O envolvimento dos pais na educação é um dos pilares da educação de uma criança. O envolvimento da família é essencial para que as crianças permaneçam comprometidas com a sua educação – não apenas durante o ano letivo, mas durante todo o seu percurso escolar. O envolvimento bem-sucedido dos pais melhora o comportamento e a frequência da criança, afetando também positivamente o seu desempenho.
Para alguns pais, estar envolvido significa levar ou ir buscar o filho à escola, perguntar se os trabalhos de casa estão terminados, ler uma história, levar um bolo para o grupo de crianças… Isto não quer dizer que estas atividades sejam negativas ou inúteis. Mas a Associação Americana de Psicologia (2014) pede mais – uma responsabilidade compartilhada: “[Pais] e funcionários da escola a trabalhar juntos para apoiar e melhorar a aprendizagem, o desenvolvimento e a saúde de crianças e adolescentes”.
Tive a feliz oportunidade de conhecer uma escola onde acontece precisamente isso: a participação dos pais. Em novembro passado, eu e um grupo de 16 futuras educadoras de infância e professoras do 1.º ciclo do ensino básico visitámos várias escolas, em Málaga. Uma das escolas chamou-nos bastante a atenção.
Para alguns pais, estar envolvido significa levar ou ir buscar o filho à escola, perguntar se os trabalhos de casa estão terminados, ler uma história, levar um bolo para o grupo de crianças…
Esta escola tem grupos de educação pré-escolar (~ 3-6 anos) e 1.º ciclo do ensino básico (~ 6-9 anos). Ao entrar, reparei que havia bastantes adultos a circular pela escola: “são auxiliares”, pensei eu. Após passarmos o portão de entrada, estava um adulto a ensinar três crianças a fazer esculturas de barro. As crianças estavam sentadas em cadeiras, lado a lado, e cada uma tinha à sua frente outra cadeira com uma máquina que tinha em cima um pedaço de argila a rodar e que eles, alegremente, iam esculpindo com as suas mãos. Quando as crianças terminavam, trocavam com outras três crianças.
Sentámo-nos na entrada da escola, pois estava uma temperatura bastante amena. A diretora começou por contar a história da instituição. Há 15 anos era uma instituição dita “normal”, frequentada por crianças de famílias de classe média. Nas habitações ao redor da escola começaram a estabelecer-se famílias de várias etnias e credos, de classe baixa. Os problemas iniciaram-se com desacatos e delitos. As famílias de classe média retiraram os seus filhos daquela escola, mudaram de residência. A escola passou a enfrentar alguns problemas e o ambiente tornou-se difícil. Os professores também não queriam trabalhar ali, pois não sabiam como lidar com as famílias e as suas especificidades. A situação foi-se agravando…
Um dia, a direção colocou mãos à obra! Reuniram-se alguns membros docentes e esboçaram um plano: queriam mudar a escola! O que pensaram fazer primeiro? Queriam chamar os pais à escola. “Como vamos conseguir trazer os pais à escola?!”, questionou a diretora, olhando para nós com um ar preocupado. “Vamos oferecer-lhes doces! Mas agora temos um projeto de alimentação saudável e já não lhes oferecemos doces!”, apressou-se a acrescentar, sorrindo.
Um dia, a direção colocou mãos à obra! Reuniram-se alguns membros docentes e esboçaram um plano: queriam mudar a escola! O que pensaram fazer primeiro? Queriam chamar os pais à escola.
Uma ideia simples e genial: as famílias tinham carências, incluindo de alimentação. Então, ofereceram-lhes comida, nomeadamente doces! Aos poucos, os pais foram entrando na escola, reconhecendo as mais valias desta.
“Eu comecei a perceber que o meu filho estava a aprender a ler e a escrever, que estava entusiasmado!”, disse-nos um pai que entretanto se aproximou de nós.
Então percebi que os adultos que circulavam pela escola eram pais. O adulto que estava a ensinar as crianças a fazer construções com barro era um pai que se ofereceu para estar todo o dia na escola a ensinar as crianças. Os pais entravam e saiam de salas, levavam e traziam grupos de crianças, faziam todo o tipo de tarefas. Nós entrámos nas salas para conhecer o espaço e estava, pelo menos, um pai/mãe sentado no chão a brincar com as crianças ou a contar-lhes uma história. Os pais também se envolvem na manutenção da escola, fazendo arranjos de eletricidade, pinturas, ou mesmo construindo móveis para as salas.
Os pais desta escola permanecem na escola, fazem parte desta. Nesta escola respira-se harmonia e felicidade, ao contrário do que acontecia há 15 anos atrás. As crianças estão felizes, os pais estão felizes e os professores também.
Por isso, sim, é possível os pais fazerem parte da escola!
American Psychological Association (2014). What is Parent Engagement? Retirado de https://www.apa.org/pi/lgbt/programs/safe-supportive/parental-engagement/ em 17/11/2022
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.