A 24 e 25 de Maio, Taylor Swift pisou pela primeira vez um palco em Portugal – tendo começado a sua carreira há 18 anos. Duas noites esgotadas com mais de 120 mil pessoas, um fenómeno que levou os fãs a vestirem-se tematicamente consoante as «eras» – cada álbum lançado tem um estética e tema delineados –, e muitos se perguntam qual o ingrediente secreto.
Diria que há vários ingredientes secretos, e que não são atributos únicos de Swift, mas que juntos formam a superestrela que é hoje. Honestidade, vulnerabilidade, uma vontade de partilha pessoal com o outro, e um assumir sem vergonhas do que fomos, sentimos e vivemos.
Ao longo das 3 horas e 40 minutos de espectáculo, a artista revisita toda sua trajectória musical, interpretando músicas que compôs desde os 16 até os 34 anos. Um dos aspectos mais notáveis do concerto – se não contarmos com a produção –, é a maneira desinibida como Swift e o público revivem emoções passadas, reconhecendo a validade dessas experiências tanto no presente quanto no passado. Através dessa jornada musical, a cantora demonstra o seu crescimento pessoal ao longo de 18 anos, oferecendo ao público uma lição sobre evolução e autodescoberta.
Com a guitarra e o piano, Swift tece uma tapeçaria emocional onde cada música é um fio que une o público – cada um com a sua história –, criando uma conexão íntima e universal. As suas letras reflectem sentimentos profundos e momentos que ressoam com uma autenticidade que transcende a individualidade, convidando a que todos se reconheçam nas histórias que conta. No palco, o diário íntimo da artista abre-se ao público, tornando-se parte de cada um dos presentes, criando um espaço de partilha e empatia, onde a música se torna um elo poderoso que une as pessoas por meio das suas vivências colectivas.
A experiência pessoal torna-se comunitária sem nunca perder a individualidade de cada ouvinte. E torna-se algo irrepetível e único especialmente quando partilhado com 65 mil pessoas, que naquelas 3h40 podiam ser todos amigos. Naquelas duas noites, todos pareciam saber o que a pessoa do lado sentiu quando juntos cantávamos o All Too Well, ou My Tears Richochet. Os fãs cantam músicas que reflectem as suas próprias experiências, e encontram consolo e solidariedade na catarse colectiva.
Não só podemos dizer que «quem canta os seus males espanta», mas também que dentro daquele estádio «cada melodia e cada canto é uma experiência partilhada que deixa ecos.» (Irene Vallejo, Alguém Falou Sobre Nós, p. 66. Bertrand Editora).
Nota: a autora escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.