O regresso às aulas é sempre um tempo importante para todas as crianças e jovens em idade escolar. Para as famílias (e para a maioria da sociedade civil), o ano lectivo marca sempre o recomeço de uma nova etapa. Após um tempo de descanso e de férias, retomam-se os ritmos habituais, volta-se às rotinas, regressa-se ao quotidiano. O tempo de descanso, geralmente passado em família, retemperou as forças do corpo e do espírito, no final de um ano de trabalho.
Recomeçar é sempre um desafio! Faz parte dos nossos ritmos humanos. Significa começar outra vez, com força e entusiasmo renovados. Por vezes, este ânimo de regressar à vida quotidiana não é tão evidente como se pode pensar, já que voltamos a um horário de trabalho, às coisas que nos custam, deixando o tempo de lazer, do convívio e de fazer as coisas que mais nos descansam.
Para tantos alunos, a aproximação do início do novo ano lectivo pressupõe um autêntico recomeço. Em muitos casos, requer a adaptação a uma nova escola, a uma nova turma, a conhecer colegas e professores novos, que irão desafiá-los à construção de relações novas e diferentes, com pessoas que antes não conheciam. Esta adaptação nas relações, requer um esforço de aceitação das diferenças de cada um, construindo laços de amizade com aqueles com quem convivemos diariamente.
As rotinas jogam um papel importante, pois obrigam a um investimento contínuo e constante no trabalho de cada dia, no sentido do crescimento pessoal e comunitário. Retomar rotinas requer um empenho acrescido, pois a pessoa desabituou-se nas férias a cumprir um horário, quer nas aulas, quer nas outras actividades que têm, também elas, um ciclo lectivo. No entanto, as rotinas são fundamentais para manter a disciplina do esforço diário naquilo que consideramos importante.
O recomeço do ano lectivo traz consigo escolhas: que disciplinas vamos ter; em que actividades de complemento curricular nos inscrevemos; em quais grupos vamos participar; etc. Estas escolhas não devem ser feitas apenas com critérios de gosto, apetite ou simples comodismo, mas devem também basear-se em critérios de um maior crescimento, ou um maior serviço, que nos ajudem a crescer como pessoas. Os pais devem ajudar os seus filhos a fazer estas escolhas com critérios acertados: onde podem melhorar ou como podem continuar a crescer, almejando a excelência em todas as dimensões humanas – procurar ser a melhor pessoa que possam ser.
Em relação às actividades, sejam elas desportivas, culturais ou religiosas, educar para a perseverança é igualmente um elemento fundamental. A maioria das actividades dos mais novos envolvem grupos ou equipas, ou seja, outras pessoas. Nunca devemos desistir, só porque não gostei de um treino ou de uma reunião. Se as escolhas foram bem pensadas e discernidas, então deve-se permanecer fiel até ao fim da etapa ou do ano lectivo. Caso contrário, a criança é deixada ao sabor dos seus apetites e não cresce no sentido da responsabilidade. A fidelidade a um compromisso, ainda que requeira um certo sacrifício, contribuirá para um crescimento interior, a par do desenvolvimento exterior que a actividade oferece.
No recomeçar, cada pessoa deve perguntar-se: Quais os desafios que tenho pela frente este ano? Quais os desejos de realização pessoal que sinto? Onde posso dar mais de mim aos outros? Que oportunidades devo agarrar? Estas são perguntas importantes para dar um sentido positivo a tudo aquilo que procuramos fazer. Caso contrário, deixamo-nos levar pelas ondas da moda, pela inércia e passividade, e finalmente, pelas escolhas dos outros e não pelas nossas. Assim poderá esmorecer o entusiasmo, deixando espaço para a preguiça, um mal que ataca quando a pessoa não desenvolve interesses pessoais ou não é dono do seu próprio tempo.
Está nas nossas mãos encarar um novo ano lectivo com esperança! Podemos imaginar todas as oportunidades que irão surgir e que nos ajudarão a crescer. Podemos prever todas as coisas novas que iremos aprender. Podemos ainda preparar-nos para investir nos nossos dons e talentos.
Numa perspectiva construtiva, o critério do serviço aos outros, concretizado na disponibilidade, na entreajuda e na solidariedade, poderá ajudar-nos a recomeçar bem o ano. As experiências de voluntariado, onde tantos jovens investem o seu tempo, descentram-nos do nosso egoísmo e levam-nos a encontrar a verdadeira alegria, na construção de um mundo mais justo e fraterno.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.