Sabe bem partilhar!

Falar e ouvir o que os outros têm para dizer tem sido uma enorme descoberta. De que me serve acreditar se não posso falar disso com ninguém?

“Não sabia que eras católica, muito menos que davas catequese!”. Recebi esta mensagem depois de sair a publicação a anunciar que ia escrever para o Ponto SJ, e foi assim que comecei uma tímida troca de mensagens com uma pessoa da minha idade, com quem tinha estado duas ou três vezes e pouco tínhamos falado. Fiquei surpreendida e entusiasmada ao mesmo tempo. Rapidamente as mensagens tiveram a necessidade de se transformar num longo telefonema de três horas.

Até àquele dia, só falava sobre a fé na catequese, nos escuteiros, com pessoas que fazem parte do meu crescimento e que conhecem todo o meu percurso. Aliás, acho que foi a primeira vez que falei abertamente sobre acreditar em Deus e sobre a vida de Jesus com alguém que não conhecia e com quem nunca esperaria vir a ter uma conversa como esta.

Ao contrário de mim, que cresci numa família católica, sempre fui à missa e andei na catequese, a Beatriz só descobriu a fé com 13 anos, e essa foi, talvez, a principal razão que me levou a querer saber mais sobre os nossos caminhos de fé tão distintos. Algumas amigas que temos em comum já tinham comentado comigo que até éramos parecidas e que nos devíamos dar bem. Até este dia, das poucas coisas que sabíamos uma da outra era que eu andava nos escuteiros e ela nas guias. Depois desta chamada ficou ainda mais evidente a quantidade de interesses comuns. Para além de acreditarmos em Jesus, ambas estamos a dar catequese pela primeira vez. No nosso telefonema partilhámos as nossas histórias, as nossas preocupações e até trocámos ideias para dinamizar os encontros com as crianças.

Percebi a importância de estarmos atentos às pessoas que nos rodeiam porque, por vezes, nos sítios mais improváveis, posso vir a ficar surpreendida com as histórias que poderei ouvir e que, sem dúvida, têm tanto para me ensinar.

Já se passaram umas semanas desde este episódio e há algumas frases que continuam a ecoar no meu dia-a-dia e me têm feito refletir. Uma delas é: “quando nos acontece alguma coisa boa queremos contar a toda a gente, partilhar a alegria que estamos a sentir”. Foi assim que a Beatriz me disse que se sentiu quando começou a sua caminhada com Jesus. E foi assim que eu me senti depois de conversarmos demoradamente. Dei por mim, ao jantar, a contar aos meus pais e irmãos tudo o que se tinha passado. A alegria de que a Beatriz falava era agora vivida por mim.

Outra ideia que retive do nosso diálogo, e provavelmente porque estávamos na Semana Santa, foi: “A altura de relembrar o caminho que Jesus fez desde a entrada em Jerusalém até à Sua ressurreição faz-me pensar no meu próprio caminho de fé”. Nas idas para os ensaios do coro para preparar o Tríduo Pascal, mais conversas se proporcionaram com outras pessoas sobre o que nos enriquece no nosso caminho, na nossa fé e enquanto cristãos…

Estas conversas, que se foram somando e multiplicando, têm-me feito crescer e pensar mais em Quem acredito. Falar e ouvir o que os outros têm para dizer tem sido uma enorme descoberta. De que me serve acreditar se não posso falar disso com ninguém? Felizmente tenho tido a sorte de discutir ideias e pontos de vista diferentes com pessoas que sempre foram católicas. Poder fazê-lo agora com quem cruzou o seu caminho com Jesus há pouco tempo tem um sabor diferente, um sabor de curiosidade, de perceber o que levou, neste caso a Beatriz, a aproximar-se de Jesus.

Este encontro inesperado fez-me pensar na quantidade de conversas que já poderia ter tido se dissesse mais vezes que era católica noutros grupos ou noutros contextos…  Percebi a importância de estarmos atentos às pessoas que nos rodeiam porque, por vezes, nos sítios mais improváveis, posso vir a ficar surpreendida com as histórias que poderei ouvir e que, sem dúvida, têm tanto para me ensinar.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.