O século XX foi considerado, por muitos, o “século da aprendizagem”. Durante este período, assistiu-se a uma grande evolução no conhecimento científico em geral e, em particular a um avanço na compreensão sobre os diferentes processos inerentes à aprendizagem e ao ato de aprender. Não apenas no que diz respeito ao aparecimento de diversas teorias explicativas de como crianças, adolescentes, jovens e adultos aprendem, mas também acerca dos fatores que mais favorecem a aprendizagem; do impacto da aprendizagem a nível pessoal, social e económico; de como promover e ajustar as estratégias em função do desenvolvimento dos indivíduos, percursos de vida, entre outros. Desde as teorias mais clássicas, comportamentalistas, baseadas no treino de reforços, em que o professor devia apresentar os conteúdos em pequenos passos, que os alunos devem treinar e repetir, obtendo um reforço ou uma consequência depois de manifestada a resposta; até teorias cognitivistas, que sublinham o papel ativo do indivíduo e a necessidade de mobilização dos processos cognitivos através da ação para potenciar a aprendizagem. De acordo com esta perspetiva, os professores devem proporcionar situações de aprendizagem através da descoberta, lançando problemas, questionando e desafiando os estudantes, tendo em conta o seu nível de desenvolvimento. Teorias sociocognitivas apontam para o papel dos professores como modelos, salientando não apenas o(s) conteúdo apresentado(s) de uma forma diretiva ou instrutiva, mas também a importância da demonstração, da observação e da modelagem. Teorias mais recentes, designadas construtivistas, valorizam o papel da avaliação e promoção de competências em todo o momento, baseando em experiências significativas, aplicadas a situações autênticas e reais em direção a um nível de maior complexidade. Valorizam o papel ativo do estudante, numa construção que é mediada socialmente. Para além do desenvolvimento teórico e conceptual, durante este período, o século anterior foi notável em termos de desenvolvimento dos sistemas educativos, um pouco por todo o mundo, com a articulação e melhoria das políticas educativas bem como ou o ajustamento a tendências e agendas transnacionais. Ao mesmo tempo, foram-se desenvolvendo estruturas de formação contínua e capacitação dos professores, apostando na melhoria dos recursos e, mais recentemente, a criação de mecanismos de avaliação da qualidade das aprendizagens.
Desde as teorias mais clássicas, comportamentalistas, baseadas no treino de reforços, em que o professor devia apresentar os conteúdos em pequenos passos, que os alunos devem treinar e repetir, obtendo um reforço ou uma consequência depois de manifestada a resposta; até teorias cognitivistas, que sublinham o papel ativo do indivíduo e a necessidade de mobilização dos processos cognitivos através da ação para potenciar a aprendizagem.
Em particular desde a revolução de abril, foram notórios os resultados deste investimento. Progressos em termos de alfabetização, nas qualificações e na literacia(s) em Portugal, que têm sido refletidos em diversos indicadores educativos. No último Education at a Glance, da OCDE, referem-se esses números, dando uma atenção particular ao ensino superior. Nível de ensino, este, que reflete muito do que se fez em termos educativos, mas também dos grandes desafios pela frente. Na base de dados Pordata, percebemos que, no ano em que nasci, eram pouco mais de 83 mil os estudantes que acediam ao ensino superior. Quando entrei no ensino superior já eram mais de 370.000 os estudantes a aceder a este nível de ensino e em 2022 são mais de 433.000 jovens. Se compararmos a diminuição demográfica das últimas décadas, percebemos, ainda melhor, o significado destes dados. Mas os dados da OCDE permitem comparar também o financiamento do ensino superior entre os países, denotando-se um financiamento abaixo da média no ensino superior.
Para além destas questões estruturais e políticas, importa refletir sobre o que mudou em termos de qualidade do ensino, para além dos processos de qualidade, as metodologias de ensino. Neste particular, diversos organismos e investigações apontam para a necessidade de traduzir melhor o avanço do conhecimento em metodologias de ensino baseadas no estudante. Algo previsto no Processo de Bolonha que teve mais dificuldade em ser implementado. Perante a massificação do ensino superior e a diversificação do perfil dos estudantes, importa refletir sobre as metodologias de ensino e em que medida traduzem a melhor oportunidade para aprendizagem e para o desenvolvimento de competências para um contexto tão complexo como o que vivemos na atualidade. Com os desafios da globalização, da pirâmide demográfica, mas especialmente da digitalização, importa criar um contexto de desenvolvimento de competências técnicas, mas também de competências transversais que permitam às novas gerações de estudantes um contributo mais qualificado e crítico em relação aos desafios complexos do nosso tempo.
Conscientes do potencial da formação contínua e da necessidade de atualização de conhecimentos e competências dos professores para lidar com os desafios e dar respostas adequadas às necessidades dos estudantes e das comunidades, esta pode ser uma oportunidade para aprendizagem de práticas mais inovadoras e o desenvolvimento profissional dos docentes, criando contextos mais desafiantes para o desenvolvimento de competências para os estudantes.
A pandemia COVID-19 obrigou os diferentes sistemas, e em particular o ensino superior, a refletir sobre estas questões. Se num primeiro momento se passou por um ensino de emergência, transferindo aulas presenciais para momentos a distância, partilhando materiais e documentos para manter os estudantes orientados com os objetivos de aprendizagem, a experiência permitiu perceber ganhos potenciais muito significativos seja no envolvimento nas tarefas da aprendizagem como na atenção à pessoa para além do estudante. Naturalmente que se identificaram más práticas, como estratégias que não funcionaram, mas as discussões sobre as metodologias de ensino tiveram um momento de viragem. A pergunta que se coloca, como refere um relatório recente da UNESCO (2022), é se neste contexto que acreditamos ser já pós-pandémico se faz um Resuming or Reforming?. Se, passada esta experiência, o que de melhor, mas também de mais difícil se passou, o que se retira para a melhoria do ensino superior, em particular no que diz respeito às metodologias de ensino e de aprendizagem?
Nos últimos meses, foi lançado pelo Programa Operacional do Portugal 2020, um desafio às instituições de ensino superior designado “Skills 4 pós-Covid – Competências para o futuro no Ensino Superior” que visa estimular práticas (ditas) inovadoras de ensino e aprendizagem no ensino superior. Num contexto de grande investimento nas políticas de investigação, talvez se tenha descurado o reforço da formação “pedagógica” dos docentes e possa ser esta uma oportunidade para a melhoria. Conscientes do potencial da formação contínua e da necessidade de atualização de conhecimentos e competências dos professores para lidar com os desafios e dar respostas adequadas às necessidades dos estudantes e das comunidades, esta pode ser uma oportunidade para aprendizagem de práticas mais inovadoras e o desenvolvimento profissional dos docentes, criando contextos mais desafiantes para o desenvolvimento de competências para os estudantes. Para isso, será útil considerar o conhecimento científico sobre a aprendizagem, e não apenas um experimentalismo mais ou menos sustentado, para refletir sobre as práticas, a organização do tempo e do(s) espaço(s) para promover aprendizagens significativas. Estamos longe da estrutura e das regras da sala do Frei Luís de León, que ainda podemos visitar na Universidade de Salamanca, mas importa ir mais longe e articular não apenas as metodologias de ensino e novos desenhos curriculares com modelos de financiamento e políticas educativas que permitam maior proximidade e maior foco no estudante do ensino superior. Para o desenvolvimento de novos líderes, de agentes na mudança social, para um mundo mais fraterno e atento à casa comum, importa refletir sobre as metodologias de ensino e de aprendizagem, mas também o contexto e as políticas que o favorecem.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.