Maus equilíbrios
Porque é que sair tarde do trabalho é socialmente percecionado como algo meritório ou, pelo menos, aceitável? Em diversos países do Norte da Europa passa-se precisamente o contrário.
Porque é que sair tarde do trabalho é socialmente percecionado como algo meritório ou, pelo menos, aceitável? Em diversos países do Norte da Europa passa-se precisamente o contrário.
Há um sentimento de desconforto mais ou menos generalizado. Perante este cenário, uns dizem: é o verniz do ‘politicamente correcto’ a estalar.
É muito mais cómodo não querer ver nem sentir, continuar no sofá a falar de discriminação, acusar os professores e escolas que tentam fazer diferente, em vez de os e as apoiar, acompanhar e ir corrigindo eventuais falhas.
O recente furacão Leslie levou-nos de volta à região centro, devastada pelos incêndios de outubro 2017 e onde pouco ou nada mudou. Que mais furacões serão precisos para reformar um sistema apático, injusto e perverso?
Há que manter a lucidez crítica do nosso ambiente familiar e, como devir civilizacional, peneirarmos o que é de mimetizar e transmitir a gerações seguintes e o que, pelo contrário, podemos interromper e não perpetuar.
Mas como se resolve na prática esta questão, quando não há provas, passaram mais de trinta anos e quando o único “sinal” que temos é a ira do acusado e a tranquilidade do acusador num mundo de agitação estéril que privilegia a primeira e ignora a segunda; ou melhor, que não atribui valor nem a uma nem à outra?
Desconfio verdadeiramente que andamos a sofrer de uma grave falta de empatia. Deixámos de ter a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e de partilhar a sua dor, o seu sofrimento, as suas angústias e os seus dilemas.
Perante os tempos difíceis que se avizinham, que a Literatura não deixe de, corajosamente, nos abrir os olhos, e a Educação consiga curar o mundo da cegueira em que tombou…
As consequências energéticas e humanitárias de um modelo centrado no consumo do maior número de bens pelo menor preço possível são insustentáveis. Precisamos de despertar deste vórtice, e revalorizar a sobriedade.
Dizem algumas correntes de estudos do Património que “Património” devia ser um verbo e não um nome. Assim possa ser entendido com olhos desempoeirados e desassombrados.