los a ver mais longe, é escutar as suas inquietações e as suas ideias, é aceitar o seu rasgo profético para que o futuro seja um lugar de esperança.

Acompanhar os jovens é ajudá-los a ver mais longe, é escutar as suas inquietações e as suas ideias, é aceitar o seu rasgo profético para que o futuro seja um lugar de esperança.

 

Profundamente enraizados no mundo e conscientemente pertencentes à Igreja, os jovens são capazes de anunciar, na linguagem que lhes é própria, a alegria de crer no Evangelho. Talvez por isso, logo em 1984, S. João Paulo II tivesse dito que não foi ele quem inventou a Jornada Mundial da Juventude, mas os próprios jovens. O “Papa de todos” intuiu o desejo dos jovens de se encontrarem e partilhar a fé, independentemente das suas culturas e origens. Bento XVI e Francisco preservaram a intuição de S. João Paulo II e mantiveram as JMJ. Na última, no Panamá, Francisco disse bem alto que não vale esperar pelo futuro para começar a comprometer-se, porque os jovens não são o futuro, mas o “agora de Deus”.

Atentos aos sinais dos tempos, os jesuítas criaram um programa que antecede cada Jornada Mundial da Juventude e que reúne os jovens que pertencem à Família Inaciana. A espiritualidade inaciana é um de tantos carismas que há na Igreja Católica para viver a fé. MAGIS – o mais dos Exercícios Espirituais que nos faz querer encontrar a mais íntima vontade de Deus para nós – é o nome do programa que reúne imediatamente antes de cada Jornada milhões de jovens de todo o mundo que vivem o seu encontro com Deus segundo este modo de proceder inspirado em S. Inácio e nos seus primeiros companheiros.

Que a preparação do MAGIS 2023 seja uma resposta efetiva à prioridade que o Padre Geral Arturo Sosa, SJ, nos pede: a de acompanhar os jovens na criação de um mundo cheio de esperança.

 

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.