Nota editorial: Tendo estado recentemente num encontro de educadores ligados à Companhia de Jesus, o P. Lourenço Eiró substituiu o seu artigo por esta entrevista.
Agniezska Baran foi recentemente nomeada como diretora do Jesuit European Comitte for Primary Secondary Education (JESCE), Comité europeu dos Jesuítas para a educação primária e secundária. Conversámos com ela sobre a sua missão, num encontro que teve lugar recentemente em Loiola.
Foi recentemente nomeada diretora do JECSE. O que é o JECSE e o que faz concretamente?
A diretora do JECSE serve a nossa rede de colégios dos Jesuítas na Europa e no próximo oriente, Egipto e Líbano. O meu trabalho é sobretudo apoiar e coordenar os colégios, para que estejam unidos na missão comum, ajudá-los a serem mais eficazes nessa missão.
Então o JECSE é uma rede dos colégios dos Jesuítas na Europa. Porque é que isso é importante?
Porque nos ajuda a construir a nossa identidade de colégios inspirados pela pedagogia inaciana e a desenvolver a nossa missão comum de educar homens e mulher para e com os outros.
E qual a importância que o JECSE tem para os colégios?
Abre os colégios a um contexto mais alargado do nosso trabalho educativo, para tomarem consciência de que somos parte de uma missão e de uma visão sem fronteiras.
É diretora há 2 meses e meio. Quais são os maiores desafios que tem encontrado?
A nossa rede educativa é a segunda maior no mundo na Companhia de Jesus, depois da região da Ásia-Pacífico. Ao mesmo tempo, é a mais diversa, desde as línguas muito diferentes, as culturas… é um grande desafio saber como conectar e apoiar nessa diversidade. Essas diferenças vêem-se de norte a sul e de oeste a leste da Europa. O problema da secularização, que existe em muitos países, é muito diferente na forma de abordar. As necessidades das várias Províncias Jesuítas são muito diferentes.
Como é que um colégio católico pode educar alunos que não são católicos?
O mais importante são os nossos valores essenciais, desenvolver a pessoa inteira em todos as dimensões e isso é universal, serve para qualquer pessoa. Um casal traz o seu filho para um Colégio Jesuíta porque oferecemos algo único, um nível elevado de educação e um investimento em toda a pessoa. Não se trata apenas das boas notas, ou do aluno ter mais oportunidades ou uma melhor perspetiva de futuro, mas de um ambiente de aprendizagem seguro.
Vem da Polónia. Podia dizer-nos como tem o seu país respondido à crise humanitária de migrantes vindos da Ucrânia, devido à guerra?
Sentimos um pouco de medo, tristeza e ao mesmo tempo raiva em relação ao que está a acontecer na Ucrânia, vendo o sofrimento das pessoas que chegam à Polónia. Já recebemos mais de 2 milhões de refugiados do país vizinho. Alguns decidiram ficar na Polónia e outros decidiram ir para outros países. Perderam tudo e têm que começar de novo. São sobretudo mulheres e crianças que escapam à guerra.
E as pessoas na Polónia têm sido solidárias com os ucranianos que chegam?
Essa é a única parte positiva desta tragédia… vemos como as pessoas têm ajudado tanto! Abrem a porta das suas casas para acolher os que chegam e as famílias ucranianas vivem com as nossas famílias. Tentam apoiar de modos muito diferentes, mas também vemos muita ajuda vinda de outros países.
As crianças têm que ir à escola… O que têm feito os colégios dos Jesuítas na Europa para ajudar?
Têm ajudado a muitos níveis: para as crianças mais novas, têm oferecido atividades de ocupação dos tempos livres, para que as mães possam procurar uma casa ou um emprego; ao mesmo tempo, tentamos comunicar com as crianças e ensinar-lhes a língua local. Também fazem campanhas de recolha de fundos e bens materiais que possam necessitar. Estamos a preparar aulas especiais para alunos ucranianos; procuramos formas de abrirmos o nosso sistema educativo para esses alunos, já que prevemos que esta crise irá ser prolongada e eles terão que continuar os seus estudos. Há ideias para organizar os exames dos alunos da Ucrânia no seu próprio sistema, fazendo-os online. Há ainda cursos online para as diferentes idades, em ucraniano. Em tudo isto, precisam do nosso apoio, pois não têm nada, nem sequer meios para continuar a estudar. Têm de começar de novo.
O que é mais importante dizer aos alunos em tempos de guerra?
Depende da sua idade, mas podemos ajudá-los a entender esta situação, pensando sobretudo nos seus colegas, no seu sofrimento, no que estão a passar. Isso pode causar muitas emoções. Certamente que os alunos migrantes sentem gratidão por tudo o que fazem por eles. Mas ao mesmo tempo também sentem medo, estão tristes, pois não querem estar nas nossas escolas… desejam regressar às suas escolas, às suas casas… daí que devamos apoiar os nossos alunos a ajudar os colegas ucranianos. Eles precisam de tempo, de carinho…
Alguma mensagem final?
É muito bom fazer parte desta rede educativa jesuíta. Encorajo todos a juntarem-se, a participarem, especialmente neste tempo de crise, em que é essencial estarmos unidos. Por favor, rezem pela Ucrânia e pela paz no mundo.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.